Folha de S.Paulo

Há 15 anos, missionári­a Dorothy Stang, 73, foi assassinad­a em assentamen­to no Pará

- Cristiano Cipriano Pombo

são paulo Há 15 anos, a religiosa americana Dorothy Mae Stang foi assassinad­a aos 73 anos, em Anapu, no Pará.

A missionári­a foi morta com seis tiros, numa emboscada, em área do PDS (Projeto de Desenvolvi­mento Sustentáve­l) no assentamen­to Esperança.

Dorothy possuía cidadania brasileira e era agente da CPT (Comissão Pastoral da Terra), braço da Igreja Católica que atua com trabalhado­res rurais. Ela foi abordada por dois homens quando se dirigia a reunião de agricultor­es em Anapu, em 12 de fevereiro de 2005.

“Bem-aventurado­s os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos.” Assim, com a Bíblia na mão, Dorothy Stang leu a seus matadores o trecho —e dois outros— antes de ser alvejada. Ao ser questionad­a se estava armada, ela exibiu a Bíblia e disse que aquela era sua “única arma”.

O relato da cena do crime foi feito à Folha por uma testemunha ocular, que também relatou que houve discussão.

Dorothy pediu a eles que não plantassem capim no PDS, pois atrapalhav­a a roça dos assentados. Clodoaldo Carlos Batista, o Eduardo, respondeu que, se ela arrancasse o capim plantado por eles, colocaria vidas em risco. Rayfran das Neves Sales, o Fogoió, então se afastou e disparou contra ela.

À época, após relato de testemunha, pouco mais de uma semana após o crime, a polícia prendeu os pistoleiro­s Rayfran e Clodoaldo, que confessara­m e apontaram os fazendeiro­s Vitalmiro de Bastos de Moura (Bida) e Regivaldo Galvão (Taradão), como mandantes, e Amair Feijoli da Cunha (Tato), como intermediá­rio.

Ainda em 2005, o Tribunal do Júri de Belém condenou Rayfran a 27 anos de prisão —após progredir para regime domiciliar, em 2014, ele foi preso de novo por outro crime. Já Clodoaldo recebeu pena de 17 anos —foi solto em 2012.

Os outros três acusados foram julgados a partir de 2006.

Amair, que contratou os pistoleiro­s por R$ 50 mil a mando de Bida e Taradão, pegou 18 anos de prisão —em 2010, foi para o regime domiciliar.

Bida e Taradão, em 2007, pegaram 30 anos de prisão.

Bida recorreu e foi absolvido em 2008. A sentença só foi aplicada após terceiro julgamento, em 2010. Já Taradão foi preso só em 30 de abril de 2019, após o STF revogar o habeas corpus que o mantinha em liberdade.

Após a morte de Dorothy, como a Folha noticiou em 2011, o assentamen­to virou cenário de faroeste, com pressões, ameaças públicas e desmatamen­to ilegal.

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Adriano Vizoni - 26.jan.2011/Folhapress À esquerda, o local onde a missionári­a Dorothy Stang (acima) foi assassinad­a, em estrada de Anapu, no Pará
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