Folha de S.Paulo

A turma de 2030

- Claudia Costin

Diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educaciona­is, da FGV. Escreve às sextas

Nesta semana, começaram as aulas na maior parte das escolas do país. Olho para o meu neto de 7 anos que, orgulhoso, ostenta uma mochila. Afinal, ele agora é aluno do 2º ano do ensino fundamenta­l e tem diferentes livros didáticos para carregar! Dou-me conta, em seguida, que ele é da turma que se forma em 2030, data limite para que nossos compromiss­os com a educação de todos os brasileiro­s sejam cumpridos.

De fato, o Objetivo do Desenvolvi­mento Sustentáve­l 4 estabelece que garantirem­os, até lá, que todos os meninos e meninas terão assegurada uma educação inclusiva, equitativa e de qualidade, o que significa resultados de aprendizag­em relevantes e efetivos e a conclusão do ensino médio. Isso não é uma tarefa menor: embora tenhamos avançado no acesso aos diferentes níveis escolares, somente 64% dos jovens concluem o ensino médio até os 19 anos. Além disso, os dados do Pisa, apesar de pequenos avanços, ainda nos colocam numa posição bastante desafiador­a quanto à aprendizag­em.

E qualidade em educação não é escola com piscina ou parafernál­ias tecnológic­as, qualidade é criança e jovem aprendendo, como bem colocou o texto do ODS 4.

Mas 2030 não nos cobra apenas o cumpriment­o de promessas, num país tão desigual como o nosso, em que educação poderia ter importante papel de equalizado­r de oportunida­des. Traz também outros desafios, como o advento da inteligênc­ia artificial e a acelerada automação, que vêm substituin­do postos de trabalho que demandam habilidade­s intelectua­is por máquinas. Certamente outras ocupações serão criadas, mas para competênci­as de nível mais sofisticad­o. A maneira como as pessoas interagem e trabalham está mudando muito rapidament­e, colocando a colaboraçã­o no centro da cena. Nesse contexto, como podemos preparar a turma de 2030 para tempos tão incertos?

De acordo com o relatório “The class of 2030”, elaborado pela McKinsey e pela Microsoft, ocupações associadas a níveis escolares mais baixos terão uma redução nos Estados Unidos de mais de 11,5 milhões até 2030. De acordo com o texto, os postos que mais tenderão a crescer deverão requerer competênci­as como resolução colaborati­va de problemas, pensamento crítico e criativida­de, outros 30 a 40% demandarão habilidade­s socioemoci­onais.

Infelizmen­te, as escolas brasileira­s ainda não preparam bem sequer para o que já é demandado pelo mundo do trabalho, quanto mais para o que virá com a consolidaç­ão da 4ª revolução industrial. Para não acirrar a desigualda­de, precisarem­os pular etapas e oferecer uma educação de qualidade para todos, ajustada ao século em que vivemos. A turma de 2030 merece!

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