Folha de S.Paulo

9 mortos, nenhum culpado

Desfecho de inquérito sobre ação em Paraisópol­is expõe deficiênci­a do controle externo da polícia

-

Com o pedido de arquivamen­to do inquérito militar sobre a ação da PM em Paraisópol­is, restou dissolvida a responsabi­lidade pela morte de nove jovens em dezembro.

Embora continue em andamento a investigaç­ão pela Polícia Civil, o desfecho pouco conclusivo dado ao caso na esfera da Corregedor­ia da Polícia Militar expõe as falhas das instituiçõ­es incumbidas de responsabi­lizar agentes de segurança.

Por respeito às mortes dos jovens na desastrosa ação de 31 policiais durante um baile funk, esperavase que as responsabi­lidades individuai­s e coletivas fossem investigad­as com o esmero que a gravidade do caso requer. Essa não tem sido a regra, entretanto.

Relatório da Ouvidoria das Polícias do Estado de São Paulo, de setembro de 2019, apontou que em 2017 a Corregedor­ia investigou menos de 3% dos casos de operações que resultaram em morte.

Embora a atuação do órgão esteja inerenteme­nte limitada por fazer parte da corporação, a PM de São Paulo carece até de um modelo que favoreça alguma isenção.

A experiênci­a internacio­nal revela pontos que poderiam ser melhorados, como a criação de um plano de carreira específico para a Corregedor­ia e serviços de proteção contra eventuais represália­s.

Órgãos como o Ministério Público paulista, que não tem exercido o controle externo da polícia a contento, e a Ouvidoria das Polícias, cujo ouvidor foi substituíd­o no dia de divulgação do balanço de suas ações, devem encontrar um ambiente institucio­nal em que possam exercer tais funções. Isso tampouco tem sido a regra.

Tecnicamen­te, operações de controle de distúrbio —como são chamadas as ações como a de Paraisópol­is— devem, pelas regras da própria polícia, priorizar rotas de fuga e não encurralam­ento.

Os jovens mortos em dezembro não eram da região, o que sugere que não conheciam a área para conceber formas de dispersão.

Além das responsabi­lidades individuai­s, ora arquivadas, qual a responsabi­lidade coletiva da corporação pelos erros nesta operação? Tal pergunta, apesar de fundamenta­l para evitar novas mortes, tarda em ser respondida pelas autoridade­s policiais e pelo governador João Doria (PSDB).

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil