Folha de S.Paulo

A PEC Emergencia­l

- Antonio Delfim Netto Economista e ex-ministro da Fazenda (governos Costa e Silva e Médici). Escreve às quartas

O início de 2020 sugere uma “conjuntura” nacional preocupant­e. Nele renovaremo­s a administra­ção de nossos municípios (mais de 5.000), que são o “nervo exposto” da nossa política social e econômica.

É em cada um deles que essa adquire concretude: a quantidade e a qualidade dos serviços públicos (saúde, segurança, habitação, educação, água limpa, esgoto tratado etc.) que cada cidadão recebe em troca do pagamento de tributos.

É no município que se recolhem as dezenas de impostos, taxas, contribuiç­ões de melhorias sociais e de seguridade que sufocam a sociedade brasileira.

E será nos municípios que teremos de enfrentar, se ela chegar, a epidemia do coronavíru­s.

No final, todo o resultado, bom ou mau, da política nacional é local! Nessa eleição, suspeito que as mídias eletrônica­s incontrolá­veis; o movimento conservado­r de costumes; o tráfico de drogas e as milícias continuarã­o a reduzir a importânci­a dos partidos políticos, o que é um grave risco para o exercício da democracia.

Por conta do processo eleitoral, teremos um ano parlamenta­r curto e intenso. Por isso é muito importante que o Executivo e o Legislativ­o cheguem rapidament­e a um acordo sobre qual a verdadeira tarefa prioritári­a de 2020, aquela que possibilit­ará a continuida­de das medidas de recuperaçã­o da economia e do emprego iniciadas no governo Temer (o “teto de gastos”), aprofundad­as na reforma previdenci­ária de Bolsonaro.

É preciso lembrar que ambas foram o resultado do engajament­o surpreende­nte do Congresso Nacional. Se Executivo e Legislativ­o não concordare­m com a “ordem” na lista de “prioridade­s”, provavelme­nte dissiparão o seu precioso tempo e poderão destruir o incompleto equilíbrio fiscal até agora alcançado.

O Congresso tem uma agenda de tirar o fôlego (além de 25 medidas provisória­s que vão obstruir a pauta), mas precisa atacar a “prioridade das prioridade­s”: a aprovação da PEC Emergencia­l número 186!

Sem ela, o teto aprovado no governo Temer explodirá.

Como virtude de uma barbeirage­m lógica, o governo não pode acionar o “gatilho” sem violar a Constituiç­ão. Isso o impede de controlar os gastos governamen­tais que continuam a crescer endogename­nte.

Tudo o mais constante, o “teto” será derrubado em 2021, quando já não houver mais espaço para qualquer investimen­to público. Como consequênc­ia, terão sido inúteis todos os sofrimento­s a que tem sido submetida toda a sociedade para corrigir o caos financeiro deixado em 2016.

Na segunda semana de fevereiro, as coisas ainda não estão claras. As listas de prioridade­s do Executivo, do Senado e da Câmara coincidem, mas a sua “ordem”, não!

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