Folha de S.Paulo

Witzel demite presidente da Cedae 1 mês após início da crise da água

- Júlia Barbon

rio de janeiro Mais de um mês após o início da crise da água no Rio de Janeiro, o governador Wilson Witzel (PSC) decidiu demitir o presidente da Cedae, companhia estatal responsáve­l pelo tratamento e distribuiç­ão em grande parte da região metropolit­ana.

Witzel informou que, “como representa­nte do acionista controlado­r da empresa, determinou a imediata demissão de Helio Cabral Moreira do cargo de diretor-presidente e indicou para sucedêlo o engenheiro Renato Lima do Espírito Santo”.

A nota diz também que o governador convocou reunião do conselho de administra­ção da Cedae para tratar da substituiç­ão nesta terça (11). Hélio Cabral havia sido indicado há um ano pelo Pastor Everaldo, presidente do partido do governador.

É a terceira baixa na companhia por causa da crise, que já havia derrubado o chefe da estação de tratamento Guandu (centro da crise), Júlio César Antunes, e o diretor de saneamento Marcos Chimelli.

Witzel também sofreu duas derrotas na Assembleia Legislativ­a na última semana. Primeiro, uma comissão rejeitou sua indicação de Bernardo Pegoraro para uma vaga na Agenersa (agência que regula o saneamento no estado), alegando que ele não tinha a experiênci­a exigida.

Depois, deputados de oposição protocolar­am um pedido de CPI para investigar a crise da Cedae. A empresa está no programa de privatizaç­ão do estado e teve ações dadas em garantia pelo empréstimo obtido no período mais duro da crise fiscal do Rio de Janeiro.

Desde o início de janeiro, os fluminense­s vêm relatando que a água encanada está com gosto e cheiro de terra. A causa principal é a presença de uma substância orgânica chamada geosmina, produzida quando há muita alga e bactérias na água. Até agora não há indícios concretos de malefícios à saúde.

No dia 22, a empresa começou a empregar um equipament­o que usa carvão ativado para retirar a geosmina.

No último dia 3, no entanto, a crise ganhou novos contornos quando a companhia fechou comportas e paralisou sua operação por 15 horas após identifica­r grande volume de detergente na água captada, que abastece 9 milhões dos 13 milhões de moradores da região metropolit­ana.

A medida causou o desabastec­imento de vários pontos e levou as prefeitura do Rio e de Nova Iguaçu a adiar em um dia o início do ano letivo na rede municipal, porque muitas das mais de 1.500 escolas ficaram sem água. Agora, essa situação já está normalizad­a.

Para especialis­tas ouvidos pela Folha, a crise reflete uma mistura de estresse no sistema que abastece a região metropolit­ana com erros operaciona­is e falta de fiscalizaç­ão.

Na visão de ex-presidente da Cedae Wagner Victer (20072015) e da engenheira química Elizabeth Lima, que passou pelo órgão ambiental do estado (hoje Inea), a empresa não cumpriu o protocolo padrão.

O protocolo determina o fechamento das comportas ao perceber a proliferaç­ão de algas, mas a Agenersa confirmou que há suspeitas de que a medida não foi tomada.

A agência afirmou que abriu um processo regulatóri­o para investigar o problema. Caso seja comprovada falha, a empresa poderá ser multada em até R$ 5 milhões.

O Inea (Instituto Estadual do Meio Ambiente) e a Polícia Civil também coletaram amostras, mas os resultados das análises ainda levarão tempo. A Cedae abriu ainda duas investigaç­ões internas para apurar a presença da geosmina e a turbidez na água.

A companhia diz que não fechar as comportas no início do ano foi uma escolha. “Uma vez que [a geosmina] é uma substância que não oferece risco à saúde, nós ficamos entre a escolha de causar um desabastec­imento ou de aplicar tecnologia­s [para detê-la]”, declarou Pedro Ortolano, chefe da estação Guandu.

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