Folha de S.Paulo

Espero nova chance em Roland Garros, diz Dominic Thiem

Na melhor fase de sua carreira, tenista austríaco vem ao Brasil para o Rio Open

- Daniel E. de Castro

são paulo Dominic Thiem esteve perto de conquistar o primeiro título de Grand Slam de sua carreira no início deste mês, quando levou a virada de Novak Djokovic e acabou derrotado na decisão do Australian Open por 3 sets a 2.

Esse foi o terceiro vice-campeonato do tenista austríaco nos torneios mais importante­s da modalidade, após dois reveses diante de Rafael Nadal em Roland Garros em 2018 e 2019. A frustração por ter batido na trave de novo, porém, não muda o fato de o atleta de 26 anos viver sua melhor fase.

Neste mês, esse bom momento será testado no Brasil durante o Rio Open, torneio de nível 500 (o terceiro do circuito mundial, abaixo dos Grand Slams e dos Masters) disputado no Rio de Janeiro de 17 a 23 de fevereiro.

O ano de 2019 foi transforma­dor para Thiem, quarto colocado do ranking mundial, que levantou cinco troféus na última temporada, incluindo o do Masters de Indian Wells, com vitória sobre o suíço Roger Federer. Ainda que a quadra dura do torneio americano não seja rápida, essa foi a principal conquista do austríaco na superfície.

Até então, ele era visto por muitos apenas como um ótimo jogador de saibro (o piso mais lento do tênis), que precisava de muito tempo para preparar seus golpes e aplicar o efeito desejado na bola.

A principal evolução nesse sentido foi observada no seu último torneio da temporada, o ATP Finals, em Londres, que reúne os oito melhores tenistas do mundo. Numa quadra veloz e que permite pouco tempo de reação, ele derrubou Federer, Djokovic e o alemão Alexander Zverev.

“Essa era a superfície em que eu sofria muito no passado, por ser muita rápida e sem quiques altos da bola, então bater três jogadores tops lá me deu muita confiança e mostrou que eu poderia vencer qualquer um”, ele afirmou à Folha antes de sua campanha no Australian Open.

Thiem chegou à Austrália antes do Natal de 2019 com o objetivo de ser preparar com afinco para o início da temporada. Deu resultado, em que pese a derrota na decisão.

Sua próxima chance de ser o primeiro tenista nascido depois de 1988 a conquistar um Slam acontecerá daqui a quatro meses, em Roland Garros. Foi lá que ele teve duas lições importante­s na sua evolução como atleta, durante as finais que perdeu para Nadal.

“Eu aprendi mais na primeira [final], provavelme­nte, porque percebi quão longas duas semanas podem ser quando você está pressionad­o e sob tensão. Claro que Rafa foi melhor que eu nas duas vezes, mas tudo bem”, disse. “Espero ter pelo menos mais uma chance contra ele lá.”

O tenista credita grande parte da sua evolução recente ao trabalho com o ex-jogador chileno Nicolás Massu, 40, campeão olímpico em 2004, que começou trabalhand­o como colaborado­r da equipe do austríaco e virou seu treinador principal ainda no primeiro semestre do ano passado.

Quando concedeu a entrevista, Thiem possuía a expectativ­a de iniciar um bom trabalho com Thomas Muster, 52, único tenista da Áustria a vencer um Slam e liderar o ranking mundial. A parceria, porém, foi interrompi­da duas semanas depois, após atritos entre Muster e o pai do atleta, que também o acompanha em alguns torneios.

“Honestamen­te, eu estou muito feliz onde estou agora, não esperava. No começo da minha carreira eu queria estar no top 100, depois no top 50. Nunca planejei estar no top 10 e realmente competir pelos grandes títulos, mas agora que estou aqui eu vou lutar por isso”, afirmou.

Enquanto outros tenistas jovens que passaram a integrar a elite do circuito nos últimos anos já tiveram seu comportame­nto em quadra repreendid­o diversas vezes, por atritos com árbitros, público e adversário­s, Thiem carrega a imagem de bom-moço no circuito.

“Eu apenas ajo como sou, tento ser o mais natural possível. Penso que deveria ser normal todos terem espírito esportivo, mas claro que fico feliz que as pessoas percebam isso”, disse o austríaco.

Ele não julga, porém, todos os rompantes dos colegas, até porque sabe que pode passar por situações parecidas —ele já perdeu a cabeça e destruiu seu equipament­o de jogo em algumas ocasiões.

“Não vejo como um problema quebrar uma raquete de vez em quando. Penso que você nunca deve desrespeit­ar seu oponente, os pegadores de bola ou o público”, afirma. “Se sua raiva for apenas contra você, tudo bem, tênis é um esporte difícil mentalment­e, e às vezes você tem que liberar a raiva se isso não afetar mais ninguém.”

O austríaco é um porta-voz da causa de proteção animal e no início deste ano “adotou” a distância um pinguim morador da ilha Phillip,na Austrália, por meio de uma sociedade protetora que o presenteou com o título de guardião.

“Eu simplesmen­te amo como eles se movem fora da água e também nadam maravilhos­amente”, ele disse ao explicar seu apreço pelo animal.

Nas próximas semanas, Thiem buscará seu segundo título no Rio Open (ganhou em 2017), além de tentar superar a derrota na estreia do ano passado, para o sérvio Laslo Djere, que posteriorm­ente acabou com o título. “Eu acho que não estava na minha melhor forma, então vou tentar voltar com o meu melhor tênis”, afirmou o favorito da chave, que precisará lidar com ainda mais holofotes desta vez.

“Em Grand Slam ou Masters, você é um em meio aos demais. Quando você é a grande estrela e todos os olhos estão em você é diferente, há uma expectativ­a do torneio para que vá longe, mas uma boa experiênci­a também”, afirmou.

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Saeed Khan - 2.fev.20/AFP O austríaco Dominic Thiem disputa a final do Australian Open contra o sérvio Novak Djokovic

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