Patrocínio de Carnaval gera até R$ 40 milhões para prefeituras
Capitais impulsionaram a busca por recursos privados para financiar a festa
salvador, recife e rio de janeiro Em meio a mudanças estruturais com o crescimento do Carnaval de rua, as principais capitais brasileiras impulsionaram a busca por recursos privados para financiar os custos da festa.
Nas capitais com as maiores festas do país —Salvador, Rio de Janeiro, Recife e São Paulo—, o volume de recursos captado pelas prefeituras chega a R$ 96,9 milhões. O valor, contudo, ainda não é suficiente para arcar com todos os custos da operação.
Em Salvador e Recife, as prefeituras adotaram em um modelo de exclusividade de cervejarias nos circuitos carnavalescos. A estratégia é questionada por restringir a concorrência, mas fez com que os municípios ampliassem o valor de patrocínio captado com a empresa parceira.
Na capital baiana, a festa terá custo de R$ 60 milhões, dos quais R$ 40 milhões virão da iniciativa privada, sendo R$ 30 milhões de uma cervejaria.
Os recursos são utilizados para bancar parte da estrutura da festa e também os desfiles dos trios elétricos sem as cordas que separam os foliões, os chamados trios para o “folião pipoca”. A prefeitura estima gastar cerca de 15% do orçamento do Carnaval com a contratação de artistas.
Os trios sem corda ganharam espaço frente ao esgotamento do modelo de blocos de trio —apenas os artistas mais consagrados conseguiram manter os seus desfiles cobrando pelos abadás.
O novo cenário se consolidou a tal ponto que, pela primeira vez, apenas trios abertos ao público desfilarão na quinta (20) no circuito BarraOndina. Estão previstas atrações como Carlinhos Brown, Claudia Leitte, Margareth Menezes e Daniela Mercury.
“Baixar as cordas foi uma vontade do povo, um desejo do folião. Costumo dizer que o nosso Carnaval é muito mais democrático porque aqui você tem os maiores artistas desfilando de graça”, afirma o prefeito ACM Neto (DEM).
Ele diz que, mesmo com o poder público bancando parte do Carnaval com recursos próprios, o investimento dá retorno: a festa movimenta R$ 1,8 bilhão na cidade e gera empregos durante todo o ano.
O modelo, contudo, revela contradições em relação outras capitais do país nos quais os megablocos com artistas famosos são, em sua maioria, bancados com recursos privados, cabendo às prefeituras a parte dos serviços públicos.
Em São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, o desfile do Bloco das Poderosas, comandado pela cantora Anitta, é custeado com recursos de patrocinadores. Em Salvador, contudo, o governo da Bahia pagou o cachê para a cantora desfilar do mesmo bloco nos últimos três anos. A parceria se manterá em 2020.
No Rio de Janeiro e em São Paulo, onde houve na última década houve um avanço do Carnaval de rua, as prefeituras conseguiram viabilizar patrocínios específicos para garantir a estrutura de apoio nos principais pontos da festa.
A Prefeitura de São Paulo obteve R$ 21,9 milhões com uma cervejaria em troca de publicidade nos principais circuitos. Os recursos são destinados a infraestrutura e serviços, cabendo aos blocos arcarem com seus próprios gastos.
Já Rio de Janeiro terceirizou a organização do Carnaval de rua para uma empresa de entretenimento, que desembolsará R$ 28 milhões para cuidar da operação. A cidade tem 543 blocos cadastrados.
O modelo, contudo, é criticado. Com patrocinadores oficiais do carnaval de rua, os blocos pequenos e médios passaram a enfrentar dificuldades para conquistar seus próprios patrocinadores. Os blocos pleiteiam um fundo de financiamento ou um edital de apoio via lei de incentivo. Ao todo, o Carnaval deste ano no
Rio vai custar cerca de R$ 70 milhões, sendo que R$ 42 milhões sairão dos cofres da prefeitura. O custo será R$ 30 milhões menor que em 2019, graças ao corte feito pelo prefeito Marcelo Crivella (PRB) nos repasses às escolas de samba que desfilarão na Marquês de Sapucaí, onde o investimento será de R$ 16 milhões em serviços como postos médicos, trânsito, guarda municipal, limpeza, dentre outros.
A prefeitura ainda com os custos de Intendente Magalhães, grande centro do samba carioca, em Madureira, e bailes populares, como o que ocorre na Cinelândia, um dos mais tradicionais da cidade.
No Recife, a prefeitura estima gastar em torno de R$ 25 milhões com o Carnaval, dos quais R$ 7 milhões virão de uma cervejaria, que possui a exclusividade na venda de bebidas nos polos de folia. Estão previstas 2.700 apresentações distribuídas em 46 polos.
A patrocinadora não contrata artistas diretamente. “O patrocinador deposita esse dinheiro e decidimos onde vai ser gasto”, informa a secretária de Turismo do Recife, Ana Paula Vilaça, que também destaca o retorno econômico da festa —a estimativa é de uma ocupação hoteleira de 95%.
Dos R$ 25 milhões investidos no Carnaval, metade é destinada aos artistas, contratados a partir de um edital público. Deste total voltado para a contratação de artistas e bandas, 10% é destinado a convidados.
Neste ano, os maiores cachês, que variam entre R$ 120 mil e R$ 180 mil, são para atrações como Jota Quest, Skank, Alceu Valença, Elba Ramalho, Nação Zumbi e Lenine.