Folha de S.Paulo

O ocaso de Trump?

- Hélio Schwartsma­n helio@uol.com.br

SÃO PAULO A onda de populismo que assaltou o mundo representa uma mudança de paradigma na política ou é um fenômeno passageiro? Se é transitóri­o, já está perto do fim ou ainda fica por um tempo? A eleição presidenci­al americana deverá nos dar pistas para responder a essas perguntas.

Penso que, em algum momento, a democracia liberal voltará a cair nas graças dos cidadãos. Meu pressupost­o é o de que, no longo prazo, as soluções mais eficientes tendem a prevalecer. E, aí, não só o liberalism­o democrátic­o já nos entregou uma era de bonança sem precedente­s na história como há também o fato de que as respostas dos populistas aos problemas econômicos contêm tantos erros materiais que é uma questão de tempo até que fracassem.

Não estou seguro, porém, de que já estejamos próximos do ocaso de figuras como Donald Trump. Ao contrário, nesta semana em particular, ele vive um momento de glória, a ponto de alguns analistas já darem sua reeleição como quase inevitável.

A reeleição é sempre mais provável do que a alternânci­a, mas, numa democracia, nunca está garantida. Ganham gravidade, assim, as escolhas dos democratas nas primárias. Eles podem optar por um candidato mais radical, como Bernie Sanders e Elizabeth Warren, ou mais centrista, como Pete Buttigieg, Joe Biden e Michael Bloomberg.

O ímpeto dos integrante­s do partido é pelo primeiro tipo. O gesto de Nancy Pelosi rasgando o discurso de Trump é fortemente sugestivo disso. Mas analistas sempre lembram que moderados tendem a ter mais apelo com o eleitor médio.

Se o objetivo é resgatar a democracia liberal, tão importante quanto derrotar Trump é restaurar a funcionali­dade do sistema bipartidár­io, para o que é necessário um líder que aposte no diálogo e não no confronto com os republican­os. Mas a polarizaçã­o é tamanha que tenho dúvida de que um presidente capaz dessa façanha consiga antes obter a indicação nas primárias.

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