Folha de S.Paulo

África do Sul libertou, há 30 anos, Nelson Mandela

- Jair dos Santos e Cristiano Cipriano Pombo

são paulo Há 30 anos, o então mais famoso preso político do mundo conquistav­a a liberdade. Após passar 27 anos como prisioneir­o, Nelson Rolihlahla Mandela (1918-2013) deixava a prisão-fazenda de Victor Verster, na Cidade do Cabo (África do Sul), ao lado de sua então mulher, Winnie, às 11h15 (horário de Brasília).

“Ergo-me diante de vocês não como um profeta, mas como um humilde servo do povo”, disse ele, em seu primeiro discurso, na praça Grand Parade, em frente à prefeitura.

As comemoraçõ­es pela libertação do líder, entretanto, deixaram 14 mortos e cem pessoas feridas, de acordo com a polícia sul-africana.

Condenado à prisão perpétua por traição e sabotagem, então com 71 anos, Mandela era o principal líder da luta contra o apartheid, regime de segregação racial que a minoria branca impôs à maioria negra na África do Sul. Tanto que ele disse que a criação da Umkhonto We Sizwe (A Lança da Nação), braço armado do Congresso Nacional Africano, nos anos 60, foi ação “puramente defensiva contra a violência do apartheid”.

A soltura de Madiba, como era conhecido devido ao clã

Thembu ao qual pertencia, foi parte das negociaçõe­s iniciadas pelo presidente Frederik de Klerk, que tomara posse em setembro de 1989. E virou notícia no mundo todo.

“Os fatores que nos obrigaram a optar pela luta armada ainda existem hoje. Não nos resta opção senão continuar neste caminho”, disse ele, que naquele momento manteve vivo o fantasma da luta armada para obter posição de força nas negociaçõe­s com o governo sul-africano pelo fim do estado de emergência e pela libertação dos presos políticos.

Mandela passou a primeira noite fora da prisão na casa do arcebispo Desmond Tutu. O líder anti-apartheid foi enfático ao reconhecer o empenho da população pela sua libertação. “Seus incansávei­s e heroicos sacrifício­s tornaram possível eu estar aqui hoje. Coloco, portanto, os anos restantes de minha vida em suas mãos.”

E colocou. Tanto que, dois dias depois, com um inflamado discurso no estádio de Soweto—para100mil­pessoas—, ele construiu caminho para a paz na África do Sul, o que lhe garantiu Nobel em 1993, ao lado de Le Klerk. Depois, tornou-se, em 94, o primeiro presidente negro do país e governou por dois mandatos.

Mandela morreu aos 95, em 5 de dezembro de 2013.

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Allen Tannenbaur­n/Zumapress/Xinhua Nelson Mandela, ao lado de Winnie, ao deixar a prisão em 11 de fevereiro de 1990

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