Folha de S.Paulo

Nem abracei minha irmã, diz brasileira que voltou a SP

- Flávia Mantovani

são paulo Gerente da sucursal em Xangai de uma empresa de comércio exterior, Thaís Moretz, 38, costuma vir para o Brasil no máximo duas vezes ao ano. Como já havia visitado a família no Natal, não esperava voltar tão cedo. Mas a epidemia de coronavíru­s a obrigou a mudar de planos, e ela acaba de chegar a São Paulo, onde ficará por um tempo.

Foram três semanas de incerteza antes de tomar a decisão. Na primeira, ela diz que “quase enlouquece­u” ao ter que ficar isolada em casa, como os demais moradores desta e de outras cidades chinesas. Com passagens compradas para passar o feriado do Ano-Novo local em Bali, embarcou para a Indonésia com a intenção de ficar uma semana.

Mas o país cancelou seu voo de volta e todos os demais que faziam ligação com a China. Sem saber se tentava outra rota para retornar a Xangai, se ficava em Bali por mais tempo ou se voltava para o Brasil temporaria­mente, acabou optando, junto com a empresa, pela última opção.

Agora, está hospedada na casa da irmã enquanto decide onde vai ficar nesse período —que não sabe quanto tempo vai durar. “Cheguei e já falei para ela: ‘não me abraça’. Estou em um quarto e um banheiro separados, uso álcool gel, lavo as mãos constantem­ente. Não tive nenhum sintoma, nenhuma tosse, nenhum espirro. E já fiz minha quarentena na Indonésia. Mas prefiro tomar precauções.”

Seus pais, que vivem no interior do estado, quiseram dar um tempo antes de visitá-la. “Eles ficaram com medo, minha mãe teve câncer… Melhor esperar um pouco mais”, afirma ela. “Agora vou sentir como será a reação das pessoas daqui. Se eu falar que moro na China e vim de lá, imagino que vão me tratar meio mal.”

No período em que a brasileira ficou isolada em casa, em Xangai, apenas lojas menores, como as de conveniênc­ia, abriram. “Quase enlouqueci. Sou uma pessoa agitada, faço mil coisas, minha rotina começa cedo e termina tarde. As máscaras acabaram, não tinha absolutame­nte ninguém na rua”, lembra.

Segundo ela, seus amigos estrangeir­os que vivem em Xangai estão voltando para seus países. “Foi um dos fatores que contribuír­am para eu tomar a decisão de retornar.” Leia mais sobre coronavíru­s na pág. A24, em Mercado

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