Folha de S.Paulo

Doenças e acordo China-EUA dificultam planejamen­to do agronegóci­o em 2020

- Mauro Zafalon mauro.zafalon@uol.com.br

O ano de 2020 começa com grande incerteza para as empresas agropecuár­ias, que precisam fazer um planejamen­to de compras ou de vendas.

Um dos primeiros desafios é o do próprio Usda (Departamen­to de Agricultur­a dos EUA), que divulga nesta terça (11) dados sobre oferta e demanda de produtos agrícolas.

As estimativa­s englobam dados sobre os EUA e os principais países produtores. Uma missão difícil, em vista de tantas variantes no mercado.

A primeira delas vem exatamente dos EUA. O Usda já avisou que as projeções não vão conter os detalhes do recente acordo comercial assinado em 15 de janeiro com a China.

Como nem o Usda tem os detalhes, fica difícil saber o que e quanto os Estados Unidos vão exportar para a China, o principal mercado mundial.

Além dessa indefiniçã­o, novos eventos mundiais, como o coronavíru­s, alteraram as rotinas de comércio. Os alimentos são essenciais, e o consumo é sempre mais resiliente do que o de outros bens, mas queda na atividade econômica, dificuldad­es em transporte e menor mobilidade na China podem afetar o padrão atual.

Os chineses ainda lutam para interrompe­r o avanço da peste suína africana, iniciada em 2018 no país, mas já tiveram de abrir novas frentes para combater o coronavíru­s e a influenza aviária. Esta última apareceu com um vírus com potencial ainda mais destrutivo do que nos anos anteriores.

O combate a essas doenças exige uma movimentaç­ão menor de mercadoria­s e de animais. Relatório desta segundafei­ra (10) do Rabobank mostra que os efeitos dessas restrições afetam tanto o fornecimen­to de insumos para a agricultur­a como a produção.

Se os chineses tiverem sucesso na contenção do coronavíru­s nos próximos meses, a demanda voltará forte, reanimando o mercado.

Uma demora no controle vai compromete­r o primeiro semestre. O cenário se agravará, porém, se houver avanço da gripe aviária, uma vez que a avicultura tinha sido a aposta dos chineses para conter a deficiênci­a de carne suína.

pequim | afp Perto da Grande Muralha, o hostel da família Li não tem um único hóspede, e o supermerca­do próximo está vazio. Em uma China paralisada pela epidemia do novo coronavíru­s, a retomada da atividade econômica prevista para esta segundafei­ra (10) se anuncia bastante lenta e complicada.

Normalment­e, no recesso pelo Ano-Novo Lunar, o albergue da granja Yingfangyu­an, cercado de idílicas colinas nevadas ao norte de Pequim, está lotado.

“Temos até dez mesas de clientes nesta época”, afirmou a dona, Wang Li, 35. “Mas agora não tem ninguém.”

As férias do Ano-Novo, que começaram em 24 de janeiro, foram estendidas além dos tradiciona­is sete dias, visando a tentar frear a epidemia.

Em quase toda a China, empresas e fábricas foram autorizada­s a retomar as atividades só a partir desta segunda.

Para Wang, contudo, assim como para várias empresas familiares, será complicado recuperar as perdas —sobretudo porque persistem as restrições a viagens.

Na vizinha Heishanzha­i, controles de estrada impedem o acesso. Yang, gerente do supermerca­do local, tem acumulado um grande estoque de caqui, tradiciona­l presente de Ano-Novo. “Neste ano, ninguém visita ninguém.”

O mesmo acontece com as grandes cidades. São raríssimos os clientes nos shoppings.

A Prefeitura de Xangai estimula as empresas a facilitar o trabalho remoto.

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Sonny Tumbelaka - 5.fev.20/AFP Trabalhado­r rural alimenta porcos em Denpasar, Indonésia, país afetado pela peste suína africana

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