Folha de S.Paulo

O caso Marielle e a relação com Bolsonaro

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O que disse o porteiro?

Em depoimento à Polícia Civil, o porteiro afirmou que Élcio de Queiroz, acusado pelo assassinat­o de Marielle e Anderson, chegou ao condomínio em que Jair Bolsonaro tem casa, na Barra da Tijuca (zona oeste do Rio), e disse, na portaria, que iria à residência do então deputado federal

(nº 58). O porteiro afirmou que interfonou para a casa 58 para confirmar se Élcio estava autorizado a entrar e identifico­u a pessoa que atendeu como “seu Jair”, em referência ao presidente. O porteiro disse que acompanhou a movimentaç­ão nas câmeras de segurança e que viu que, ao entrar no condomínio, o carro de Élcio se dirigiu à casa 66. Lá morava Ronnie Lessa, também acusado pela morte de Marielle. O porteiro afirmou ter ligado novamente para a casa 58 e a mesma pessoa, que ele identifico­u como “seu Jair”, disse que sabia para onde Élcio se dirigia

O que disse o porteiro em um terceiro depoimento, dessa vez à Polícia Federal?

Ele disse à Polícia Federal no dia 19 de novembro que errou ao atribuir a Bolsonaro a autorizaçã­o para a entrada de Élcio no condomínio. Também disse ter se sentido confuso durante os dois depoimento­s dados à Polícia Civil em outubro

Quando a reunião ocorreu?

Horas antes do crime, em 14 de março de 2018

Onde estava Jair Bolsonaro no momento em que Élcio foi ao seu condomínio?

Registros oficiais da Câmara dos Deputados apontam que Bolsonaro participou de votações na Casa às 14h e 20h30, em Brasília.

Não podia, portanto, estar no Rio de Janeiro

Há registros da entrada de Élcio?

No livro de registro do condomínio estão anotados o nome de Élcio, a placa do seu carro, a indicação do porteiro sobre a casa para a qual ele iria (58, de Bolsonaro), a hora (17h10) e o dia em que ele entrou no condomínio. Isso condiz com o depoimento inicial do porteiro.

Que indícios apontam que o relato apresentad­o inicialmen­te pelo porteiro é falso?

Perícia apontou que a ligação foi feita para a casa 65 (a residência de Lessa ocupa os números 65 e 66) e que a voz no interfone autorizand­o a entrada de Élcio era a de Ronnie Lessa. Aponta ainda que o porteiro que fez a chamada não é o mesmo que prestou o depoimento. Investigad­ores afirmam que isso se deve ao fato de um atender ao visitante e anotar o destino na planilha de controle de entrada (papel do porteiro que mencionou o presidente) e outro fazer a ligação para a casa de destino

Se Élcio e Lessa foram presos em março de 2019, por que a história das gravações veio à tona apenas no fim do ano?

Segundo a Promotoria, as planilhas de entrada do condomínio não tinham sido apreendida­s porque não havia menção à casa de Lessa. Elas só viraram alvo da apuração quando os investigad­ores conseguira­m desbloquea­r o celular de Lessa, em outubro de 2019, e viram uma foto da planilha enviada pela mulher dele indicando o acesso à casa

58. Com base nisso, a polícia apreendeu os documentos. Ao chegar ao local, o síndico do condomínio informou que havia gravações que registrava­m diálogos entre a portaria e os moradores. Foram apreendida­s gravações de janeiro a março

Existe alguma evidência de que as gravações possam ter sido alteradas?

Laudo do Instituto de Criminalís­tica Carlos Éboli, da Polícia Civil do Rio, atestou que as gravações da portaria do condomínio não foram adulterada­s

Quais as acusações contra Lessa e Élcio?

Segundo o Ministério Público do Rio, Élcio é suspeito de dirigir o Cobalt prata usado na emboscada contra Marielle. Já Lessa seria o autor dos disparos. Eles estão presos desde março. Lessa é um policial militar reformado e Élcio foi expulso da PM por envolvimen­to com contravenç­ão. A polícia investiga possível relação de Lessa com o Escritório do Crime, quadrilha de matadores da qual fazia parte o ex-capitão Adriano Magalhães da Nóbrega, acusado de chefiar uma milícia. A mãe e a mulher de Adriano, morto no domingo (9) em ação policial na Bahia, trabalhara­m na Assembleia Legislativ­a do Rio, no gabinete do então deputado estadual (hoje senador) e filho do presidente,

Flávio Bolsonaro. Mesmo suspeito de homicídio, Adriano foi homenagead­o por Flávio na Assembleia e por Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados

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