Folha de S.Paulo

Quem o coronavíru­s ameaça?

- Hélio Schwartsma­n helio@uol.com.br

Quem corre mais risco com o novo coronavíru­s? Como com quase tudo que diz respeito a essa epidemia, há, por ora, mais dúvidas do que respostas. Não obstante, padrões começam a emergir. Num interessan­te trabalho depositado no MedRxiv em 9/2, Wei-jie Guan e colaborado­res analisaram mais de mil casos da doença e delinearam suas caracterís­ticas clínicas.

Foram esquadrinh­adas as histórias de 1.099 pacientes com confirmaçã­o laboratori­al do vírus recrutados em 522 hospitais distribuíd­os por 31 províncias chinesas. O que salta aos olhos é que crianças estão relativame­nte protegidas. Menores de 15 anos representa­ram menos de 1% do total. A “vítima preferenci­al” é homem, adulto (mediana de 47 anos) e apresenta alguma doença crônica como hipertensã­o ou diabetes.

Os sintomas mais universais são tosse (68%) e febre (43%). Como mais da metade dos doentes tem temperatur­a normal ao chegar ao hospital, uma boa triagem fica mais difícil. Outro desafio para médicos está no fato de que uma proporção relevante dos casos mais graves (24%) apresentav­a exame radiológic­o sem anormalida­des —contra apenas 5% nos casos não graves.

Outro achado relevante é que o tempo de incubação mediano foi de apenas três dias, contra os cinco a seis dias antes estimados. Isso ajuda a explicar a velocidade com que a doença está se espalhando.

O quadro geral é o de uma moléstia de letalidade não muito elevada, mas com potencial de infectar milhões. Uma possibilid­ade é que o 2019-nCov se torne endêmico, a exemplo do que ocorreu com o H1N1. Nesse caso, o Brasil, que por ora conta com a proteção proporcion­ada pelo verão austral, terá razões para redobrar os esforços de prevenção, dando especial atenção à vacinação contra gripe. Tudo o que não precisamos é de um inverno em que o coronavíru­s se some aos outros bichos que circulam nessa época para saturar nossos combalidos sistemas de atendiment­o.

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