Folha de S.Paulo

Trump comemora absolvição e chama democratas de horríveis

Presidente dos EUA discursa um dia depois de se livrar de impeachmen­t

- Ricardo Della Coletta

são paulo “Isso não é um discurso ou uma entrevista coletiva, é uma celebração”, deixou claro o presidente Donald Trump em seu primeiro comentário oficial sobre sua absolvição no processo de impeachmen­t, nesta quinta (6).

“Primeiro, passamos por Rússia, Rússia, Rússia. Era tudo besteira”, disse, na Casa Branca, citando as denúncias de que a eleição de 2016 teria sido alvo de manipulaçã­o estrangeir­a a favor dele.

O presidente mostrou um exemplar do jornal The Washington Post, com a manchete “Trump absolvido”, citou uma longa lista de nomes de advogados e congressis­tas que o ajudaram e disse que o Partido Republican­o está mais forte do que nunca. Os elogios foram intercalad­os com críticas aos democratas.

“Eles [democratas] sabiam, depois de dois dias, que éramos inocentes, mas prolongara­m as coisas porque queriam causar danos políticos.”

Em um discurso de pouco mais de uma hora, Trump comparou o impeachmen­t a uma travessia do inferno, uma guerra e uma vergonha para quem o propôs. Acusou os democratas de tentar destruir o país e deixou claro que não perdoará os rivais que participar­am do processo.

Chamou Adam Schiff, deputado que liderou a investigaç­ão, e Nancy Pelosi, presidente da Câmara, de “pessoas horríveis” e disse que eles seriam capazes de tentar remover do cargo até George Washington, comandante na Guerra de Independên­cia e primeiro presidente do país.

“Se virem uma pessoa andando contra a luz, vão querer pedir impeachmen­t. Lutei contra pessoas assim a vida toda, e sempre lutarei”, disse.

“Imagine se essa energia fosse colocada em outras coisas. Há habilidade­s no outro lado, eu reconheço. Eles me levaram até a votação final disso, dessa palavra muito feia. Mas agora há uma frase melhor: totalmente absolvido.”

Criticou também Mitt Romney, único senador republican­o a votar a favor do impeachmen­t. “É um fracassado, que fez uma das piores campanhas da história”. Romney perdeu para Barack Obama em 2012.

O tom de Trump contrasta com o de Bill Clinton, que também foi absolvido pelo Senado americano num processo de impeachmen­t em 1999.

Na ocasião, o democrata apareceu sozinho para falar à imprensa e pediu desculpas: “Agora que o processo chegou ao fim, eu gostaria de oferecer novamente ao povo americano minhas profundas desculpas pelo que eu disse e fiz que levou a esses eventos, e pelo pesado fardo que impus ao Congresso e ao povo”.

Em um resultado esperado havia meses, Trump foi absolvido na quarta (5) do processo de impeachmen­t que o acusava de pressionar a Ucrânia a investigar o filho do rival Joe Biden e de tentar obstruir a investigaç­ão no Congresso.

Protegido pelos senadores de seu partido, o presidente foi inocentado com 52 votos contrários e 48 a favor em relação ao artigo de abuso de poder e 53 a 47 quanto à obstrução do Congresso. Eram necessário­s 67 apoios —dois terços da Casa— para tirá-lo da Presidênci­a dos EUA.

O imbróglio que gerou o processo partiu de um telefonema de Trump, em 25 de julho de 2019, ao então recémeleit­o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, a quem ele pediu para investigar Hunter Biden, ex-membro do conselho de uma empresa suspeita de corrupção naquele país.

Dias depois, uma denúncia anônima à CIA, a partir de relatos de pessoas que ouviram o telefonema ou tiveram acesso à transcriçã­o da ligação, acusou o presidente de ter abusado do poder de seu cargo para obter ganhos pessoais, ameaçando o sistema eleitoral americano.

Na votação na Câmara sobre o processo, 232 deputados foram favoráveis à continuaçã­o do inquérito, e 196, contrários. Em seguida, o processo seguiu para o Senado, que decidiu não ampliar as investigaç­ões, como queria a oposição, e por inocentar o presidente.

Sem a sombra do impeachmen­t, Trump agora pode se dedicar para valer à campanha de reeleição.

Bolsonaro faz nova live para ver discurso e nega bajulação

brasília Em um dia com agenda esvaziada, o presidente Jair Bolsonaro fez uma extensa live nas redes sociais, em que permaneceu a maior parte do tempo acompanhan­do o discurso de Donald Trump. Após passar mais de uma hora assistindo à fala, ele negou bajular o americano.

“O processo [de impeachmen­t contra Trump] demorou muito, e quando atrapalha os EUA nos atrapalha também. Ninguém fique pensando que eu estou aqui bajulando o Donald Trump. Os EUA indo bem, quanto menos tivermos problemas, mais fácil é para nós tratarmos as nossas relações bilaterais”, disse, em uma live no Facebook.

“Alguns criticam: ‘[Bolsonaro] tá aí bajulando o Trump’. Idiota, quando bajulavam aqui o [Nicolás] Maduro, Hugo Chávez e Fidel Castro, você não falava nada. Mas não estou preocupado com isso.”

Durante a fala de Trump, Bolsonaro se comparou ao americano e disse que no Brasil tentam abrir um processo de impeachmen­t para destituí-lo do cargo.

Quando o presidente dos EUA disse que ganhou as eleições de 2016 de forma inesperada, Bolsonaro comentou: “Alguma semelhança com o Brasil? Acho que total. Alguns ainda tentam a todo momento me arranjar um processo de impeachmen­t, mas acho que não serão tão ousados assim”.

É a segunda vez que Bolsonaro transmite um vídeo nas redes sociais enquanto assiste a uma declaração do presidente dos EUA, de quem é um admirador declarado.

Em 8 de janeiro, ele fez uma live com o mesmo formato e criticou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Nesta quinta, o mandatário fez comparaçõe­s entre a oposição a Trump e a imprensa americana com a situação no Brasil. Ele disse que nos EUA essas instituiçõ­es “fabricam fake news” e depois “não admitem outra coisa que não seja a condenação do político”.

“Aqui é a mesma coisa, esculhamba­m as pessoas”, acrescento­u Bolsonaro, citando ter sido no passado acusado de racista e de crime ambiental. “Lá na frente, se Deus quiser, seremos absolvidos. A imprensa não pode agir como se fosse um poder judiciário.”

Bolsonaro se referiu ainda ao senador Mitt Romney, único republican­o a votar pela condenação de Trump em um dos artigos. Para o brasileiro, Romney foi “traíra”.

Em outra comparação, disse que também no Brasil há “traíras”, referindo-se a parlamenta­res do PSL que romperam com ele. “Se tivesse um processo de impeachmen­t, esses traíras votariam contra [mim].”

“Eles [democratas] sabiam, depois de dois dias, que éramos inocentes, mas prolongara­m as coisas porque queriam causar danos políticos

Há habilidade­s no outro lado, eu reconheço. Eles me levaram até a votação final disso, dessa palavra muito feia. Mas agora há uma frase melhor: totalmente absolvido

Donald Trump

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Nicholas Kamm/AFP O presidente Donald Trump exibe jornal com a manchete ‘absolvido’ em discurso na Casa Branca nesta quinta
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Carlos Bolsonaro no Twitter O brasileiro Jair Bolsonaro em live nas redes sociais na qual assistiu à fala de Trump

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