Folha de S.Paulo

As descoberta­s do ano

Anualmente a revista Science elege as dez maiores conquistas científica­s

- Drauzio Varella Médico cancerolog­ista, autor de ‘Estação Carandiru’

Todos os anos a revista Science elege as dez maiores descoberta­s científica­s. Por restrição de espaço, selecionei cinco.

As fotos do buraco negro Foi considerad­o o maior avanço científico de 2019.

Buracos negros são corpos maciços, às vezes maiores do que o Sistema Solar inteiro, espalhados pelas galáxias. Suas massas gravitacio­nais são tão descomunai­s que atraem para

seu interior todos os raios luminosos e os corpos celestes que cometem a imprudênci­a de passar por perto.

Como essas colisões emitem ondas gravitacio­nais, os astrônomos puderam detectálas na Terra e comprovar matematica­mente a localizaçã­o desses gigantes que telescópio nenhum visualizav­a.

Em abril de 2019, um consórcio internacio­nal com mais de 200 cientistas —entre os quais alguns brasileiro­s— conseguiu o que muitos considerav­am impossível: revelar a silhueta desses monstros celestes, formada por uma parte central esférica, negra, circundada por um anel luminoso de fótons que entraram em órbita ao redor dela. As fotos foram publicadas no mundo inteiro.

A reconstruç­ão do impacto que extinguiu os dinossauro­s Há 66 milhões de anos, um asteroide gigante se chocou contra a península de Yucatán, no México. O impacto e a atividade vulcânica gerada por ele extinguira­m 76% das espécies presentes no planeta, entre as quais os dinossauro­s.

Apartirde2­016,umprograma internacio­nal extraiu materiais do centro da cratera, situados a uma profundida­de de 835 metros, que incluíram 130 metros pertencent­es ao próprio asteroide. Os dados permitiram reconstitu­ir minuto a minuto os eventos que se seguiram.

Rochas liquefeita­s pelo choque monumental se espalharam pela atmosfera, provocaram intensa poluição e tempestade­s de pedras. As águas do oceano se elevaram e o enxofre presente na região vaporizou. No fim do primeiro dia, os tsunamis espalharam materiais como o carvão, resultante dos incêndios florestais. Em menos de uma hora a atividade sísmica soterrou plantas e animais pelo planeta. A Terra foi resfriada e mergulhou na escuridão.

A despeito da catástrofe, a vida começou a se recuperar rapidament­e. Samambaias e mamíferos não maiores do que os ratos sobreviver­am. Em 30 mil anos o ecossistem­a estava recomposto. Em 100 mil anos já havia palmeiras e mamíferos com o dobro do tamanho.

O homem denisovano

Há quase 60 anos, um monge budista encontrou uma mandíbula numa caverna do Tibet.

Em maio do ano passado cientistas aplicaram uma técnica nova,baseadanaa­nálisedepr­oteínas,quepermiti­uidentific­ara mandíbula como pertencent­e a um homem denisovano, espécie que viveu na Ásia até 50 mil anos atrás, mais ou menos ao mesmotempo­doqueosnea­ndertais europeus. O resultado trouxe à luz esses misterioso­s ancestrais e demonstrou o potencial revolucion­ário de um novo método de análise paleontoló­gica.

Como há traços de DNA denisovano em asiáticos vivos, é provável que denisovano­s tenham viajado para outros continente­s e se miscigenad­o com os neandertai­s e os humanos modernos.

Tratamento para o ebola Em 1976, foi descoberto o vírus ebola, responsáve­l por um surto com alta letalidade, em Yambuku, no Congo. Desde então, ocorreram outros, na África.

Em 1996, cientistas isolaram um anticorpo contra o vírus, no sangue de um paciente que se curou espontanea­mente da doença. Mais tarde, foi obtida outra medicação a partir de anticorpos obtidos em camundongo­s geneticame­nte modificado­s.

Em 2019, saíram os resultados de um ensaio clínico, mostrando que uma combinação desses dois medicament­os foi capaz de curar 70% dos doentes com ebola, enquanto a administra­ção de cada um deles em separado curou apenas 50%. Finalmente, dispomos de um tratamento eficaz.

Bactérias e subnutriçã­o Milhões de crianças subnutrida­s têm dificuldad­e de se recuperar, mesmo depois de bem alimentada­s. Uma década de pesquisas levou à identifica­ção da causa: a imaturidad­e da flora intestinal.

Em 2019, foi descrito um suplemento alimentar barato e fácil de preparar, à base de grão de bico, banana e farinha de soja e de amendoim, dotado da propriedad­e de estimular o cresciment­o de bactérias benéficas nos intestinos dessas crianças.

Um ensaio clínico comprovou que crianças alimentada­s com esse suplemento apresentam concentraç­ões de determinad­as proteínas no sangue, iguais às das bem nutridas que se desenvolve­m normalment­e.

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Líbero

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