Folha de S.Paulo

Cidade de PE reduz crime mais pela ação local do que federal

Mix de programas melhora índices, e projeto de Moro só incrementa efetivo

- João Valadares

paulista (ce) Paulista (uma das cinco cidades escolhidas no país para receber o projeto-piloto do programa Em Frente, Brasil) na região metropolit­ana do Recife, reduziu em 43% o número de homicídios no ano anterior ao envio de cem homens da Força Nacional.

O declínio mais acentuado foi de 2017 para 2018, passando de 223 assassinat­os para 127. No mesmo período, a taxa de homicídios por 100 mil habitantes apresentou retração de 67,5 para 37,9. Em 2019, houve 88 homicídios na cidade, o que significa um recuo de 31% e uma taxa de 25,92.

Em Paulista, a queda mais significat­iva ocorreu após mescla de ações do programa Pacto pela Vida, do governo de Pernambuco, com intervençõ­es do município, a exemplo de uso de aplicativo­s online para denúncias da população, investimen­to na aproximaçã­o da guarda com alunos da rede pública, aulas em praças e fortalecim­ento de prevenção a drogas.

No fim de agosto do ano passado, o governo federal enviou 500 agentes da Força Nacional a Ananindeua (PA), Cariacica (ES), São José dos Pinhais (PR), Paulista (PE) e Goiânia, alguns dos municípios médios mais violentos do país, pelo programa Em Frente, Brasil.

Eles ficarão ali ao menos até junho para, com polícias locais, fazer o patrulhame­nto ostensivo nos bairros que concentram a maior parte dos crimes e ajudar nas investigaç­ões. A ideia é que, a partir de março, cheguem ações sociais em parceria com outros dez ministério­s.

O efetivo da Força Nacional em Paulista foi distribuíd­o em seis áreas da cidade de pouco mais de 300 mil habitantes, escolhidas a partir do mapeamento das chamadas “zonas quentes” indicadas pelo aplicativo, e começou a realizar rondas em setembro de 2019.

Levando em consideraç­ão só o último quadrimest­re do ano, verifica-se na cidade redução significat­iva em 2018.

O declínio foi de 63,4%. Caiu de 71 assassinat­os, nos meses de setembro, outubro, novembro e dezembro de 2017, para 26 no mesmo período de 2018. Em 2019, contabiliz­ando apenas o último quadrimest­re, período em que a Força Nacional passou a atuar, a diminuição foi de 19,3%.

Em números absolutos, a presença da Força Nacional no município não trouxe uma queda tão significat­iva. A diferença é de cinco assassinat­os, de 26 para 21. “Quando a Força Nacional chegou, a gente já tinha conseguido números bastante expressivo­s. Por isso, de 2018 para 2019, a redução é menor. Eles chegaram para se integrar a uma política já existente, o que nos ajuda bastante”, afirmou o secretário de Segurança Cidadã de

Paulista, Manoel de Alencar.

Ele destaca a presença do governo federal. “Ele [ministro da Justiça, Sergio Moro] entendeu o que Paulista já vinha fazendo. E aí integrou com o Em frente, Brasil.”

Nas ruas, a Força Nacional aumentou a sensação de segurança das pessoas, mesmo servindo apenas como incremento ao efetivo policial local.

Nascido e criado em Maranguape II, bairro que apresenta índices elevados de violência, o comerciant­e Rogério Martins atesta o clima de maior segurança. “Depois que a Força Nacional chegou aqui, a criminalid­ade diminuiu. Aqui, tinha muita morte por causa do tráfico de drogas. Totalmente fora de controle. Muita gente morria na praça e ruas transversa­is em plena luz do dia”, comenta.

Para facilitar a integração, o centro da Força Nacional em Paulista fica no mesmo terreno da Secretaria de Segurança Cidadã, onde funcionam um batalhão da Polícia Militar e a central de monitorame­nto por câmeras controlada pela PM e guarda municipal.

A queda nos índices de homicídio em Paulista em 2018 acompanhou a tendência de Pernambuco como um todo, que, após ano recorde da série histórica em 2017, com 5.428 homicídios, reduziu 23,1% e 16,9% nos dois anos posteriore­s. “Paulista sempre foi um dos focos por ter índice elevado de homicídios. A queda ocorre em todo o estado desde 2018. Estamos com 25 meses seguidos de redução de homicídios”, diz o secretário de Defesa Social, Antônio de Pádua.

Ele espera que, na segunda fase do programa, iniciada em janeiro com ações preventiva­s, o repasse de recursos do governo federal seja maior.

O Em Frente, Brasil liberou para investimen­to em Paulista na primeira etapa R$ 4 milhões. Grande parte do dinheiro foi aplicado em melhorias na estrutura física de um batalhão da Polícia Militar na cidade, criação de uma base e compra de viaturas para o Corpo de Bombeiros e incremento­s na Polícia Científica.

Pouco mais de R$ 1 milhão foi gasto em inteligênc­ia de monitorame­nto para implementa­ção de leitura facial e de placas de veículos.

A cidade diz esperar recursos da segunda etapa para recuperar 23 praças e áreas de lazer. “Já existe a sensação de segurança. Vamos levar o povo para a rua de volta”, diz Alencar.

Em Paulista, 405 homens da Secretaria de Defesa Social (Polícias Militar, Civil, Científica e Corpo de Bombeiros) trabalham em conjunto com Força Nacional, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e Guarda Municipal.

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Leo Caldas/Folhapress Soldados da Força Nacional, em ronda no bairro do município de Paulista (PE), posam com crianças
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