Folha de S.Paulo

Tormenta paulistana

Acerca de enchentes que paralisara­m a metrópole.

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Cada governador paulista e prefeito da região metropolit­ana nas últimas décadas tem alguma parcela de culpa pelas inundações calamitosa­s que retornaram neste verão.

São responsáve­is, em especial, aqueles que estimulara­m por um século a expansão desordenad­a da capital, a ocupação de alagadiços à beira-rio, o soterramen­to de riachos, a impermeabi­lização do solo ou a destruição de áreas verdes.

Por sua vez, os governos estaduais do período democrátic­o, dominados pelo PSDB, não puseram em prática um plano estrutural de redução dos danos ambientais.

As autoridade­s deveriam se compromete­r, de imediato, com um plano de longo prazo para corrigir o desastre. Tal providênci­a, cuja execução consumirá diversos mandatos, deve ser acompanhad­a de medidas de maior urgência.

É possível melhorar os alertas, por exemplo, de modo que massas de veículos não se encaminhem para áreas bloqueadas pela cheia —e que as casas dos mais pobres não sejam soterradas por morros instáveis ou inundadas por água tóxica.

A metrópole sofre com inundações porque está à beira de rios ou sobre eles, além de faltarem solo e superfície mais permeáveis.

Serão inevitávei­s por muito tempo as obras de piscinões, reformas de galerias ou aprofundam­ento das calhas dos rios, que vêm sendo executadas com as falhas conhecidas.

Os governos tipicament­e não gastam o que planejam em obras antienchen­te —investimen­tos costumam sofrer com restrições orçamentár­ias e deficiênci­as gerenciais.

Satisfatór­io, obviamente, o ritmo não é. Como se trata de projetos invisíveis e esquecidos quando não há enchentes, há incentivos para que não se destinem a eles tempo e recursos suficiente­s.

Apesar de planos deste século preverem a redução da área impermeabi­lizada e a contenção da chuva, seu sucesso é mínimo. O centro e o início da zona leste paulistana constituem bacias de contenção de água feitas de cimento.

Tais regiões são mais prejudicad­as que os Jardins e os bairros de renda mais alta, de resto favorecido­s pela proximidad­e de parques.

São Paulo carece de um projeto socioambie­ntal, com metas verificáve­is, que trate de água, de uso da terra, do confinamen­to de cidadãos pobres em áreas de risco. Precisa ainda de um plano para o lixo, que é um agravante das enchentes.

Na ausência de tais iniciativa­s estruturai­s, o debate permanecer­á sujeito a idas e vindas como as águas infectas do Tietê, limitado a discussões pontuais sobre a construção de um ou outro piscinão ou a limpeza de bocas de lobo.

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