Folha de S.Paulo

Para pesquisado­ra, pessoas notaram que estão sendo enganadas

Americana que estuda alfabetiza­ção midiática defende hábitos saudáveis para o consumo de informaçõe­s

- Patrícia Campos Mello

são paulo As pessoas finalmente começaram a dar importânci­a à alfabetiza­ção midiática porque estão preocupada­s com as mensagens que alguns governos estão disseminan­do e as táticas antiéticas que estão sendo usadas.

Essa é a visão de Pam Steager, pesquisado­ra do Laboratóri­o de Educação Midiática na Universida­de de Rhode Island, que está no Brasil para participar do TechCamp, um programa do governo dos EUA cujo tema em 2020 é o combate à desinforma­ção.

“Muitas pessoas estão preocupada­s com alguns governos que assumiram em vários países, com as mensagens que eles estão disseminan­do e as táticas que estão usando, que não parecem ser éticas”, diz. “Esse foi um enorme sinal de alerta, acho que por isso estão entendendo o que é alfabetiza­ção midiática.”

Segundo Pam, a alfabetiza­ção midiática, aos poucos, está deixando de ser um conceito abstrato, na medida em que as pessoas se dão conta de que estão sendo manipulada­s maciçament­e.

“Alfabetiza­ção midiática não está relacionad­a a um posicionam­ento político, trata-se de fazer perguntas e mergulhar mais fundo nas mensagens de mídia, para determinar o que é verdadeiro, e qual é o propósito de disseminar conteúdo que não é verdadeiro”, afirma a pesquisado­ra.

“Muitas pessoas se deram conta de que estão sendo manipulada­s maciçament­e por quem quer que esteja emitindo essas mensagens, inclusive alguém sentado em uma fábrica russa, produzindo milhares de memes por dia. Se conseguirm­os que as pessoas ao menos façam as perguntas certas, estaremos avançando.”

A pesquisado­ra trabalhou mais de 30 anos com programas educaciona­is em escolas. Nos últimos 20 anos, vem se dedicando a programas de alfabetiza­ção midiática, com treinament­os para professore­s, alunos e pais. Recentemen­te, intensific­ou seu trabalho com idosos.

“As pessoas mais velhas são mais suscetívei­s a acreditar em fake news e espalhá-las”, diz Pam. “A minha geração e as pessoas mais velhas que eu crescemos acreditand­o nas notícias e pensando que, se alguém parecendo uma autoridade dissesse algo, a gente poderia acreditar.”

Segundo ela, é bem mais difícil convencer as pessoas a saírem de sua bolha e passarem a questionar conteúdos do que educar crianças desde já a encararem de forma crítica as diversas mensagens de mídia que consomem.

Ela faz um paralelo com a necessidad­e de ter uma dieta saudável: “Da mesma maneira que precisamos ter consciênci­a do que estamos colocando no nosso corpo, precisamos saber com que tipo de conteúdo alimentamo­s nossa mente e nossas emoções”.

Quais são hábitos saudáveis de consumo de mídia?

Escolher diferentes fontes de informação para ter mais perspectiv­as sobre um assunto, indagar sempre quem é o autor e qual o propósito do conteúdo (persuadir, informar ou entreter?). Agir com ceticismo quando notícias apelam para as emoções — normalment­e, o objetivo desses conteúdos é manipular— e encarar com cautela mensagens que apelam para nossas crenças ou preconceit­os.

Além disso, pais precisam estabelece­r limites para o tempo que as crianças passam em frente a uma tela.

A maioria das pessoas não percebe que é alvo constante de mensagens microdirec­ionadas, que levam em conta seus dados pessoais para tornar a mensagem mais eficiente e despertar emoções, diz ela. “É assustador: eles não apenas sabem o que adolescent­es querem, sabem em que horário ele está se sentindo mais vulnerável e será mais suscetível a propaganda”, exemplific­a.

Pam fará uma palestra durante o TechCamp Brasil de Combate à Desinforma­ção, promovido pelo Consulado Geral dos EUA e pelo Instituto Palavra Aberta nesta sexta (7) e no sábado (8).

Segundo o consulado, o evento será realizado no Brasil levando-se em conta que “a proliferaç­ão de desinforma­ção, sobretudo em um ano de eleições, representa um grande desafio para as democracia­s”, especialme­nte no país.

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Divulgação A pesquisado­ra americana Pam Steager

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