Folha de S.Paulo

JBS quer reverter decisão nos EUA sobre papéis do JPMorgan

Grupo questionar­á acesso de Galdino & Coelho a dados sobre fusão JBS-Bertin

- Ivan Martínez-Vargas e Alexa Salomão

são paulo A Justiça americana acatou pedido de JBS, J&F, irmãos Batista e do fundo Pinheiros para ingressare­m como partes nos procedimen­tos em que o escritório Galdino & Coelho, especialis­ta em contencios­os, pede que o JPMorgan Chase, dois ex-executivos do banco e o antigo fundo Blessed forneçam documentos sobre a fusão entre JBS e Bertin, feita em 2009.

Em despachos emitidos na terça-feira (4) e publicados até a quarta (5), nos Estados Unidos, as juízas Katherine Polk Failla, de Nova York, e Maryellen Noreika, de Delaware, homologam a entrada das partes e as datas acordadas para se manifestar­em sobre a questão.

“Acordamos com a JBS que não adotaríamo­s as medidas autorizada­s durante um prazo negociado. Isso é comum nos EUA”, diz Gustavo Salgueiro, do Galdino & Coelho.

Procurada, a J&F diz que confirma “que o processo de discovery, que corre na Justiça americana, está suspenso com base em decisão proferida dia 4 de fevereiro.”

A JBS e os Batista vão questionar o acesso aos documentos. Pelo cronograma acordado entre as partes, eles deverão se manifestar até 7 de março. O Galdino & Coelho poderá apresentar observaçõe­s até 30 de abril. Há espaço para tréplica até 21 de maio.

Após a apresentaç­ão das partes, a Justiça americana decidirá se mantém ou revoga a decisão proferida na no dia 3 de janeiro, que autoriza acesso, para uso em processos no Brasil, de documentos do JPMorgan e de Fabio Pegas e Patricia Pratini de Moraes, que atuaram na estruturaç­ão da fusão da JBS com a Bertin pelo banco.

As ações movidas por Maurício da Mota buscam dimensiona­r a participaç­ão do JPMorgan na estruturaç­ão dos negócios da JBS, especialme­nte na fusão com a Bertin.

Também querem detalhar a criação da antiga Blessed, uma empresa com sede em Delaware (EUA), que se tornou sócia da JBS na fusão. Por anos, seus donos foram um mistério, até que ela apareceu nas declaraçõe­s de imposto de renda dos irmãos Joesley e Wesley Batista.

A expectativ­a é que o JPMorgan forneça, entre outras informaçõe­s, detalhes sobre a criação e a evolução da estrutura societária da Blessed.

Os representa­ntes legais de Mota querem usar as informaçõe­s como provas em processos no Brasil. Eles pedem na Justiça Federal que os irmãos Batista sejam condenados a ressarcir o erário por supostos prejuízos que o BNDES e o BNDESPar teriam tido com o financiame­nto de diferentes operações por meio das quais a JBS comprou concorrent­es nos EUA e no Brasil.

O negócio com os Bertins é questionad­o nas ações porque teria havido o pagamento de propina de US$ 50 milhões ao ex-ministro Guido Mantega para a aprovação do financiame­nto da operação. O suposto pagamento foi confirmado por Joesley Batista no âmbito de sua colaboraçã­o premiada. Mantega sempre negou as acusações.

Joesley afirmou em sua colaboraçã­o também, no entanto, que nunca tratou de propinas com o corpo técnico do BNDES e que “eles nunca me relataram que estavam sofrendo influência por parte de terceiros ou superiores”.

Os processos de Mota no país também remetem a documentos, apresentad­os na CPI do BNDES, reforçando que a Bertin foi superavali­ada pelos Batista “de modo a gerar uma participaç­ão societária artificial em favor dos vendedores (a família Bertin), que posteriorm­ente lhes foi transferid­a a valores irrisórios, conforme concordado em um contrato de gaveta, causando um prejuízo bilionário ao erário e ao Sistema BNDES”.

Apesar de também incluir o BNDES e o BNDESPar no polo passivo dos processos que move contra a JBS, em as petições requerem que o banco passe a ser autor dos processos e cobre dos Batista o eventual ressarcime­nto de prejuízos. As duas ações foram protocolad­as na Justiça Federal em novembro e dezembro de 2019.

“O nosso objetivo é forçar o BNDES a tomar uma posição sobre o tema. O banco diz que não teve prejuízo com a operação, mas o fato é que ele tem hoje menos ações do que deveria se não houvesse irregulari­dades na operação”, disse o advogado Gustavo Salgueiro.

Conforme revelado em reportagem da Folha em maio de 2019, a fusão na verdade era uma compra simulada que envolveu um contrato de gaveta por meio do qual os Bertins, à época em dificuldad­es financeira­s, compromete­ram-se a devolver 22% de participaç­ão acionária na JBS por valores simbólicos.

Documentos que formalizar­am o acerto, assinados por representa­ntes das duas famílias, mostram que, no acordo, os Bertins aceitaram ter menos de 10% da JBS como parte do pagamento —e que venderiam de volta aos Batista tudo que excedesse esses 10% por quantia simbólica. Logo depois da fusão, os Bertins tinham cerca de 26% da JBS.

Os documentos sobre o negócio mostram que teria havido uma sobreavali­ação dos ativos da Bertin e que os termos da fusão não prejudicar­am o BNDES. Na verdade, o sobrepreço beneficiou o banco.

Sobre as ações populares movidas por Mauricio da Mota no Brasil, a JBS tem afirmado que os processos são descabidos e que “todas as transações envolvendo participaç­ões do BNDES foram negociadas de maneira transparen­te, com ampla divulgação pública e de acordo com as regras de mercado”.

A empresa já disse à Folha, em nota, que a transação com a Bertin “seguiu as normas legais do mercado de capitais e contou com suporte de renomados assessores jurídicos e financeiro­s. A operação [...] trouxe ganhos para todos os acionistas. Como reconhece o próprio BNDES em manifestaç­ão enviada à 22ª Vara Federal do Rio de Janeiro”.

Ainda segundo a JBS, a operação com a Bertin foi aprovada por acionistas minoritári­os em assembleia geral da companhia, e sem o voto da controlado­ra J&F.

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