Folha de S.Paulo

EUA retiram Brasil de lista de países em desenvolvi­mento

Contrapart­ida para apoio à entrada da nação na OCDE reduz benefícios comerciais

- Marina Dias

O governo de Donald Trump publicou nesta segunda-feira (10) uma norma que retira o Brasil da lista de nações considerad­as em desenvolvi­mento e que dava ao país determinad­os privilégio­s comerciais.

Além do Brasil, foram afetados outros 18 países, como Argentina, Índia e Colômbia, que agora podem ser alvo dos Estados Unidos caso seja comprovado que eles subsidiam produtos acima de um determinad­o teto, por exemplo.

O principal objetivo do governo Trump, segundo nota, é reduzir o número dos países em desenvolvi­mento que poderiam receber tratamento especial sem serem afetados por barreiras contra seus produtos.

O americano quer atingir principalm­ente a China, potência asiática com quem trava uma guerra comercial há anos e que também se apresenta na OMC (Organizaçã­o Mundial do Comércio) como país em desenvolvi­mento.

Diplomatas brasileiro­s afirmam que a lista restringe apenas o cálculo de medida compensató­ria para a investigaç­ão de subsídios, mudança considerad­a pequena e que não vai afetar temas importante­s relacionad­os ao comércio internacio­nal.

Ainda segundo eles, a mudança de teto de subsídios baixou pouco, com variações de 1% a 2%.

Durante a visita a Washington, em março do ano passado, o presidente Jair Bolsonaro aceitou abrir mão de seu status de país em desenvolvi­mento na OMC em troca do apoio dos Estados Unidos à entrada do Brasil na OCDE (Organizaçã­o para a Cooperação e Desenvolvi­mento Econômico), o clube dos países ricos.

Na OMC, não há definições de países desenvolvi­dos ou em desenvolvi­mento.

Os integrante­s anunciam por si mesmos qual o status em que se colocam, mas outros membros podem contestar a autonomeaç­ão.

Entre os benefícios dados aos países emergentes estão prazos mais longos para implementa­ção de acordos e compromiss­os e medidas para aumentar oportunida­des comerciais, entre outras.

Com a decisão publicada nesta segunda-feira pelo USTr, o representa­nte comercial americano, os Estados Unidos abrem margem para impor barreiras a produtos brasileiro­s que antes poderiam estar protegidos pelo status de “em desenvolvi­mento” do país e confronta no mínimo simbolicam­ente a relação que o governo brasileiro diz ter com Trump.

Num primeiro momento, porém, especialis­tas fazem coro aos integrante­s do Itamaraty e afirmam que a medida não deve afetar tão significat­ivamente o Brasil.

Mesmo na OMC o país já vem usando pouco esse instrument­o e, na mais recente grande negociação de facilitaçã­o de comércio, em 2013, renunciou à flexibilid­ade em quase todos os compromiss­os, utilizando apenas da extensão de alguns prazos.

Para os Estados Unidos, o Brasil está, por exemplo, no G20, grupo de economias desenvolvi­das, e, portanto, não poderia seguir com status de emergente.

Entre as consequênc­ias práticas de deixar o status na OMC —mas não na mudança da lista dos EUA—, poderia estar o fim da isenção unilateral de tarifas em exportaçõe­s, pelo SGP (Sistema Geral de Preferênci­as), do direito a acordos parciais de comércio com outros países em desenvolvi­mento e de parte dos empréstimo­s do Banco Mundial.

Um dos principais objetivos dos EUA é acabar com a possibilid­ade de países se autodefini­rem como “em desenvolvi­mento”, para tentar atingir a China, com quem os americanos travam uma guerra comercial há anos.

Os chineses se declaram emergentes na OMC, e os EUA propõem que países que são membros ou estão em processo de acesso à OCDE, além de membros do G20, por exemplo, como é o caso de Pequim, não possam se autodeclar­ar nesse status.

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Mike Theiler/Reuters O presidente Donald Trump gesticula ao deixar a Casa Branca; Argentina, Índia e Colômbia também perdem status de nações em desenvolvi­mento

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