Relatora pede investigação da PGR sobre mentiras em CPMI
brasília A relatora da CPMI das Fake News, deputada Lídice da Mata (PSB-BA), acusa Hans River do Rio Nascimento, ex-funcionário de uma empresa de disparos de mensagens em massa, de ter mentido em seu depoimento à comissão parlamentar e pede que a Procuradoria-Geral da República investigue o caso.
As informações estão em representação protocolada junto ao Ministério Público nesta quinta (13). O documento é assinado também pelos deputados federais Alessandro Molon (PSB-RJ), Luizianne Lins (PT-CE), Tulio Gadelha (PDT-PE), Paulo Ramos (PDT-RJ), Natália Bonavides (PT-RN) e Rui Falcão (PT-SP).
No pedido, Lídice afirma que Hans “apresentou diversas informações que, posteriormente, viriam a se mostrar inconsistentes ou inverídicas”. Além disso, continua, a testemunha se recusou a prestar informações quando questionado pela comissão.
A deputada lembra que o Código Penal estabelece que é crime, punível com reclusão de dois a quatro anos e multa, “fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral”.
Hans, afirma Lídice, descumpriu a lei ao fazer afirmações falsas, negar e calar a verdade. “Isto posto, requeremos o recebimento da presente representação, para que, ao final, as medidas legais sejam devidamente tomadas.”
Na peça, há exemplos de informações inverídicas prestadas por Hans, como a afirmação de que não encaminhou qualquer documento à Folha.
O jornal publicou reportagem contestando ponto a ponto as mentiras ditas pelo ex-funcionário da agência de marketing digital Yacows aos membros da CPMI.
Lídice menciona outras declarações, como uma em que Hans dizia ter trabalhado para a campanha de um político em 2018 —José Police Neto, eleito vereador em São Paulo em 2016, segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), defendeu na quarta (12) punição por “difamação e sexismo”. O presidente da CPMI, senador Angelo Coronel (PSD-BA), apresentou requerimento, que será votado na próxima semana, para reconvocar Hans.
Nesta quinta, o presidente Jair Bolsonaro falou pela primeira vez sobre o tema. Em evento com estudantes, disse: “Vocês viram o cara [Hans] depondo na CPMI da Fake News, o que ele falou da repórter da Folha? Que vergonha. A Folha foi pra cima do cara. Quando falam de mim, qualquer coisa é verdade. A imprensa tem que vender a verdade, não pode dar opinião”.
Hans trabalhou para a Yacows na campanha eleitoral de 2018. Em dezembro daquele ano, reportagem da Folha, baseada em documentos da Justiça do Trabalho e em relatos de Hans, mostrou que uma rede de empresas, entre elas a Yacows, recorreu ao uso fraudulento de nome e CPFs de idosos para registrar chips de celular e garantir o disparo de lotes de mensagens em benefício de políticos.
Na ocasião, a Folha falou várias vezes com Hans, que também era autor de ação trabalhista contra a Yacows. Nas primeiras conversas com Patrícia Campos Mello, ocorridas a partir de 19 de novembro de 2018 e gravadas, ele disse que não sabia quais campanhas se valeram da fraude, mas reafirmou o conteúdo dos autos e respondeu a perguntas da reportagem.
Hans foi até a Redação da Folha para uma segunda entrevista com Patrícia, desta vez acompanhada do repórter Artur Rodrigues. No dia 23 daquele mês, os jornalistas foram até a Yacows pedir um posicionamento da empresa.
Dois dias depois, Hans disse em troca de mensagens com a repórter que mudou de ideia e que desiste de participar da reportagem. No dia 27, o advogado do ex-funcionário entra com petição de acordo trabalhista com a Yacows.
Em seu depoimento à CPMI, ao dar informações falsas à CPI, Hans insultou Patrícia.
“Quando eu cheguei na Folha de S.Paulo, quando ela [repórter] escutou a negativa, o distrato que eu dei e deixei claro que não fazia parte do meu interesse, a pessoa querer um determinado tipo de matéria a troco de sexo, que não era a minha intenção, que a minha intenção era ser ouvido a respeito do meu livro, entendeu?”, disse no Congresso.
O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, aproveitou a fala para difundir ofensas e fazer insinuações contra a repórter da Folha, tanto no Congresso como em suas redes sociais.
“Eu não duvido que a senhora Patrícia Campos Mello, jornalista da Folha, possa ter se insinuado sexualmente, como disse o senhor Hans, em troca de informações para tentar prejudicar a campanha do presidente Jair Bolsonaro. Ou seja, é o que a Dilma Rousseff falava: fazer o diabo pelo poder”, afirmou Eduardo.