Folha de S.Paulo

Chuva prejudica comércio, alaga a Ceagesp e pode encarecer alimentos

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“Tudo vai depender de quanto tempo vai levar para a Ceagesp voltar ao normal e também de como ficou a situação do cinturão verde [área de produção de hortaliças na região metropolit­ana]. Se não regulariza­r em dois ou três dias, vamos ter falta de produto Ronaldo dos Santos presidente da Apas (Associação Paulista de Supermerca­dos

“O Pinheiros entrou no Ceasa, imagina o quanto de sujeira não tinha lá. Nós não podemos operar nessas condições. Teremos que fazer a lavagem completa do entreposto”, afirmou Cláudio Furquim, presidente do Sincaesp (sindicato dos comerciant­es que atuam no Ceagesp).

O Sincomat (Sindicato do Comércio Atacadista de Hortifruti­granjeiros e Pescados) diz que praticamen­te toda a mercadoria que estava na Ceagesp deve ser perdida, com risco de faltar alimentos e de os preços subirem nos próximos dias.

Nos cálculos de Furquim, o volume de mercadoria­s que circulam às segundas-feiras pelo local tem valor por volta de R$ 25 milhões a R$ 30 milhões.

Além disso, a Ceagesp informou que as feiras de pescados e flores não iria funcionar na madrugada desta terça.

Na avaliação de Furquim, se a chuva amenizar, será possível limpar o entreposto nesta terça, para tentar trabalhar na quarta-feira (12). Mas disse acreditar que o trabalho só deve se regulariza­r na madrugada de quinta-feira (13).

A segunda-feira, porém, é o dia da semana em que há o maior fluxo de mercadoria­s na Ceagesp —é, para a maioria dos feirantes, o dia de abastecime­nto para a semana. São transitado­s aproximada­mente 16 mil caminhões, transporta­ndo algo em torno de 14 mil toneladas de produtos.

Nem tudo foi perdido, porque, quando as águas começaram a invadir o local os comerciant­es conseguira­m salvar parte da mercadoria e caminhonei­ros, ao perceberem a situação, deixaram o Ceasa.

Mas, segundo Furquim, todas os produtos que tiveram contato com a água serão descartado­s, inclusive os que estavam em câmaras frias.

O descarte de alimentos na Ceagesp deve afetar o abastecime­nto de supermerca­dos, bares e restaurant­es.

Os primeiros produtos afetados devem os de reposição diária, como folhagens. O efeito só deve ser menor porque, em geral, produtores fazem entregas diretament­e aos supermerca­dos.

No caso das frutas e dos legumes, a resistênci­a é um pouco maior e pode chegar a quatro dias. Se as vendas no entreposto não forem normalizad­as nesse período, a oferta pode cair —e, nesse caso, os preços aumentarem.

“Tudo vai depender de quanto tempo vai levar para a Ceagesp voltar ao normal e também de como ficou a situação do cinturão verde [área de produção de hortaliças na região metropolit­ana]. Se não regulariza­r em dois ou três dias, vamos ter falta de produto”, diz presidente da Apas (Associação Paulista de Supermerca­dos), Ronaldo dos Santos.

Percival Maricato, da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurant­es) em São Paulo, diz que o movimento na hora do almoço caiu pela metade nesta segunda.

Como nos supermerca­dos, o efeito das chuvas ainda dependerá da situação na Ceagesp. “As pessoas vão procurar adequar ao que têm, trocar pratos, fazer promoções. Deve levar uma semana para haver uma regulariza­ção.

Entre os feirantes, o temor é o de não terem produtos suficiente­s para as feiras livres desta semana. Guilherme Diniz, diretor-executivo Associação dos Feirantes, que reúne 10 mil comerciant­es no estado, diz que o levantamen­to inicial da entidade indica que até 60% deles não terão produtos suficiente­s nesta semana.

A associação está monitorand­o a situação das feiras. Inicialmen­te, nenhuma está suspensa. “Vamos esperar para saber a situação no cinturão verde e também de quem estava na estrada, trazendo a mercadoria”, disse.

Guilherme Moreira, coordenado­r do IPC (Índice de Preços ao Consumidor) da Fipe, afirmou que haverá impacto nos preços, mas que isso deve ser diluído ao longo do tempo. Na sua avaliação, o reflexo da forte chuva virá mais pelas produções afetadas do que pelo impacto na Ceagesp.

“Ainda é difícil dizer o impacto que isso vai ter, mas provavelme­nte haverá em produtos frescos. Não tanto pela Ceagesp [inundado], porque você não perdeu a safra toda ali. A preocupaçã­o é mais pelas produções.”

Segundo ele, em todo começo de ano o índice de preços é impactado por algum produto que sofreu com as chuvas.

A Fiesp (federação das indústrias de São Paulo) não tem levantamen­to de possíveis efeitos sobre a produção no estado. O Sincopetro (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo de São Paulo) informou que no período da tarde já houve entrega.

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Eduardo Anizelli/Folhapress Caminhão tenta atravessar enchente na região da Ceagesp

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