Folha de S.Paulo

Biden quer desconstru­ir semelhança­s de Buttigieg e Barack Obama

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washington “Esse cara não é Barack Obama”, disse um impaciente Joe Biden na noite de sábado (8). O exvice-presidente conversava com jornalista­s quando se referiu a Pete Buttigieg, seu principal adversário na ala moderada dos democratas na corrida à Casa Branca.

Mais tarde, Buttigieg foi instado a responder o concorrent­e. “Ele está certo. Eu não sou. Nem ele é.” O debate entre os dois candidatos revela a temperatur­a da disputa na oposição a Donald Trump e a tentativa de Biden de desvincula­r Buttigieg da imagem positiva de Obama —de quem Biden foi vice de 2009 a 2016.

Parte dos democratas, da imprensa americana e da própria campanha de Buttigieg, no entanto, tenta mostrar que o ex-prefeito de uma pequena cidade de Indiana é sim o espelho daquele político jovem e representa­nte das minorias que conquistou o partido e os EUA em 2008.

Aos 47 anos, Obama foi o primeiro presidente negro da história americana. Era senador por Illinois e ganhou a nomeação contra a experiente Hillary Clinton, começando com uma vitória inesperada em Iowa. Apoiadores de Buttigieg querem o mesmo roteiro.

Depois de surpreende­r em Iowa, o ex-prefeito tenta usar o exemplo de Obama para embalar a candidatur­a e ser escolhido como a novidade que o partido busca para unir os eleitores.

Buttigieg, 38, é o primeiro candidato abertament­e gay à Casa Branca. Investe no discurso de consensos e reparos, diferentem­ente da reestrutur­ação do Estado defendida pela ala progressis­ta dos democratas.

O ex-prefeito ganhou Iowa justamente porque investiu na área rural do estado que votou em Obama, mas mudou para Trump em 2016. O ex-vice se apressa em dizer que, com Obama, a história foi diferente.

“Ele foi senador por um estado grande, envolveu-se com política internacio­nal, tinha visão clara de como achava que o mundo tinha que ser”, disse Biden.

O ex-prefeito diz que 2020 é um ano que pede outro tipo de liderança, até porque o país em 2008 não era tão polarizado como este sob Trump. Mas a principal diferença é a base eleitoral. Diferentem­ente de Obama, que contava com jovens e negros entre seus principais eleitores, os apoiadores do de Buttigieg são brancos e mais velhos.

Os negros são fundamenta­is para a eleição democrata. Mas os levantamen­tos mostram que eles não gostam de Buttigieg. Além de não ter histórico com a defesa de suas bandeiras, o ex-prefeito enfrenta episódios controvers­os.

No início do mês, uma das coordenado­ras de sua campanha admitiu que existem poucas pessoas na política com quem é perigoso se comparar —e Obama é uma delas. “Você não se compara a John F. Kennedy, mas não acho errado dizer que Pete tem o talento e ‘aquela coisa’ que Obama tinha”, disse Lis Smith.

Se depender de Biden e do eleitorado negro, Buttigieg vai precisar de mais do que “aquela coisa” para se destacar como o nome centrista, bater o progressis­ta Sanders e se tornar o candidato democrata à Casa Branca.

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