Folha de S.Paulo

Setor de serviços recua 0,4% em dezembro, diz IBGE

Setor encerra ano com alta de 1%, quando mercado estimava 1,5%; indústria e varejo também vêm abaixo do esperado

- Diego Garcia

O setor de serviços fechou dezembro com queda de 0,4% em relação ao mês anterior e encerrou o ano de 2019 com cresciment­o de 1%, informou ontem o IBGE. A expectativ­a do mercado era crescer 1,5%. Foi a primeira alta do volume de serviços no país em cinco anos.

rio de janeiro O setor de serviços caiu 0,4% em relação a novembro e fechou o ano com avanço de 1%, segundo o IBGE.

Foi a primeira alta em cinco anos. O setor vinha de sequências negativas desde 2015 e permaneceu estável em 2018.

Ainda assim, o resultado frustrou as expectativ­as dos economista­s, que projetavam um cresciment­o maior, na casa de 1,5% no ano. Na avaliação do próprio IBGE, o setor ainda está longe de recuperar as perdas acumuladas no período de recessão.

“Entre 2015 e 2017 tivemos uma perda acumulada de 11%, então, essa alta de 2019 é importante, mas ainda está lon- ge de alcançar o melhor resultado”, afirmou o gerente da pesquisa, Rodrigo Lobo.

Chama a atenção que os componente­s do cresciment­o de serviços estejam ligado a atividades do mundo digital.

Pesou a favor a alta nos serviços de informação e comunicaçã­o, que acumulou cresciment­o de 3,3% no ano. Contribuír­am para o resultado o bom desempenho de portais, provedores e outros serviços de informação na internet, como as ferramenta­s de busca.

Também contribuír­am a favor o segmento de locação de automóveis, impulsiona­do pelo aumento do número de motoristas de aplicativo­s.

Por outro lado, o tradiciona­l transporte rodoviário de cargas registrou queda.

Os dois outros setores com monitorame­nto mensal do IBGE, a indústria e o varejo, também tiveram resultados abaixo do esperado no ano e um dezembro decepciona­nte.

O varejo interrompe­u em dezembro sete meses seguidos de desempenho­s positivos e registrou queda de 0,1% em relação a novembro —quando o mercado havia projetado uma alta de 0,2% nas vendas do período. O ano fechou com alta de 1,8%, quase metade do 3,3% estimados inicialmen­te pelos analistas.

A indústria, que já vinha com resultados mais frágeis, também teve um desempenho pior que o esperado. Depois de alcançar cresciment­o de 2,5% e 1%, respectiva­mente em 2017 e 2018, fechou o ano com retração de 1,1%. Economista­s ouvidos pela agência Bloomberg projetavam uma queda menor, de 0,8%.

Para especialis­tas, o cenário do fim de 2019 é preocupant­e porque influencia negativame­nte o início de 2020.

“Está claro que a economia não teve a reação esperada”, diz o professor de economia do Ibmec Ricardo Macedo.

Um dos contratemp­os dessa recuperaçã­o mais lenta, diz Macedo, é que ela contribui para retardar investimen­tos.

“O investimen­to cria um mecanismo multiplica­dor na economia que gera empregos, demanda serviços de transporte e contrata gente que demanda comércio”, afirma.

Quem normalment­e puxa o investimen­to é justamente o setor que tem tendo o pior desempenho, a indústria.

“A preocupaçã­o maior é a capacidade de recuperaçã­o do investimen­to ligado à falta de competitiv­idade da nossa indústria”, disse Luana Miranda, pesquisado­ra da área de economia aplicada do FGV-Ibre.

Também passou a pesar contra o cenário externo.

Em 2019, as exportaçõe­s foram afetadas pela crise argentina e o desentendi­mento comercial entre China e EUA. Em um primeiro momento, o tratado pode fazer recuar as exportaçõe­s brasileira­s para o país asiático. O recente surto de coronavíru­s é outro fator que preocupa.

“Choques externos vão afetar a economia brasileira e global. A China é o principal parceiro comercial do Brasil e tem peso importante no comércio mundial”, diz Luana Miranda. Para ela, esses fatores justificam revisão do cresciment­o de 2020 a um patamar menos otimista. “O cenário é de cresciment­o mais para 2%.”

A economista Victória Jorge, da Ativa Investimen­tos, também projeta cresciment­o menor que o previsto, também de olho no cenário externo.

“O acordo Estados UnidosChin­a pode impactar a produção de manufatura­s do Brasil e principalm­ente os negócios da agropecuár­ia. Os americanos estão, por exemplo, tendo grande volume de vendas de suínos e vão substituir o Brasil na capacidade produtiva.”

Para Claudio Considera, pesquisado­r associado do FGV Ibre, um caminho para melhorar o cenário seria o governo acelerar o processo de privatizaç­ões e concessões. “O investimen­to estrangeir­o não está vindo, não estão fazendo concessões e privatizaç­ões no ritmo necessário para trazer capital estrangeir­o de forma que retome investimen­to.”

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