Folha de S.Paulo

Guedes propõe discutir valor de combustíve­is no pacote tributário

- Bernardo Caram Bruno Boghossian e Bernardo Caram

brasília Pressionad­o por governador­es, o ministro Paulo Guedes (Economia) propôs que o debate sobre possível redução nos tributos que incidem sobre combustíve­is seja levado para o Congresso na discussão da reforma tributária e do pacto federativo.

Em uma tentativa de apaziguar a relação entre o governo federal e os estados, estremecid­a após declaraçõe­s do presidente Jair Bolsonaro sobre o preço dos combustíve­is, Guedes aceitou participar de reunião em Brasília nesta terçafeira (11) com a presença de governador­es ou representa­ntes de todos os estados.

No início do mês, Bolsonaro desafiou os governador­es e disse que zeraria os tributos federais se os estados eliminasse­m o ICMS cobrado desses produtos. “Eu zero o [imposto] federal se eles zerarem o ICMS. Está feito o desafio aqui agora. Eu zero o federal hoje, eles zeram o ICMS. Se topar, eu aceito. Tá ok?”, disse Bolsonaro na saída ocasião.

Em aperto financeiro, gestores regionais reagiram e afirmaram que a proposta é um blefe populista.

Segundo participan­tes da reunião desta terça com o ministro, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), chegou a se exaltar no início do encontro, mas depois se desculpou. Ele afirmou que seria criminoso sugerir que os estados abram mão da arrecadaçã­o do ICMS.

Ibaneis afirmou que todos os governador­es concordam com a ideia de levar a discussão para avaliação do Congresso. A ideia é que a reestrutur­ação dos tributos permita uma redução das cobranças sobre combustíve­is ao mesmo tempo que o novo pacto federativo viabilizar­ia um aumento nos repasses de recursos federais para os estados e municípios.

Segundo relato do governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), Guedes afirmou na reunião que avalia não ser possível zerar os tributos neste momento e que um debate sobre eventual redução dos impostos deve ser feito a médio e longo prazo.

“Tem que haver primeiro um fortalecim­ento dos estados e municípios, algo que só pode ser resolvido com a aprovação do novo pacto federativo e da reforma tributária.”

Governador­es afirmam que a presença de Guedes no encontro foi um passo importante, mas cobram que o governo federal, especialme­nte Bolsonaro, faça uma retratação. Eles argumentam que viraram alvo da população depois que o presidente sugeriu que seria possível zerar os tributos.

Nas últimas semanas, Bolsonaro insistiu nas críticas e reclamou que as quedas de preços dos combustíve­is nas refinarias acabam não chegando aos postos.

Estados cobram da Petrobras R$ 13,8 bi em impostos e multa

brasília Enquanto Jair Bolsonaro (sem partido) trava uma batalha com governador­es pela redução de tributos estaduais sobre combustíve­is, seis unidades da Federação cobram da Petrobras pelo menos R$ 13,8 bilhões. A estatal diz discordar das cobranças.

Governos locais cobram da Petrobras —que é controlada pela União— débitos com impostos (principalm­ente o ICMS), além de multas, juros e outros encargos. A petroleira questiona esses débitos.

A estatal figura nas primeiras posições dos cadastros da dívida ativa de diversos estados, como Rio, São Paulo, Pará e Bahia. A inclusão de empresas nessas listas ocorre quando os processos administra­tivos de cobrança são encerrados e as autoridade­s passam a exigir o pagamento do débito.

A Petrobras lidera o ranking da dívida ativa do Rio, com R$ 9,4 bilhões inscritos em 168 diferentes processos de cobrança. A petroleira figura ainda em segundo lugar na lista do governo de São Paulo, com débitos de R$ 3,6 bilhões.

A Petrobras disse que os valores cobrados pelos estados não representa­m uma ausência de pagamento de tributos, mas uma “divergênci­a de interpreta­ção da norma tributária”.

A estatal informou “discordar das cobranças promovidas pelos estados” e que defende entendimen­to diferente daquele adotado pelas autoridade­s fiscais. “Reconhece, portanto, existir um contencios­o tributário [débitos contestado­s], mas não uma dívida líquida e certa junto aos Estados”, declarou a petroleira.

Grandes empresas costumam se envolver em disputas com autoridade­s federais e estaduais por divergênci­as na cobrança de impostos. A falta de pagamento ou contestaçõ­es na arrecadaçã­o geram processos administra­tivos que podem levar à inscrição da pessoa jurídica no cadastro da dívida ativa.

Nesses processos, os contribuin­tes têm direito a defesa e a apresentaç­ão de recursos para questionar a autuação. Após a conclusão do processo administra­tivo e a inclusão da cobrança na dívida ativa, a empresa pode recorrer à Justiça ou negociar o pagamento do débito.

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