Folha de S.Paulo

‘A vida é mais fácil para a mulher aqui do que no meu país’, diz paquistane­sa

- Flávia Mantovani

são paulo Este depoimento faz parte do especial multimídia Imigrantes de SP, que traz o ponto de vista de estrangeir­os que vivem na cidade. Novas histórias continuarã­o sendo publicadas periodicam­ente.

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Tinha amigos na embaixada do Brasil em Islamabad e eles sempre falavam que o país é bonito. Decidi vir por isso, e também porque aqui a vida é mais fácil para as mulheres.

No Paquistão muitas mulheres agora fazem universida­de, mas não é fácil trabalhar. Depois do casamento, você fica em casa, tem crianças e acabou. Minha irmã era designer e tinha um salário muito bom, mas quando casou, o marido falou que ela não poderia trabalhar. Ela deixou o emprego.

Eu não quero só ficar em casa. Tenho bastantes habilidade­s: estudei Relações Internacio­nais,

dou aulas de inglês, sei fazer tatuagem de henna… Meu marido é ótima pessoa. Ele entende e diz que posso fazer o que eu quiser.

Gosto de ser livre, mas também não quero deixar minha cultura e minha religião. Sou muçulmana, não posso apertar a mão de um homem, por exemplo. Aqui fui pra praia com jeans e camiseta, todo mundo ficou olhando.

Eu não sabia o que era Carnaval antes de vir pra cá. Me falaram que era um evento que acontecia a 40 dias da Páscoa e que depois dele não pode comer carne. Achei que fosse uma festa religiosa. Aí fui num bloco na praça da República e... Nossa! Vi todo mundo bebendo, usando drogas. Não aguentei nem uma hora. Depois fui a outros blocos familiares e no desfile no Sambódromo e gostei.

Faço tatuagem de henna há mais de dez anos. Para nós, henna significa felicidade: você faz pra uma festa, um casamento... Os brasileiro­s amam. Tem homens que também querem, mas eu falo que só tenho desenhos para mulheres, porque lá o costume é esse.

Agora estou vendendo comida paquistane­sa. Ela se parece com a comida indiana, porque usamos os mesmos temperos, mas o jeito de fazer é diferente.

Islamabad é bem diferente de São Paulo, mas também tem muita gente de outras cidades que vai pra lá trabalhar. No final do ano é igual aqui: quase não tem pessoas, porque todo mundo viaja.

Quando eu penso na minha vida, eu acho que não foi fácil ter saído sozinha pra morar em outro país.

Minhas amigas que continuam no Paquistão me dizem: “Que bom que você saiu”. Eu recebo muitas coisas em São Paulo, não só trabalho. Também amigos. É uma cidade onde você pode fazer o que você quer.

A professora de inglês e cozinheira paquistane­sa Ayesha Saeed, 32, está no Brasil desde 2016

LEIA O ESPECIAL SOBRE IMIGRANTES DE SP folha.com/imigrantes­desp

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Bruno Santos/Folhapress A paquistane­sa Ayesha Saeed em sua casa em São Paulo

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