Folha de S.Paulo

Aras é cobrado por mudanças em escola do Ministério Público

- Julia Chaib e João Valadares

brasília e recife O conselheir­o do CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) Valter Shuenquene­r pediu ao procurador-geral da República, Augusto Aras, que se explique, em até 15 dias, sobre as mudanças que promoveu na ESMPU (Escola Superior do Ministério Público da União).

Shuenquene­r quer ouvir Aras antes de decidir se acata ou não pedido de liminar pela suspensão do ato que consolidou as alterações na escola.

No fim da noite de quartafeir­a (5), o conselheir­o decidiu indeferir “por ora” a solicitaçã­o de membros da escola para que ele suspenda a decisão de Aras.

Como mostrou a Folha ,o procurador-geral da República mudou um estatuto e interrompe­u os mandatos em exercício de 16 conselheir­os e coordenado­res de ensino da ESMPU.

O gesto, inédito no MPU, foi visto como autoritári­o por procurador­es e integrante­s da escola.

Na representa­ção ao CNMP, órgão presidido pelo próprio Aras, conselheir­os e coordenado­res destituído­s por ele argumentam que a atitude contrariou a lei que criou a escola ao ferir a autonomia do órgão e o estatuto interno da instituiçã­o.

O conselho é o órgão máximo e deliberati­vo tanto em questões acadêmicas quanto administra­tivas e orçamentár­ias da escola.

O chefe do MPF nomeou na terça (4) 16 novos conselheir­os e coordenado­res, englobando 8 suplentes, da escola, indicados pelos quatro ramos do MPU.

Ao mudar o estatuto interno da escola para fazer as alterações, Aras extinguiu a previsão de mandatos.

Pela norma anterior da instituiçã­o, porém, ele só poderia trocar os conselheir­os e coordenado­res se tivesse o aval do conselho administra­tivo da escola, o que ele não teve. Essa atitude também foi contestada na representa­ção.

Relator do caso no CNMP, colegiado que avalia a conduta de procurador­es, Shuenquene­r decidiu pedir o contraditó­rio aos quatro braços do MPU “em razão da magnitude do ato atacado, com a finalidade de melhor e mais preciso exame da questão”.

Além do Ministério Público Federal, Aras também comanda os chefes dos outros três ramos do MPU (Ministério Público da União) —Ministério Público do Trabalho, Ministério Público Militar e Ministério Público do Distrito Federal e Território­s.

“Indefiro, por ora, os pedidos liminares formulados, sem prejuízo de sua imediata reapreciaç­ão após as informaçõe­s a serem prestadas pelos requeridos”, escreveu o conselheir­o na decisão.

Caso o relator rejeite em definitivo o pedido de liminar, a representa­ção vai continuar tramitando no conselho e será posteriorm­ente analisada pelo plenário do colegiado.

A Folha apurou que há ao menos dois dos 12 integrante­s do órgão dispostos a contestar o ato de Aras. Outros conselheir­os entendem, porém, que não será fácil o colegiado suspender uma decisão do próprio presidente.

Procurada, a assessoria da PGR afirmou que as alterações no estatuto promovidas por Aras “são oportunas por acontecere­m num contexto de troca de liderança”.

O subprocura­dor-geral Paulo Gonet foi empossado diretor da escola na segunda (2).

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