Para pesquisadora, pessoas notaram que estão sendo enganadas
Americana que estuda alfabetização midiática defende hábitos saudáveis para o consumo de informações
são paulo As pessoas finalmente começaram a dar importância à alfabetização midiática porque estão preocupadas com as mensagens que alguns governos estão disseminando e as táticas antiéticas que estão sendo usadas.
Essa é a visão de Pam Steager, pesquisadora do Laboratório de Educação Midiática na Universidade de Rhode Island, que está no Brasil para participar do TechCamp, um programa do governo dos EUA cujo tema em 2020 é o combate à desinformação.
“Muitas pessoas estão preocupadas com alguns governos que assumiram em vários países, com as mensagens que eles estão disseminando e as táticas que estão usando, que não parecem ser éticas”, diz. “Esse foi um enorme sinal de alerta, acho que por isso estão entendendo o que é alfabetização midiática.”
Segundo Pam, a alfabetização midiática, aos poucos, está deixando de ser um conceito abstrato, na medida em que as pessoas se dão conta de que estão sendo manipuladas maciçamente.
“Alfabetização midiática não está relacionada a um posicionamento político, trata-se de fazer perguntas e mergulhar mais fundo nas mensagens de mídia, para determinar o que é verdadeiro, e qual é o propósito de disseminar conteúdo que não é verdadeiro”, afirma a pesquisadora.
“Muitas pessoas se deram conta de que estão sendo manipuladas maciçamente por quem quer que esteja emitindo essas mensagens, inclusive alguém sentado em uma fábrica russa, produzindo milhares de memes por dia. Se conseguirmos que as pessoas ao menos façam as perguntas certas, estaremos avançando.”
A pesquisadora trabalhou mais de 30 anos com programas educacionais em escolas. Nos últimos 20 anos, vem se dedicando a programas de alfabetização midiática, com treinamentos para professores, alunos e pais. Recentemente, intensificou seu trabalho com idosos.
“As pessoas mais velhas são mais suscetíveis a acreditar em fake news e espalhá-las”, diz Pam. “A minha geração e as pessoas mais velhas que eu crescemos acreditando nas notícias e pensando que, se alguém parecendo uma autoridade dissesse algo, a gente poderia acreditar.”
Segundo ela, é bem mais difícil convencer as pessoas a saírem de sua bolha e passarem a questionar conteúdos do que educar crianças desde já a encararem de forma crítica as diversas mensagens de mídia que consomem.
Ela faz um paralelo com a necessidade de ter uma dieta saudável: “Da mesma maneira que precisamos ter consciência do que estamos colocando no nosso corpo, precisamos saber com que tipo de conteúdo alimentamos nossa mente e nossas emoções”.
Quais são hábitos saudáveis de consumo de mídia?
Escolher diferentes fontes de informação para ter mais perspectivas sobre um assunto, indagar sempre quem é o autor e qual o propósito do conteúdo (persuadir, informar ou entreter?). Agir com ceticismo quando notícias apelam para as emoções — normalmente, o objetivo desses conteúdos é manipular— e encarar com cautela mensagens que apelam para nossas crenças ou preconceitos.
Além disso, pais precisam estabelecer limites para o tempo que as crianças passam em frente a uma tela.
A maioria das pessoas não percebe que é alvo constante de mensagens microdirecionadas, que levam em conta seus dados pessoais para tornar a mensagem mais eficiente e despertar emoções, diz ela. “É assustador: eles não apenas sabem o que adolescentes querem, sabem em que horário ele está se sentindo mais vulnerável e será mais suscetível a propaganda”, exemplifica.
Pam fará uma palestra durante o TechCamp Brasil de Combate à Desinformação, promovido pelo Consulado Geral dos EUA e pelo Instituto Palavra Aberta nesta sexta (7) e no sábado (8).
Segundo o consulado, o evento será realizado no Brasil levando-se em conta que “a proliferação de desinformação, sobretudo em um ano de eleições, representa um grande desafio para as democracias”, especialmente no país.