Trump comemora absolvição e chama democratas de horríveis
Presidente dos EUA discursa um dia depois de se livrar de impeachment
são paulo “Isso não é um discurso ou uma entrevista coletiva, é uma celebração”, deixou claro o presidente Donald Trump em seu primeiro comentário oficial sobre sua absolvição no processo de impeachment, nesta quinta (6).
“Primeiro, passamos por Rússia, Rússia, Rússia. Era tudo besteira”, disse, na Casa Branca, citando as denúncias de que a eleição de 2016 teria sido alvo de manipulação estrangeira a favor dele.
O presidente mostrou um exemplar do jornal The Washington Post, com a manchete “Trump absolvido”, citou uma longa lista de nomes de advogados e congressistas que o ajudaram e disse que o Partido Republicano está mais forte do que nunca. Os elogios foram intercalados com críticas aos democratas.
“Eles [democratas] sabiam, depois de dois dias, que éramos inocentes, mas prolongaram as coisas porque queriam causar danos políticos.”
Em um discurso de pouco mais de uma hora, Trump comparou o impeachment a uma travessia do inferno, uma guerra e uma vergonha para quem o propôs. Acusou os democratas de tentar destruir o país e deixou claro que não perdoará os rivais que participaram do processo.
Chamou Adam Schiff, deputado que liderou a investigação, e Nancy Pelosi, presidente da Câmara, de “pessoas horríveis” e disse que eles seriam capazes de tentar remover do cargo até George Washington, comandante na Guerra de Independência e primeiro presidente do país.
“Se virem uma pessoa andando contra a luz, vão querer pedir impeachment. Lutei contra pessoas assim a vida toda, e sempre lutarei”, disse.
“Imagine se essa energia fosse colocada em outras coisas. Há habilidades no outro lado, eu reconheço. Eles me levaram até a votação final disso, dessa palavra muito feia. Mas agora há uma frase melhor: totalmente absolvido.”
Criticou também Mitt Romney, único senador republicano a votar a favor do impeachment. “É um fracassado, que fez uma das piores campanhas da história”. Romney perdeu para Barack Obama em 2012.
O tom de Trump contrasta com o de Bill Clinton, que também foi absolvido pelo Senado americano num processo de impeachment em 1999.
Na ocasião, o democrata apareceu sozinho para falar à imprensa e pediu desculpas: “Agora que o processo chegou ao fim, eu gostaria de oferecer novamente ao povo americano minhas profundas desculpas pelo que eu disse e fiz que levou a esses eventos, e pelo pesado fardo que impus ao Congresso e ao povo”.
Em um resultado esperado havia meses, Trump foi absolvido na quarta (5) do processo de impeachment que o acusava de pressionar a Ucrânia a investigar o filho do rival Joe Biden e de tentar obstruir a investigação no Congresso.
Protegido pelos senadores de seu partido, o presidente foi inocentado com 52 votos contrários e 48 a favor em relação ao artigo de abuso de poder e 53 a 47 quanto à obstrução do Congresso. Eram necessários 67 apoios —dois terços da Casa— para tirá-lo da Presidência dos EUA.
O imbróglio que gerou o processo partiu de um telefonema de Trump, em 25 de julho de 2019, ao então recémeleito presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, a quem ele pediu para investigar Hunter Biden, ex-membro do conselho de uma empresa suspeita de corrupção naquele país.
Dias depois, uma denúncia anônima à CIA, a partir de relatos de pessoas que ouviram o telefonema ou tiveram acesso à transcrição da ligação, acusou o presidente de ter abusado do poder de seu cargo para obter ganhos pessoais, ameaçando o sistema eleitoral americano.
Na votação na Câmara sobre o processo, 232 deputados foram favoráveis à continuação do inquérito, e 196, contrários. Em seguida, o processo seguiu para o Senado, que decidiu não ampliar as investigações, como queria a oposição, e por inocentar o presidente.
Sem a sombra do impeachment, Trump agora pode se dedicar para valer à campanha de reeleição.
Bolsonaro faz nova live para ver discurso e nega bajulação
brasília Em um dia com agenda esvaziada, o presidente Jair Bolsonaro fez uma extensa live nas redes sociais, em que permaneceu a maior parte do tempo acompanhando o discurso de Donald Trump. Após passar mais de uma hora assistindo à fala, ele negou bajular o americano.
“O processo [de impeachment contra Trump] demorou muito, e quando atrapalha os EUA nos atrapalha também. Ninguém fique pensando que eu estou aqui bajulando o Donald Trump. Os EUA indo bem, quanto menos tivermos problemas, mais fácil é para nós tratarmos as nossas relações bilaterais”, disse, em uma live no Facebook.
“Alguns criticam: ‘[Bolsonaro] tá aí bajulando o Trump’. Idiota, quando bajulavam aqui o [Nicolás] Maduro, Hugo Chávez e Fidel Castro, você não falava nada. Mas não estou preocupado com isso.”
Durante a fala de Trump, Bolsonaro se comparou ao americano e disse que no Brasil tentam abrir um processo de impeachment para destituí-lo do cargo.
Quando o presidente dos EUA disse que ganhou as eleições de 2016 de forma inesperada, Bolsonaro comentou: “Alguma semelhança com o Brasil? Acho que total. Alguns ainda tentam a todo momento me arranjar um processo de impeachment, mas acho que não serão tão ousados assim”.
É a segunda vez que Bolsonaro transmite um vídeo nas redes sociais enquanto assiste a uma declaração do presidente dos EUA, de quem é um admirador declarado.
Em 8 de janeiro, ele fez uma live com o mesmo formato e criticou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Nesta quinta, o mandatário fez comparações entre a oposição a Trump e a imprensa americana com a situação no Brasil. Ele disse que nos EUA essas instituições “fabricam fake news” e depois “não admitem outra coisa que não seja a condenação do político”.
“Aqui é a mesma coisa, esculhambam as pessoas”, acrescentou Bolsonaro, citando ter sido no passado acusado de racista e de crime ambiental. “Lá na frente, se Deus quiser, seremos absolvidos. A imprensa não pode agir como se fosse um poder judiciário.”
Bolsonaro se referiu ainda ao senador Mitt Romney, único republicano a votar pela condenação de Trump em um dos artigos. Para o brasileiro, Romney foi “traíra”.
Em outra comparação, disse que também no Brasil há “traíras”, referindo-se a parlamentares do PSL que romperam com ele. “Se tivesse um processo de impeachment, esses traíras votariam contra [mim].”
“Eles [democratas] sabiam, depois de dois dias, que éramos inocentes, mas prolongaram as coisas porque queriam causar danos políticos
Há habilidades no outro lado, eu reconheço. Eles me levaram até a votação final disso, dessa palavra muito feia. Mas agora há uma frase melhor: totalmente absolvido
Donald Trump