Folha de S.Paulo

Vem outra novidade no câmbio?

Será que o BC reduzirá ainda mais as reservas com compensaçã­o nos swaps?

- Nelson Barbosa Professor da FGV e da UnB, ex-ministro da Fazenda e do Planejamen­to (2015-2016). É doutor em economia pela New School for Social Research.

O Banco Central reduziu nossas reservas internacio­nais para US$ 358 bilhões, ante US$ 388 bilhões em junho do ano passado.

Essa queda foi compensada pela diminuição da posição vendida do BC em swaps cambiais, de US$ 68 bilhões para US$ 35 bilhões, fazendo com que o valor líquido de reservas menos swaps permaneces­se em torno de US$ 320 bilhões.

Se acrescenta­rmos as linhas de crédito com recompra e outros ativos, nossa autoridade monetária estava “comprada”

em US$ 328 bilhões no fim de janeiro. Focarei somente reservas e swaps para simplifica­r a análise.

Do ponto de vista financeiro, a estratégia do BC faz sentido, pois o impacto de variações cambiais sobre o balanço da autoridade monetária depende de sua posição líquida em moeda estrangeir­a.

Por exemplo, considere o atual nível de reservas. Quando a taxa de câmbio real/dólar sobe 10 centavos, o BC tem ganho patrimonia­l de R$ 35,8 bilhões, pois o valor doméstico

de suas reservas internacio­nais aumenta. Do outro lado, no mercado de derivativo­s, como o BC está vendido, ele paga R$ 3,5 bilhões aos “comprados”.

O resultado líquido da depreciaçã­o cambial de 10 centavos é, portanto, um ganho de R$ 32,3 bilhões, como se o BC tivesse reservas efetivas de aproximada­mente US$ 320 bilhões.

Olhando para a frente, será que o BC reduzirá ainda mais nossas reservas com compensaçã­o no mercado de derivativo­s? À medida que o estoque de swaps do BC diminui,

essa estratégia fica cada vez mais limitada.

Esse limite já se manifestou em janeiro, quando o BC evitou vender reservas e cancelar swaps mesmo diante da grande depreciaçã­o cambial.

É verdade que a alta do dólar teve mais raízes externas do que internas, o que justifica a cautela do BC. Porém, a cautela também se explica porque, apenas em dezembro, o BC vendeu quase US$ 10 bilhões à vista. Se esse ritmo fosse mantido, com cancelamen­to equivalent­e de swaps, nossa autoridade monetária zeraria sua posição em derivativo­s dentro de um pouco mais de três meses.

Caso o BC decida manter sua atual posição cambial líquida, o espaço para intervençõ­es cambiais no mercado à vista será bem menor neste ano.

Em 2019, nossa autoridade monetária vendeu aproximada­mente US$ 37 bilhões em apenas cinco meses. Hoje, o estoque remanescen­te de swaps já é menor do que isso, ou seja, há menos espaço para operações casadas de venda à vista e compra de derivativo­s.

Diante desse limite, caso a pressão cambial aumente, o BC pode obviamente reduzir sua posição líquida. Para quanto? Tudo depende da natureza do choque cambial, se temporário ou permanente, e do grau de suavização ou risco desejado pela autoridade monetária.

Durante o ataque especulati­vo de 2014-15, o BC chegou a vender quase US$ 115 bilhões em swaps cambiais, reduzindo sua posição cambial líquida para aproximada­mente US$ 250 bilhões. Aquela intervençã­o foi um exagero e começou a ser desmontada gradualmen­te, a partir de março de 2015.

Mais recentemen­te, a depreciaçã­o do real durante nossa última campanha presidenci­al levou o BC novamente a intervir no mercado de câmbio, ampliando sua posição vendida em swaps, de US$ 24 bilhões para US$ 69 bilhões, em apenas quatro meses.

Assim, se o passado serve de guia, o aumento da pressão internacio­nal sobre moedas de países emergentes pode levar o BC a mudar de estratégia, “mergulhand­o” sua posição cambial abaixo de US$ 320 bilhões, via vendas à vista ou swaps no mercado de derivativo­s. Saberemos em breve.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil