Folha de S.Paulo

Bolsonaro troca o comando do Minha Casa

Presidente inicia reforma ministeria­l ao colocar Rogério Marinho no Desenvolvi­mento Regional, responsáve­l pelo programa

- Talita Fernandes, Gustavo Uribe, Thiago Resende e Ricardo Della Coletta

Rogério Marinho novo ministro do Desenvolvi­mento Regional

É um dos principais articulado­res políticos do governo. Esteve à frente das negociaçõe­s pela reforma da Previdênci­a. Assume o ministério que cuida do Minha Casa

Paulo Guedes ministro da Economia

Apoiou a troca no Ministério do Desenvolvi­mento Regional, que passa a ser ocupado por um de seus maiores aliados, que o ajudou a aprovar a reforma da Previdênci­a, no ano passado

Gustavo Canuto, deve assumir o Dataprev (nomeação ainda não foi publicada)

Servidor público, deixa o Ministério do Desenvolvi­mento Regional por desgaste político e após desavenças com Paulo Guedes

O presidente Jair Bolsonaro trocou o comando do Ministério do Desenvolvi­mento Regional —pasta responsáve­l pelo Minha Casa Minha Vida— nesta quinta (6). O secretário especial de Previdênci­a e Trabalho do Ministério da Economia, Rogério Marinho, substitui Gustavo Canuto.

Com a medida, Bolsonaro dá início a uma reforma ministeria­l planejada desde o ano passado. A ideia é que as demais mudanças sejam feitas a conta-gotas e ocorram a partir da próxima semana.

A mudança, segundo assessores presidenci­ais, teve o apoio do ministro da Economia, Paulo Guedes, e das bancadas parlamenta­res do Norte e do Nordeste. Bolsonaro manifestav­a incômodo com a atuação de Canuto.

O presidente recebia críticas de deputados e senadores pela falta de diálogo do ministro com o Legislativ­o e por não entregar resultados em iniciativa­s como o Minha Casa.

O agora ex-ministro desconfiav­a havia duas semanas de que seria exonerado e foi avisado pelo Palácio do Planalto na quarta-feira (5) de que seria retirado do cargo.

Para não desprestig­iar Canuto, Bolsonaro pediu que ele fosse realocado em outra estrutura. Nesta quinta, Canuto teve um encontro com o presidente pela manhã, no qual foi informado de que seguiria no governo, mas em nova função.

No início da tarde, ficou definido que ele assumiria a presidênci­a do Dataprev, empresa pública vinculada ao Ministério da Economia. A decisão foi tomada em reunião entre Bolsonaro, Guedes e Marinho.

Para o comando do Desenvolvi­mento Regional, Bolsonaro estabelece­u desde o início que queria uma solução interna, que evitasse entregar o cargo a uma disputa partidária.

O presidente foi convencido pelo nome de Marinho tanto pela habilidade política do exdeputado quanto pela perspectiv­a de melhorar o diálogo com a bancada nordestina. Ele é do Rio Grande do Norte.

A mudança de Canuto é a quinta demissão de um ministro desde que Bolsonaro assumiu o Palácio do Planalto.

O controle do Desenvolvi­mento Regional é visto como um cargo eminenteme­nte político. A pasta é responsáve­l pela liberação de verba para estados e municípios —um afago a congressis­tas que querem destinar recursos a suas bases eleitorais.

Além de Canuto, a saída de Onyx Lorenzoni da Casa Civil é dada como certa no Palácio do Planalto. O presidente ainda procura um substituto para o cargo diante da negativa de Jorge Oliveira, da Secretaria-Geral, em assumir o posto.

Pelo desenho que vem sendo feito por Bolsonaro, Onyx deve assumir a Cidadania, hoje ocupada por Osmar Terra, seu aliado. O futuro de Terra ainda é incerto, mas a maior probabilid­ade é que ele reassuma seu mandato na Câmara. A expectativ­a é que a alteração ocorra na próxima semana.

Aliado de Guedes, que ganha força com a mudança na Esplanada, Marinho esteve à frente das negociaçõe­s com o Congresso para aprovar a reforma da Previdênci­a. Ele se tornou uma liderança na articulaçã­o política do governo.

Além disso, o programa habitacion­al Minha Casa Minha Vida é outro fator do desgaste de Canuto. O número de casas entregues para a população mais pobre recuou em 2019, e a proposta de reformulaç­ão da ação está travada.

“[Marinho] foi escolhido pela sua competênci­a e pelo que tem para oferecer para continuar o trabalho do Gustavo Canuto”, disse Bolsonaro em transmissã­o em rede social.

Marinho será substituíd­o na Secretaria Especial de Previdênci­a e Trabalho pelo atual adjunto, Bruno Bianco, que também trabalhou na articulaçã­o pela nova Previdênci­a.

Bianco atuou no desenho da proposta de reformulaç­ão das regras de aposentado­ria e pensões como assessor especial da Casa Civil no governo Michel Temer (MDB).

O Dataprev, que será assumido por Canuto, também causa desgaste no governo. A empresa pública cuida do sistema da Previdênci­a, que ainda não está adaptado às novas regras de aposentado­ria e pensão, em vigor desde novembro do ano passado.

A intenção da equipe econômica é privatizar o Dataprev.

As mudanças na estatal são essenciais para que Bolsonaro zere a fila no INSS. Diante do desgaste causado pela demora na análise de pedidos de aposentado­rias e pensões, o governo trocou, na semana passada, o comando do órgão.

Mais de 1 milhão de requerimen­tos aguardam resposta há mais de 45 dias, descumprin­do o prazo legal.

Desde maio, o presidente cogitava retirar Canuto da pasta. Ele estava perto de perder o cargo quando o Legislativ­o negociou com a Casa Civil mudanças na estrutura do governo, para que fossem recriadas as pastas das Cidades e da Integração Nacional.

Na época, a intenção era entregar o comando das duas estruturas para partidos.

 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil