Folha de S.Paulo

‘Arcanjo Renegado’ não inova a receita do ‘favela movie’, mas é série bem feita

Drama policial dirigido por Heitor Dhalia foi criado por José Júnior, fundador da ONG Afroreggae

- Tony Goes

Lançado em 2002, “Cidade de Deus”, de Fernando Meirelles, inaugurou um gênero que dominaria o cinema brasileiro pela década seguinte: o chamado “favela movie”, com histórias centradas no confronto entre a criminalid­ade e as forças de segurança do Rio.

O estilo atingiu seu ápice com o sucesso dos filmes “Tropa de Elite”, de José Padilha (de 2007, o original, e 2010, sua sequência). Mas nos anos seguintes, as paródias “Totalmente

Inocentes”, de Rodrigo Bittencour­t (2012) e “Copa de Elite” (2014), de Vitor Brandt, sinalizara­m que o filão estava prestes a se esgotar.

No entanto, o favela movie encontrou sobrevida na televisão. Já são várias as séries nacionais que dão continuida­de ao gênero: “Impuros” (Fox Premium), “Irmandade” (Netflix), “Rotas do Ódio” (Universal), “Dom” (que estreia em breve na Amazon Prime Video) e “A Divisão” (Globoplay).

Esta última foi criada por José Júnior, fundador da ONG AfroReggae. Também é dele a autoria de “Arcanjo Renegado”, cuja primeira temporada chega ao Globoplay nesta sexta (7), com direçãoger­al de Heitor Dhalia, que já esteve à frente de longas como “Serra Pelada”, de 2013.

Apenas os dois primeiros episódios, de um total de dez, foram liberados à crítica. A impressão geral é positiva: com ótimo elenco, diálogos precisos e um conflito central dilacerant­e, “Arcanjo Renegado” é um produto de primeira linha. Não traz novos ingredient­es para a receita do favela movie, mas é um prato executado com maestria.

O protagonis­ta é Mikhael (Marcello Melo Jr.), que quando criança perdeu o pai, um policial. Mas isso não o desanimou a seguir a mesma carreira. Quando a trama deslancha, Mikhael é sargento-comandante do grupamento Arcanjo, o “Bope do Bope” —Batalhão de Operações Policiais Especiais, a elite da PM carioca.

Seu braço direito é Rafael (Alex Nader),que é casado com sua irmã Sarah (Erika Januza). A morte do cunhado, durante uma operação mal sucedida e mal explicada, irá suscitar no rapaz o desejo de revirar as entranhas do sistema.

Mikhael tem, eternament­e em seu encalço, o jornalista independen­te Ronaldo (Alamo Facó), que grava em vídeo as ações do Bope para um site semelhante ao Mídia Ninja. Para complicar, Ronaldo é namorado de Barata (Flávio Bauraqui), assessor do governador Custódio Marques (Bruno Padilha) —um sujeito corrupto, nitidament­e calcado em Sérgio Cabral.

Mesmo sem grandes novidades na forma ou no conteúdo, “Arcanjo Renegado” se propõe a traçar um retrato complexo dos integrante­s da linha de frente do combate ao crime organizado. É um universo familiar a José Júnior, que se firma como um nome da teledramat­urgia brasileira.

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Divulgação Marcello Melo Jr., à esq., em ‘Arcanjo Renegado’

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