Folha de S.Paulo

Governo avalia desistir de sua reforma administra­tiva

Plano é usar projetos já no Congresso; Guedes e Maia querem via pelo Executivo

- Fábio Pupo e Julia Chaib Colaborara­m Bernardo Caram, Daniel Carvalho, Gustavo Uribe, Ricardo Della Coletta, Talita Fernandes e Thiago Resende

O governo passou a avaliar a desistênci­a do envio de um projeto próprio de reforma administra­tiva ao Congresso. As novas regras deverão alterar, por exemplo, a contrataçã­o e planos de carreira.

A ideia foi mal recebida pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

A proposta, que começou a ser discutida entre governo e congressis­tas, é o Executivo deixar de enviar uma PEC (proposta de emenda à Constituiç­ão) de sua autoria e aproveitar matérias já em tramitação. A partir daí, seriam enviadas apenas sugestões ao Congresso.

A equipe de Paulo Guedes (Economia) trabalha há meses no texto, que prevê mudanças mais profundas para novos servidores. Eles insistem que as medidas sejam enviadas pelo Executivo.

A resistênci­a estaria no núcleo político do Palácio do Planalto, devido às eleições.

O líder do governo no Senado disse que estudava formas de agilizar trâmites, mas que diante da reação de Maia o Executivo deve apresentar projeto próprio.

brasília O governo passou a avaliara desistênci­a do envio de uma proposta própria de reforma administra­tiva ao Congresso. As novas regras deverão alterar, por exemplo, o regime de contrataçã­o e planos de carreira.

A ideia, no entanto, foi recebida com contraried­ade pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

A proposta, que começou a ser discutida entre governo e co ngres si stas,éo Executivo deixar de enviar uma PEC (proposta de emenda à Constituiç­ão) de sua autoria e aproveitar matérias já em tramitação. A partir daí, seriam enviadas apenas sugestões ao Congresso.

A equipe econômica ainda insiste em que as medidas sejam enviadas pelo Executivo a deputados e senadores. A Folha apurou que a resistênci­a está no núcleo político do Palácio do Planalto em razão das eleições.

Ao tomar conhecimen­to do movimento, Maia mandou um recado ao Executivo.

O líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), disse na noite desta terça-feira (11) que Maia o procurou no fim da tarde para afirmar que prefere que o governo mantenha o plano inicial de mandar ao Congresso a PEC da reforma administra­tiva.

Diante da sinalizaçã­o de Maia, Bezerra disse que a tendência do Executivo agora é enviar uma proposta própria para alterara estrutura do funcionali­smo público.

Segundo Bezerra, o governo estava estudando formas de agilizara tramitação da reforma administra­tiva. Após conversas com líderes partidário­s, surgiu a ideia de embutir as medidas previstas na PEC em uma proposta que já tramita na Câmara.

O Executivo poderia economizar cerca de 30 dias, tempo estimado para aprovar o texto na CCJ (Comissão de Constituiç­ão e Justiça), primeira etapa da tramitação na Câmara.

“Havia umas sugestões de que, como há PECs tramitando na Câmara, para ganhar tempo, se poderia encaminhar também como está sendo feito na tributária, mas Rodrigo [Maia] prefere que o governo mande a PEC. O governo está admitindo mesmo é mandar a PEC”, disse.

Com o movimento de Maia, o governo pode recuar da intenção de aglutinar as propostas.

“Se discutia como agilizar para ver como seria mais rápido, como a reforma tributária. Já passou pela CCJ e agora está na comissão especial”, afirmou Bezerra.

“Depois de resolvido o problema da comissão mista que vai unificar o texto, ela vai direto para a comissão especial. Então, nas discussões que estávamos desenvolve­ndo, surgiu uma ideia, deve ter alguma PEC de reforma administra­tiva que dê para acoplar, mas está prevalecen­do a ideia do governo de mandar a PEC.”

Agora, Bezerra defende o envio da PEC no máximo até a próxima semana para que ela consiga ser aprovada até o meio do ano, antes das eleições municipais.

“O que tenho dito é que, para a PEC tramitar com chances de ser aprovada até o fim de julho, tem de chegar aqui até o Carnaval. Então, a minha expectativ­a é que a PEC seja enviada até a próxima semana”.

Uma eventual desistênci­a da PEC ganhou espaço nas discussões entre governo e congressis­tas depois de o ministro da Economia, Paulo Guedes, ter comparado servidores a parasitas.

“O funcionali­smo teve aumento de 50% acima da inflação, além de ter estabilida­de na carreira e aposentado­ria generosa. O hospedeiro está morrendo, o cara virou um parasita”, disse na última sexta-feira (7).

A declaração levou a reação do funcionali­smo, com notas de protesto de associaçõe­s de servidores (como os da Receita Federal e do BNDES).

A fala do ministro rendeu uma denúncia contra ele na Comissão de Ética da Presidênci­a da República, feita pelo Fonacate (Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado).

A alternativ­a de usar textos existentes no Congresso e mandar apenas sugestões foi usada na reforma tributária, quando o governo viu os dois canais de tramitação (Câmara e Senado) obstruídos com propostas próprias e as duas Casas disputando protagonis­mo sobre o tema.

Por isso, o ministro desistiu de uma PEC de sua autoria e decidiu enviar apenas sugestões aos trabalhos de deputados e senadores.

Guedes e sua equipe trabalham há meses na proposta própria de reforma administra­tiva. Ela prevê mudanças mais profundas para novos servidores.

Estão nos planos do ministro criar novos regimes de contrataçã­o de servidores, mudar a avaliação de desempenho e enxugar o número de carreiras, além de outros itens.

As propostas de Guedes sobre o tema têm sido apresentad­as nas últimas semanas a ministros e outros integrante­s do governo. Paralelame­nte, vêm ganhando ajustes antes de serem concluídas.

A previsão inicial do Ministério da Economia era que ela seria enviada em novembro, com o pacotaço que altera regras fiscais e orçamentár­ias e que ganhou o nome de Plano Mais Brasil.

Depois, o ministro disse que ela seria apresentad­a no início do ano. Mas, até hoje, o texto não foi lançado.

Na equipe econômica, a justificat­iva para o adiamento é o timing político. Bolsonaro estaria pedindo mais tempo diante dos protestos vistos pela América Latina, como no Chile.

A ala política do governo, liderada pelo ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, também influencio­u na decisão do adiamento.

A reforma também é considerad­a sensível porque atinge uma categoria de trabalhado­res que tem forte lobby no Congresso.

A frente parlamenta­r do serviço público, por exemplo, tem 255 deputados, ou quase metade dos 513.

“Havia umas sugestões de que, como há PECs tramitando na Câmara, para ganhar tempo, se poderia encaminhar também como está sendo feito na tributária, mas Rodrigo [Maia] prefere que o governo mande a PEC

Fernando Bezerra Coelho

líder do governo no Senado

 ?? Pedro Ladeira/Folhapress ?? Guedes cumpriment­a Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), à frente de Rodrigo Maia e Dias Toffoli
Pedro Ladeira/Folhapress Guedes cumpriment­a Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), à frente de Rodrigo Maia e Dias Toffoli

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