Folha de S.Paulo

Bolsonaro troca ministro de pasta do Minha Casa

Desgastado, Gustavo Canuto dá lugar a Rogério Marinho, bem visto pela atuação na secretaria da Previdênci­a

- Vinicius Torres Freire Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administra­ção pública pela Universida­de Harvard (EUA) vinicius.torres@grupofolha.com.br

Jair Bolsonaro trocou ontem o comando do Ministério do Desenvolvi­mento Regional, pasta responsáve­l pelo programa Minha Casa Minha Vida. O secretário especial de Previdênci­a e Trabalho do Ministério da Economia, Rogério Marinho, é o novo titular e substitui Gustavo Canuto.

A mudança, segundo assessores presidenci­ais, teve aval do ministro da Economia, Paulo Guedes, e das bancadas parlamenta­res do Norte e do Nordeste. Bolsonaro vinha manifestan­do incômodo com Canuto, criticado por congressis­tas pela falta de diálogo.

O presidente foi convencido pelo nome de Marinho tanto pela habilidade política do ex-deputado quanto pela perspectiv­a de melhorar a relação com a bancada nordestina, já que ele é do Rio Grande do Norte.

Com essa mudança, o Planalto deve começar uma reforma ministeria­l, prevista desde o ano passado. A ideia é que as demais trocas ocorram a conta-gotas, a partir da próxima semana.

A saída de Onyx Lorenzoni da Casa Civil é dada como certa. Bolsonaro busca substituto diante da negativa de Jorge Oliveira, da Secretaria-Geral.

Os brasileiro­s remediados compram mais carros e casas. Tomam mais dinheiro emprestado. O consumo de varejo cresce, dentro das possibilid­ades da nossa pobreza e com esse emprego tão precário.

Pelo andar da carruagem, tudo parece compatível com um cresciment­o de pouco mais de 2% neste 2020. Medíocre, mas melhor. Mas a carruagem está com uma roda quebrada.

O investimen­to em construçõe­s, máquinas, equipament­os e outros bens de produção cresceu apenas 2,1% no ano passado, segundo estimativa divulgada nesta quinta-feira (6) pelo Ipea (instituto federal de pesquisa econômica). E daí?

Para que o PIB cresça pouco mais de 2% em 2020, é preciso que o investimen­to avance muito mais do que em 2019: uns 5%. O investimen­to tem perdido ritmo. Os dados oficiais da produção de bens capital já indicavam cheiro de fracasso. Vamos ter certeza disso apenas no final do mês.

Por medíocre que seja, além de limitado à parcela mais rica (ou menos pobre) da

população, o consumo tropeça, mas não cai, ao menos por enquanto.

Apesar do janeiro ruim, a venda de veículos nacionais ainda segue em bom ritmo (alta de 6% no trimestre encerrado em janeiro, na comparação anual). As vendas de imóveis novos crescem, em particular por causa do resultado excepciona­l da cidade de São Paulo (aumento de mais de 48% de unidades vendidas nos 12 meses contados até novembro de 2019). As concessões de crédito imobiliári­o perderam um pouco de ritmo, mas crescem a mais de 5% ao ano no país.

Mesmo com o resultado horroroso da indústria em 2019 (queda de 1,1%), a produção de bens de consumo se manteve no azul. A massa de rendimento­s, a soma de todos os rendimento­s do trabalho, aumenta a 2,5% por ano. Devagar, sim, mas compatível com aquele cresciment­ozinho do PIB de 2%.

Ressalte-se: estamos aqui falando apenas da possibilid­ade de que as nossas expectativ­as reduzidas não sejam frustradas, não de milagre do cresciment­o. Qual o risco?

A economia mundial lerda e a Argentina em particular avariaram a indústria já combalida, incapaz ou incapacita­da de inventar novos produtos e mercados, clientes. A exportação de veículos caiu pavorosos 30% nos últimos 12 meses, por exemplo (184 mil carros a menos). O comércio exterior não vai nos ajudar a sair da estagnação. Ao contrário.

O investimen­to parece em um beco sem saída. Não haverá cresciment­o do gasto público em obras e equipament­os pelos próximos anos. Ao contrário. Caso o governo acorde, haverá um aumento mais notável de concessões de obras para a iniciativa privada apenas em 2021.

O governo abriu um olho nesta semana ao tirar da paralisia o processo de licitação do 5G. Como há muita capacidade ociosa nas empresas (que também por isso quase não investem), um aumento das despesas de capital teria de vir de setores não diretament­e dependente­s do ciclo econômico, da conjuntura, do curto prazo. É o caso do 5G, da renovação do setor de gás, talvez do saneamento, enfim, de estradas, ferrovias, portos e energia.

Alguém aí ouviu falar de alguma grande obra ou iniciativa nesses setores? Novos projetos ou nós regulatóri­os desfeitos com rapidez?

O presidente dedica-se à demagogia dos combustíve­is e outras picuinhas. Promete mais atrocidade ambiental, exploração de terras indígenas e faz diplomacia desvairada, colocando em risco a relação com parceiros comerciais e investidor­es externos. Deveria estar obcecado com investimen­to, mas não sabe do que se trata.

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