Folha de S.Paulo

Mãe de Eliza Samudio se opõe a volta do goleiro Bruno

- Fernanda Canofre

belo horizonte Sônia da Silva Moura, mãe de Eliza Samudio, segue com apreensão notícias sobre times que pensam em contratar Bruno Fernandes, 35. O ex-goleiro do Flamengo, condenado em 2013 a 22 anos de prisão (reduzidos para 20 anos e 9 meses) pelo homicídio da então ex-namorada Eliza, progrediu no ano passado para o regime semiaberto e vive em Varginha (MG).

Desde então, seu nome foi associado a vários clubes, embora a maioria tenha recuado da intenção, após pressão da torcida e de patrocinad­ores.

Sônia, que cuida do neto em Campo Grande, afirma ser favorável a que detentos tenham acesso a trabalho na prisão e direito à ressociali­zação. É contra, no entanto, que ele busque isso com um retorno aos gramados e aos holofotes trazidos por eles.

“Eu acho um absurdo, ele não é exemplo para criança nenhuma, para adolescent­e nenhum. As pessoas têm que se conscienti­zar que crime contra a vida não é um erro, é um crime”, diz. “Minha filha não teve segunda chance.”

No ano passado, Bruno criou um perfil no Instagram, em que tem cerca de 50 mil seguidores. Lá, compartilh­a vídeos de treinos e fotos em família, ao lado da mulher e das filhas.

A maioria dos comentário­s deseja sorte e elogia seu desempenho como goleiro. Alguns pedem que ele vá para o Corinthian­s, o São Paulo, volte ao Atlético-MG ou ao Flamengo. Em uma foto do goleiro com a família, uma seguidora perguntou onde estava Bruninho; o perfil de Bruno respondeu: “a avó dele não me deixa conviver com ele, por isso não está aqui!”.

À Folha a assessoria do jogador afirmou que Bruno não pode se aproximar da criança por segurança jurídica e que prefere respeitar o espaço de Sônia. Ele não reconhece a paternidad­e de Bruninho e aguarda trâmite judicial.

“Se Bruninho for filho dele, ele vai se aproximar com a concordânc­ia dele. Não pretende ser invasivo ou mal quisto”, diz a resposta à reportagem.

Sônia busca na Justiça uma pensão para o menino. A assessoria de Bruno confirma que ele paga um valor às filhas.

Ela conheceu o neto cerca um mês depois da morte de Eliza, quando ele tinha cinco meses. Entre o dia em que perdeu a mãe e o encontro, o menino esteve em uma comunidade na região metropolit­ana de Belo Horizonte e com o avô materno em Foz do Iguaçu.

“É um dia que nunca vou esquecer. Ele estava em pé, no colo da conselheir­a tutelar, com uma mantinha azul-clara. Peguei ele nos braços, e ele começou a olhar para mim, ria, esfregava a cabecinha no meu peito”, lembra Sônia.

Bruninho, que fez 10 anos na segunda (10), só conheceu a história dos pais há pouco tempo. Ele perguntou pela primeira vez do pai quando tinha sete anos, segundo a avó.

No ano passado, no Dia das Mães, quis saber onde Eliza estava enterrada, e Sônia respondeu que não sabia; o corpo nunca foi localizado. Para preservá-lo, a avó costuma controlar o acesso à internet e não divulga fotos do menino.

“Eu vivo em uma eterna prisão. Presa em dor, sofrimento, injustiça e medo, tentando preservar a minha vida e a do meu neto”, diz ela.

“Eu não tenho ódio dele [Bruno], simplesmen­te sinto dor. E não quero ver esse exemplo para outras crianças.”

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil