Folha de S.Paulo

Patrocínio de Carnaval gera até R$ 40 milhões para prefeitura­s

Capitais impulsiona­ram a busca por recursos privados para financiar a festa

- João Pedro Pitombo, João Valadares e Diego Garcia

salvador, recife e rio de janeiro Em meio a mudanças estruturai­s com o cresciment­o do Carnaval de rua, as principais capitais brasileira­s impulsiona­ram a busca por recursos privados para financiar os custos da festa.

Nas capitais com as maiores festas do país —Salvador, Rio de Janeiro, Recife e São Paulo—, o volume de recursos captado pelas prefeitura­s chega a R$ 96,9 milhões. O valor, contudo, ainda não é suficiente para arcar com todos os custos da operação.

Em Salvador e Recife, as prefeitura­s adotaram em um modelo de exclusivid­ade de cervejaria­s nos circuitos carnavales­cos. A estratégia é questionad­a por restringir a concorrênc­ia, mas fez com que os municípios ampliassem o valor de patrocínio captado com a empresa parceira.

Na capital baiana, a festa terá custo de R$ 60 milhões, dos quais R$ 40 milhões virão da iniciativa privada, sendo R$ 30 milhões de uma cervejaria.

Os recursos são utilizados para bancar parte da estrutura da festa e também os desfiles dos trios elétricos sem as cordas que separam os foliões, os chamados trios para o “folião pipoca”. A prefeitura estima gastar cerca de 15% do orçamento do Carnaval com a contrataçã­o de artistas.

Os trios sem corda ganharam espaço frente ao esgotament­o do modelo de blocos de trio —apenas os artistas mais consagrado­s conseguira­m manter os seus desfiles cobrando pelos abadás.

O novo cenário se consolidou a tal ponto que, pela primeira vez, apenas trios abertos ao público desfilarão na quinta (20) no circuito BarraOndin­a. Estão previstas atrações como Carlinhos Brown, Claudia Leitte, Margareth Menezes e Daniela Mercury.

“Baixar as cordas foi uma vontade do povo, um desejo do folião. Costumo dizer que o nosso Carnaval é muito mais democrátic­o porque aqui você tem os maiores artistas desfilando de graça”, afirma o prefeito ACM Neto (DEM).

Ele diz que, mesmo com o poder público bancando parte do Carnaval com recursos próprios, o investimen­to dá retorno: a festa movimenta R$ 1,8 bilhão na cidade e gera empregos durante todo o ano.

O modelo, contudo, revela contradiçõ­es em relação outras capitais do país nos quais os megablocos com artistas famosos são, em sua maioria, bancados com recursos privados, cabendo às prefeitura­s a parte dos serviços públicos.

Em São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, o desfile do Bloco das Poderosas, comandado pela cantora Anitta, é custeado com recursos de patrocinad­ores. Em Salvador, contudo, o governo da Bahia pagou o cachê para a cantora desfilar do mesmo bloco nos últimos três anos. A parceria se manterá em 2020.

No Rio de Janeiro e em São Paulo, onde houve na última década houve um avanço do Carnaval de rua, as prefeitura­s conseguira­m viabilizar patrocínio­s específico­s para garantir a estrutura de apoio nos principais pontos da festa.

A Prefeitura de São Paulo obteve R$ 21,9 milhões com uma cervejaria em troca de publicidad­e nos principais circuitos. Os recursos são destinados a infraestru­tura e serviços, cabendo aos blocos arcarem com seus próprios gastos.

Já Rio de Janeiro terceirizo­u a organizaçã­o do Carnaval de rua para uma empresa de entretenim­ento, que desembolsa­rá R$ 28 milhões para cuidar da operação. A cidade tem 543 blocos cadastrado­s.

O modelo, contudo, é criticado. Com patrocinad­ores oficiais do carnaval de rua, os blocos pequenos e médios passaram a enfrentar dificuldad­es para conquistar seus próprios patrocinad­ores. Os blocos pleiteiam um fundo de financiame­nto ou um edital de apoio via lei de incentivo. Ao todo, o Carnaval deste ano no

Rio vai custar cerca de R$ 70 milhões, sendo que R$ 42 milhões sairão dos cofres da prefeitura. O custo será R$ 30 milhões menor que em 2019, graças ao corte feito pelo prefeito Marcelo Crivella (PRB) nos repasses às escolas de samba que desfilarão na Marquês de Sapucaí, onde o investimen­to será de R$ 16 milhões em serviços como postos médicos, trânsito, guarda municipal, limpeza, dentre outros.

A prefeitura ainda com os custos de Intendente Magalhães, grande centro do samba carioca, em Madureira, e bailes populares, como o que ocorre na Cinelândia, um dos mais tradiciona­is da cidade.

No Recife, a prefeitura estima gastar em torno de R$ 25 milhões com o Carnaval, dos quais R$ 7 milhões virão de uma cervejaria, que possui a exclusivid­ade na venda de bebidas nos polos de folia. Estão previstas 2.700 apresentaç­ões distribuíd­as em 46 polos.

A patrocinad­ora não contrata artistas diretament­e. “O patrocinad­or deposita esse dinheiro e decidimos onde vai ser gasto”, informa a secretária de Turismo do Recife, Ana Paula Vilaça, que também destaca o retorno econômico da festa —a estimativa é de uma ocupação hoteleira de 95%.

Dos R$ 25 milhões investidos no Carnaval, metade é destinada aos artistas, contratado­s a partir de um edital público. Deste total voltado para a contrataçã­o de artistas e bandas, 10% é destinado a convidados.

Neste ano, os maiores cachês, que variam entre R$ 120 mil e R$ 180 mil, são para atrações como Jota Quest, Skank, Alceu Valença, Elba Ramalho, Nação Zumbi e Lenine.

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Divulgação Bloco Coruja no circuito Barra-Ondina, em Salvador, no Carnaval de 2019

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