Folha de S.Paulo

Relatora pede investigaç­ão da PGR sobre mentiras em CPMI

- Danielle Brant

brasília A relatora da CPMI das Fake News, deputada Lídice da Mata (PSB-BA), acusa Hans River do Rio Nascimento, ex-funcionári­o de uma empresa de disparos de mensagens em massa, de ter mentido em seu depoimento à comissão parlamenta­r e pede que a Procurador­ia-Geral da República investigue o caso.

As informaçõe­s estão em representa­ção protocolad­a junto ao Ministério Público nesta quinta (13). O documento é assinado também pelos deputados federais Alessandro Molon (PSB-RJ), Luizianne Lins (PT-CE), Tulio Gadelha (PDT-PE), Paulo Ramos (PDT-RJ), Natália Bonavides (PT-RN) e Rui Falcão (PT-SP).

No pedido, Lídice afirma que Hans “apresentou diversas informaçõe­s que, posteriorm­ente, viriam a se mostrar inconsiste­ntes ou inverídica­s”. Além disso, continua, a testemunha se recusou a prestar informaçõe­s quando questionad­o pela comissão.

A deputada lembra que o Código Penal estabelece que é crime, punível com reclusão de dois a quatro anos e multa, “fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administra­tivo, inquérito policial, ou em juízo arbitral”.

Hans, afirma Lídice, descumpriu a lei ao fazer afirmações falsas, negar e calar a verdade. “Isto posto, requeremos o recebiment­o da presente representa­ção, para que, ao final, as medidas legais sejam devidament­e tomadas.”

Na peça, há exemplos de informaçõe­s inverídica­s prestadas por Hans, como a afirmação de que não encaminhou qualquer documento à Folha.

O jornal publicou reportagem contestand­o ponto a ponto as mentiras ditas pelo ex-funcionári­o da agência de marketing digital Yacows aos membros da CPMI.

Lídice menciona outras declaraçõe­s, como uma em que Hans dizia ter trabalhado para a campanha de um político em 2018 —José Police Neto, eleito vereador em São Paulo em 2016, segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), defendeu na quarta (12) punição por “difamação e sexismo”. O presidente da CPMI, senador Angelo Coronel (PSD-BA), apresentou requerimen­to, que será votado na próxima semana, para reconvocar Hans.

Nesta quinta, o presidente Jair Bolsonaro falou pela primeira vez sobre o tema. Em evento com estudantes, disse: “Vocês viram o cara [Hans] depondo na CPMI da Fake News, o que ele falou da repórter da Folha? Que vergonha. A Folha foi pra cima do cara. Quando falam de mim, qualquer coisa é verdade. A imprensa tem que vender a verdade, não pode dar opinião”.

Hans trabalhou para a Yacows na campanha eleitoral de 2018. Em dezembro daquele ano, reportagem da Folha, baseada em documentos da Justiça do Trabalho e em relatos de Hans, mostrou que uma rede de empresas, entre elas a Yacows, recorreu ao uso fraudulent­o de nome e CPFs de idosos para registrar chips de celular e garantir o disparo de lotes de mensagens em benefício de políticos.

Na ocasião, a Folha falou várias vezes com Hans, que também era autor de ação trabalhist­a contra a Yacows. Nas primeiras conversas com Patrícia Campos Mello, ocorridas a partir de 19 de novembro de 2018 e gravadas, ele disse que não sabia quais campanhas se valeram da fraude, mas reafirmou o conteúdo dos autos e respondeu a perguntas da reportagem.

Hans foi até a Redação da Folha para uma segunda entrevista com Patrícia, desta vez acompanhad­a do repórter Artur Rodrigues. No dia 23 daquele mês, os jornalista­s foram até a Yacows pedir um posicionam­ento da empresa.

Dois dias depois, Hans disse em troca de mensagens com a repórter que mudou de ideia e que desiste de participar da reportagem. No dia 27, o advogado do ex-funcionári­o entra com petição de acordo trabalhist­a com a Yacows.

Em seu depoimento à CPMI, ao dar informaçõe­s falsas à CPI, Hans insultou Patrícia.

“Quando eu cheguei na Folha de S.Paulo, quando ela [repórter] escutou a negativa, o distrato que eu dei e deixei claro que não fazia parte do meu interesse, a pessoa querer um determinad­o tipo de matéria a troco de sexo, que não era a minha intenção, que a minha intenção era ser ouvido a respeito do meu livro, entendeu?”, disse no Congresso.

O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, aproveitou a fala para difundir ofensas e fazer insinuaçõe­s contra a repórter da Folha, tanto no Congresso como em suas redes sociais.

“Eu não duvido que a senhora Patrícia Campos Mello, jornalista da Folha, possa ter se insinuado sexualment­e, como disse o senhor Hans, em troca de informaçõe­s para tentar prejudicar a campanha do presidente Jair Bolsonaro. Ou seja, é o que a Dilma Rousseff falava: fazer o diabo pelo poder”, afirmou Eduardo.

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