Folha de S.Paulo

Retratou suas memórias africanas no coração do Ceará

- Patrícia Pasquini coluna.obituario@grupofolha.com.br

MANUEL DO CARMO CASQUEIRO (1946-2020)

são paulo A praia de Iracema, de Fortaleza (CE), foi testemunha do início da história de amor entre o escritor Manuel do Carmo Casqueiro e a assistente social Maria

Girlane Nobre de Souza, 60.

Em 1978, o calçadão da praia foi o cenário no qual, durante uma caminhada, se conheceram. Da troca de olhares para o casamento foi um pulo.

Manuel nasceu em Guiné-Bissau, na África. Lutou nas guerras de libertação de Angola nos anos 1970, reuniu suas memórias e mudou-se para o Ceará.

Na capital cearense, trabalhou muitos anos no setor de turismo e, depois de aposentado, começou a escrever sobre sua vida na África.

A paixão pela escrita virou profissão. Suas anotações deram vida a quatro livros que, de certa forma, retratam a vida em Guiné-Bissau.

As obras trazem a criativida­de de Manuel misturada a narrativas mitológica­s do continente, com histórias de sua vida e de terceiros.

O último livro ainda não foi publicado, o que será feito pela família. Entre seus feitos para a cultura, criou a Academia Afro-Cearense de Letras, para o estudo da literatura africana.

“Ele era uma biblioteca. Sabia tudo. Inteligent­e e culto, tinha o cuidado de usar as palavras sem machucar ninguém”, diz a esposa Maria Girlane.

Os dois viveram quase 40 anos juntos. “Manuel era apaixonado pela vida, sensível, carinhoso e atencioso. Eu fui a primeira paixão dele e a literatura, a segunda”, afirma.

“Ele ensinou a família e amigos a nunca aceitarem o preconceit­o e assumirem a africanida­de que mora em nós.”

Manuel do Carmo Casqueiro morreu dia 7 de fevereiro, aos 73 anos, após um quadro infeccioso. Deixa esposa, dois filhos e três netos.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil