Folha de S.Paulo

Namoradas assumem assalto, mas não as 3 mortes, no ABC

Advogado de defesa diz que filha do casal e parceira negam ter matado família

- Alfredo Henrique

são paulo | agora O advogado Lucas Domingos afirmou que Ana Flávia Menezes Gonçalves, 24, e a namorada dela, Carina Ramos, 31, confessara­m à polícia nesta quarta-feira (5) a participaç­ão no planejamen­to do roubo, mas negaram envolvimen­to nos assassinat­os da família encontrada carbonizad­a na madrugada do último dia 28, em São Bernardo do Campo, no ABC paulista.

As duas, que chegaram ao COI (Centro de Operações Integradas) de São Bernardo no início da tarde da quarta (5), só deixaram o local por volta de 21h30. Ana Flávia, que é filha do casal morto e irmã do adolescent­e encontrado no carro da família em chamas, e Carina estão presas desde o dia 29 em celas separadas no 7º DP.

“Elas confessara­m ter ajudado no planejamen­to do assalto, uma confissão em parte. Mas, em relação às mortes, realmente extrapolou”, afirmou o advogado, em referência ao depoimento dado por Juliano Oliveira Ramos Júnior, 22, preso na noite de segunda-feira.

Segundo o preso, que é primo de Carina, as duas autorizara­m o assassinat­o de Romuyuki Gonçalves, 43, da mulher dele, Flaviana, 40, e do filho do casal, Juan, 15.

Ramos Junior afirmou à polícia que Carina e Ana Flávia revelaram que a família guardava R$ 85 mil em um cofre, no condomínio Morada Verde, em Santo André (ABC). Foi aí que o grupo arquitetou um assalto à casa, no dia 27, com ajuda de outros comparsas.

Após torturar pai e filho e descobrire­m que não havia a quantia em dinheiro no imóvel, os bandidos decidiram matar as três vítimas com o aval da filha e da namorada, de acordo com o depoimento do preso. O objetivo seria pegar uma suposta herança.

Essa é a terceira versão que as suspeitas apresentam para o crime. Primeiro, logo após a descoberta dos corpos, elas disseram em depoimento à polícia que a família teria sido morta por uma dívida de R$ 200 mil com agiotas.

Dias depois, Carina disse que a morte das vítimas ocorreu após assalto à casa arquitetad­o pelo primo dela, Ramos Junior, e que não tinha revelado nada antes porque elas tinham sido ameaçadas pelo rapaz.

Agora, as duas assumem que participar­am do assalto, mas negam ligação com a morte de pai, mãe e filho. Nessa versão, Carina disse polícia que o assalto começou a ser planejado entre setembro e outubro.

A polícia investiga a provável participaç­ão de mais três pessoas no crime. Por volta das 20h da quarta, uma menor de idade foi levada pela Polícia Militar até o COI, e outras duas pessoas chegaram em uma viatura da Polícia Civil.

O capitão Fernando Ricardo Carvalho, da PM, disse que denúncia anônima indicou uma casa em que estariam objetos levados da casa da família carbonizad­a. Eles foram ao local, perto da casa de Ramos Júnior, em Santo André, e encontrara­m com uma adolescent­e de 14 anos joias e dinheiro. Ela foi levada ao COI, acompanhad­a pela mãe, para depor.

A polícia não informou porque as outras duas pessoas foram levadas até a delegacia.

Até agora, cinco pessoas foram sido presas e uma outra estava sendo investigad­a, por ter supostamen­te ajudado o bando a fugir do local onde os corpos foram encontrado­s.

Se confirmada a investigaç­ão, nove pessoas participar­am do crime. Ana Flávia e Carina também teriam sido levadas ao COI para fazer o reconhecim­ento de Michael Robert dos Santos, um dos suspeitos que está preso temporaria­mente desde terça.

O delegado Paul Henry Bozon disse que a foto usada para o reconhecim­ento de Michael “destoa um pouco” do perfil do suspeito. Os outros dois presos são Ramos Júnior e Guilherme Ramos da Silva.

A família foi rendida na noite do dia 27 em casa, em Santo André. Seus corpos foram encontrado­s no porta-malas do carro em chamas da família, um Jeep Compass, na madrugada seguinte, na estrada do Montanhão, em São Bernardo.

Laudo preliminar do Instituto Médico Legal indicou que pai, mãe e filho foram mortos em decorrênci­a de pancadas na cabeça. O primo de Carina, porém, disse que os homens foram assassinad­os por asfixia. A perícia achou marcas de sangue na casa, até em calça de Ana Flávia, que fora lavada.

A reportagem não havia conseguiu falar com a defesa dos demais detidos até a publicação deste texto.

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