Bolsonaro troca o comando do Minha Casa
Presidente inicia reforma ministerial ao colocar Rogério Marinho no Desenvolvimento Regional, responsável pelo programa
Rogério Marinho novo ministro do Desenvolvimento Regional
É um dos principais articuladores políticos do governo. Esteve à frente das negociações pela reforma da Previdência. Assume o ministério que cuida do Minha Casa
Paulo Guedes ministro da Economia
Apoiou a troca no Ministério do Desenvolvimento Regional, que passa a ser ocupado por um de seus maiores aliados, que o ajudou a aprovar a reforma da Previdência, no ano passado
Gustavo Canuto, deve assumir o Dataprev (nomeação ainda não foi publicada)
Servidor público, deixa o Ministério do Desenvolvimento Regional por desgaste político e após desavenças com Paulo Guedes
O presidente Jair Bolsonaro trocou o comando do Ministério do Desenvolvimento Regional —pasta responsável pelo Minha Casa Minha Vida— nesta quinta (6). O secretário especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, Rogério Marinho, substitui Gustavo Canuto.
Com a medida, Bolsonaro dá início a uma reforma ministerial planejada desde o ano passado. A ideia é que as demais mudanças sejam feitas a conta-gotas e ocorram a partir da próxima semana.
A mudança, segundo assessores presidenciais, teve o apoio do ministro da Economia, Paulo Guedes, e das bancadas parlamentares do Norte e do Nordeste. Bolsonaro manifestava incômodo com a atuação de Canuto.
O presidente recebia críticas de deputados e senadores pela falta de diálogo do ministro com o Legislativo e por não entregar resultados em iniciativas como o Minha Casa.
O agora ex-ministro desconfiava havia duas semanas de que seria exonerado e foi avisado pelo Palácio do Planalto na quarta-feira (5) de que seria retirado do cargo.
Para não desprestigiar Canuto, Bolsonaro pediu que ele fosse realocado em outra estrutura. Nesta quinta, Canuto teve um encontro com o presidente pela manhã, no qual foi informado de que seguiria no governo, mas em nova função.
No início da tarde, ficou definido que ele assumiria a presidência do Dataprev, empresa pública vinculada ao Ministério da Economia. A decisão foi tomada em reunião entre Bolsonaro, Guedes e Marinho.
Para o comando do Desenvolvimento Regional, Bolsonaro estabeleceu desde o início que queria uma solução interna, que evitasse entregar o cargo a uma disputa partidária.
O presidente foi convencido pelo nome de Marinho tanto pela habilidade política do exdeputado quanto pela perspectiva de melhorar o diálogo com a bancada nordestina. Ele é do Rio Grande do Norte.
A mudança de Canuto é a quinta demissão de um ministro desde que Bolsonaro assumiu o Palácio do Planalto.
O controle do Desenvolvimento Regional é visto como um cargo eminentemente político. A pasta é responsável pela liberação de verba para estados e municípios —um afago a congressistas que querem destinar recursos a suas bases eleitorais.
Além de Canuto, a saída de Onyx Lorenzoni da Casa Civil é dada como certa no Palácio do Planalto. O presidente ainda procura um substituto para o cargo diante da negativa de Jorge Oliveira, da Secretaria-Geral, em assumir o posto.
Pelo desenho que vem sendo feito por Bolsonaro, Onyx deve assumir a Cidadania, hoje ocupada por Osmar Terra, seu aliado. O futuro de Terra ainda é incerto, mas a maior probabilidade é que ele reassuma seu mandato na Câmara. A expectativa é que a alteração ocorra na próxima semana.
Aliado de Guedes, que ganha força com a mudança na Esplanada, Marinho esteve à frente das negociações com o Congresso para aprovar a reforma da Previdência. Ele se tornou uma liderança na articulação política do governo.
Além disso, o programa habitacional Minha Casa Minha Vida é outro fator do desgaste de Canuto. O número de casas entregues para a população mais pobre recuou em 2019, e a proposta de reformulação da ação está travada.
“[Marinho] foi escolhido pela sua competência e pelo que tem para oferecer para continuar o trabalho do Gustavo Canuto”, disse Bolsonaro em transmissão em rede social.
Marinho será substituído na Secretaria Especial de Previdência e Trabalho pelo atual adjunto, Bruno Bianco, que também trabalhou na articulação pela nova Previdência.
Bianco atuou no desenho da proposta de reformulação das regras de aposentadoria e pensões como assessor especial da Casa Civil no governo Michel Temer (MDB).
O Dataprev, que será assumido por Canuto, também causa desgaste no governo. A empresa pública cuida do sistema da Previdência, que ainda não está adaptado às novas regras de aposentadoria e pensão, em vigor desde novembro do ano passado.
A intenção da equipe econômica é privatizar o Dataprev.
As mudanças na estatal são essenciais para que Bolsonaro zere a fila no INSS. Diante do desgaste causado pela demora na análise de pedidos de aposentadorias e pensões, o governo trocou, na semana passada, o comando do órgão.
Mais de 1 milhão de requerimentos aguardam resposta há mais de 45 dias, descumprindo o prazo legal.
Desde maio, o presidente cogitava retirar Canuto da pasta. Ele estava perto de perder o cargo quando o Legislativo negociou com a Casa Civil mudanças na estrutura do governo, para que fossem recriadas as pastas das Cidades e da Integração Nacional.
Na época, a intenção era entregar o comando das duas estruturas para partidos.