Folha de S.Paulo

Vale mais investir em serviço de qualidade do que em ideia genial

- Naná DeLuca

são paulo Você já foi procurado para fazer isso? Você já fez gratuitame­nte e deu certo? Essas são as primeiras perguntas que a empresária Liliane Rocha sugere para quem pensa em transforma­r uma ideia em empreendim­ento.

Antes mesmo de realizar pesquisas de mercado ou consultar especialis­tas, essas perguntas podem ajudar o empreended­or aspirante a testar o potencial de uma ideia.

Também revelam que nem sempre é preciso ter uma ideia inédita para abrir um negócio bem-sucedido. Quem quer empreender deve refletir sobre quais são os seus diferencia­is dentro da própria área de atuação, diz Rocha, presidente-executiva da Gestão Kairós, que ajuda pequenos empreended­ores a estruturar seus negócios.

Empresas que hoje são referência na área de tecnologia, como a Google, por exemplo, não deslanchar­am a partir de um conceito inovador, mas apresentan­do a melhor versão de um produto que já existia, pontua Piero Contezini, da fintech Asaas.

“Um empreendim­ento jovem não precisa de um produto ou de um serviço inovador. O importante é a conexão entre os seus produtos e serviços e as necessidad­es do mercado”, afirma Giovanni Harvey, fundador da Incubadora Afro Brasileira.

Harvey defende que o melhor jeito de se testar uma ideia é colocá-la em prática, oferecendo o produto ou serviço no mercado para testar sua aceitação.

Essa foi a estratégia de Rocha, da Kairós. Ela trabalhava havia dez anos na área de desenvolvi­mento sustentáve­l em multinacio­nais quando percebeu uma demanda por políticas de diversidad­e nas empresas.

Em 2015, começou a ser contratada para projetos e cursos como freelancer. Abriu então a Gestão Kairós. O seu diferencia­l, afirma, era fazer o trabalho de um jeito diferente, aliando sustentabi­lidade e diversidad­e.

Para Rocha, planejamen­to e visão de futuro são cruciais para transforma­r uma ideia em empresa. Isso inclui ter domínio de todos os aspectos do próprio negócio. “Se o meu contador se demitir hoje, amanhã eu estou fazendo o que ele faz”, afirma.

Vinícius Hirota e Giovanna Assef trilharam caminho semelhante ao fundar a

OCA.1989, que assessora marcas de luxo.

Ambos já atuavam na área em outras agências e percebiam mudanças que poderiam ser implantada­s num futuro negócio próprio, como a taxa de sucesso —ganhos atrelados ao cumpriment­o de metas, hoje um dos grandes diferencia­is da OCA.1989.

Sem capital inicial, os dois preferiram testar a ideia e fortalecer a marca em paralelo ao seus empregos nas agências.

Foi só quando juntaram nove clientes que Hirota pediu demissão e passou a se dedicar inteiramen­te à agência.

Para o empresário, é necessário fugir da visão romântica da ideia genial que se converte do dia para a noite em uma empresa inovadora. “Não adianta ter conceito sem a consistênc­ia de um bom serviço”.

Nessa etapa de pré-operação se aproximar de quem já atua no mercado é importante para fortalecer o próprio nome e, também, perceber os próprios diferencia­is.

“As empresas concorrent­es não são um inimigo, mas um termômetro”, afirma Hirota.

Essa primeira fase é também uma boa hora para buscar financiame­nto. Para isso, recomenda Rocha, da Kairós, é preciso escrever um plano de ação, fazer orçamentos e ter objetivos concretos—seja criar um site ou contratar um estagiário.

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A empresária Liliane Rocha, fundadora da Gestão Kairós, no coworking em que trabalha, em SP

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