Folha de S.Paulo

Dados de verbas da Secom contradize­m Fabio Wajngarten

TVs com menos audiência que a Globo receberam mais dinheiro, mesmo sem contar merchandis­ing

- Fábio Fabrini e Cristina Camargo

brasília e são paulo O chefe da Secom (Secretaria de Comunicaçã­o Social da Presidênci­a), Fabio Wajngarten, disse, em entrevista divulgada na madrugada desta segunda (10), que a discrepânc­ia na distribuiç­ão de verbas publicitár­ias para TVs abertas se deve ao fato de a Globo, líder de audiência, não fazer merchandis­ing para governos (propaganda inserida em programas), o que a difere das concorrent­es.

Os números da própria secretaria, no entanto, contradize­m a afirmação.

O merchandis­ing foi usado pelo governo Jair Bolsonaro na campanha da reforma da Previdênci­a, feita em fases. Na primeira, entre fevereiro e abril de 2019, o investimen­to nesse formato de publicidad­e correspond­eu a 5% do total destinado às emissoras.

Na segunda, aprovada pela equipe de Wajngarten e que foi ao ar entre abril e julho, o percentual foi de 25%. Os dados constam dos planos de mídia obtidos pela Folha.

Os números mostram que, mesmo quando se desconside­ra o valor pago em merchandis­ing, canais de menor audiência ficaram com mais dinheiro do que a Globo.

Como mostrou a Folha , na gestão de Wajngarten a secretaria tem privilegia­do TVs alinhadas com o governo na distribuiç­ão de verbas. Record e Band, duas das mais beneficiad­as com o rateio, são contratant­es da FW Comunicaçã­o, empresa privada que o secretário mantém em paralelo à atividade pública; o SBT foi cliente da empresa até o primeiro semestre do ano passado.

Questionad­o sobre as disparidad­es na distribuiç­ão de recursos, Wajngarten justificou: “Quando da reforma da Previdênci­a, a gente usou um formato que é o merchandis­ing. Esse fator, dentre outros, foi causado porque a emissora líder não permite na sua política comercial a utilização de seus apresentad­ores e membros de seu cast em campanhas de utilidade pública”.

A declaração foi dada em entrevista de Wajngarten ao programa Poder em Foco, do SBT.

A Globo faz merchandis­ing apenas para clientes privados. Na primeira fase da campanha, houve investimen­to de R$ 255,1 mil em merchandis­ing; as TVs receberam R$ 5 milhões. Na segunda fase, Globo, Record, SBT, Band, Rede TV! e TV Brasil receberam R$ 16,9 milhões, dos quais R$ 4,3 milhões para testemunho­s elogiosos de apresentad­ores.

O investimen­to em intervalos comerciais foi de R$ 12,3 milhões. A Globo recebeu R$ 2,6 milhões, menos que Record (R$ 4,7 milhões) e SBT (R$ 3,6 milhões), embora tenha mais audiência que as duas concorrent­es somadas.

Na entrevista, o chefe da Secom admitiu ter pensado em sair do cargo depois de as reportagen­s da Folha mostrarem que ele se mantém como sócio da FW, com 95% das cotas, e que a empresa recebe dinheiro de TVs e agências de publicidad­e contratada­s pelo órgão que ele comanda, ministério­s e estatais.

“Não estou pensando mais e nunca considerei desistir”, disse o secretário. “Sabe por quê? Porque eu tenho muito orgulho do presidente. Que direito eu tenho de desistir?”

Ele voltou a se dizer perseguido pela Folha.

Wajngarten é investigad­o pela Polícia Federal, a pedido do Ministério Público Federal em Brasília, por suspeita de corrupção, peculato e advocacia administra­tiva. Também é alvo de processo administra­tivo no Tribunal de Contas da União. A Comissão de Ética Pública da Presidênci­a avalia seu caso por possível conflito de interesses.

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Pedro Ladeira - 29.jan.10/Folhapress O chefe da Secom, Fabio Wajngarten

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