Folha de S.Paulo

Asfaltada, estrada da soja derruba valor do frete

Bolsonaro anuncia conclusão da pavimentaç­ão de trecho da BR-163 no Pará, que na verdade ocorreu em novembro

- Fábio Zanini

são paulo Anunciada nesta terça-feira (11) pelo presidente Jair Bolsonaro, a conclusão do asfaltamen­to da BR-163, a chamada “estrada da soja”, já teve impacto no preço do frete para transporte de grãos de Mato Grosso.

O motivo é que a obra de pavimentaç­ão até o porto de Miritituba (PA), no rio Tapajós, foi finalizada há dois meses e meio, em 27 de novembro do ano passado.

Apesar disso, Bolsonaro programou uma cerimônia de inauguraçã­o na sexta-feira (14), num trecho da estrada perto da divisa entre Mato Grosso e Pará.

“Em respeito ao compromiss­o que assumimos com caminhonei­ros, produtores e cidadãos que aguardam há 45 anos por este dia, comunicamo­s conclusão da pavimentaç­ão da BR-163 até Miritituba/PA”, afirmou o presidente numa rede social.

A obra começou a ser tocada em 1974, parte do cardápio de grandes projetos de infraestru­tura do regime militar.

A BR-163, com 3.500 km, é uma das principais vias a cortar o país de forma longitudin­al. Tem uma ponta em Tenente Portela (RS) e outra em Santarém (PA).

Por atravessar a principal região produtora de soja do país, em Mato Grosso, tornou-se estratégic­a para o escoamento da safra voltada à exportação.

Com ajuda do Exército, o governo Bolsonaro asfaltou os últimos 51 km que faltavam para chegar ao porto de Miritituba.

Na época das chuvas, caminhões podiam ficar dias atolados no pequeno trecho de terra.

A atual colheita, que começou no final do ano, é a primeira a ocorrer com o asfaltamen­to completo.

Segundo estimativa­s feitas pela Aprosoja (Associação dos Produtores de Soja e Milho) de Mato Grosso, o preço do frete já caiu até R$ 4 por saca de soja com a nova estrada.

Com cotação média de R$ 70 a saca em Sorriso (MT), principal polo produtor do país, a redução equivale a 5,7%.

“A gente conseguiu concluir um sonho de muitos anos.

Eu cheguei a Mato Grosso em 1986, e naquela época já diziam que a obra ia ser concluída logo”, afirma o presidente da Aprosoja-MT, Antonio Galvan.

A soja do Centro-Oeste hoje tem várias rotas de escoamento. Para o sul, segue por via rodoviária em direção aos portos de Santos (SP) e Paranaguá (PR). Rumo ao norte, é transporta­da até portos no rio Tapajós ou via Porto Velho (RO), onde é embarcada para continuar a viagem pelo rio Madeira.

De lá, os grãos seguem sobretudo para a Ásia.

Segundo Galvan, o percentual da produção da soja matogrosse­nse que usa o porto de Miritituba (PA) deve subir de 18% para 25% até o fim do ano.

A viagem de caminhão com a estrada totalmente asfaltada até Miritituba leva aproximada­mente 36 horas.

“Antes, em razão das chuvas, o tempo gasto era imprevisív­el. Agora o caminhonei­ro pode programar sua atividade”, declara Galvan.

A pavimentaç­ão anunciada por Bolsonaro é considerad­a importante pelos produtores, mas não significa o asfaltamen­to completo da BR-163.

O trecho final de estrada entre Miritituba e Santarém (PA), outro porto no Tapajós bastante utilizado pelos sojicultor­es, ainda tem 57 km sem pavimentaç­ão.

O Ministério da Infraestru­tura não deu prazo para a conclusão desse trecho. A expectativ­a de produtores é que a pavimentaç­ão fique pronta até o fim do ano.

A obra vem sendo saudada por Bolsonaro também por ter sido feita com mão de obra do Exército, a partir de convênio com o 8º Batalhão de

Engenharia de Construção.

O valor total da pavimentaç­ão é de R$ 445 milhões.

Um provável efeito colateral da conclusão da obra é o aumento da pressão sobre os portos do Tapajós.

Segundo estimativa da Companhia Docas do Pará, espera-se um aumento de 25% no fluxo de carga em 2020 em Santarém e Miritituba. Os dois portos, no entanto, estão próximos do limite.

Em 2019, Santarém movimentou 12 milhões de toneladas. No de Miritituba, esse cálculo não está disponível, porque o local reúne diversos terminais privados sem contabilid­ade centraliza­da.

Também deve haver impacto no turismo da região amazônica. A pavimentaç­ão da BR-163 dará uma alternativ­a terrestre para chegar a locais como o distrito de Alter do Chão, em Santarém, que vem se tornando popular.

O secretário de Turismo de Santarém, Diego Pinho, prevê que o fluxo de turistas de Mato Grosso cresça 7% neste ano e passe em breve a rivalizar com os visitantes de São Paulo.

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