Folha de S.Paulo

Para preservar teto de gastos, governo tenta desfazer articulaçã­o da própria base no Senado

- Daniel Carvalho, Thiago Resende e Fábio Pupo

brasília Contra a flexibiliz­ação da regra do teto de gastos, o governo, especialme­nte o time do ministro Paulo Guedes (Economia), interveio na articulaçã­o da própria base de apoio no Senado.

O líder do governo na Casa, Fernando Bezerra (MDBPE), então, anunciou nesta quinta (13) que apresentar­á sugestão para retirar da PEC (proposta de emenda à Constituiç­ão) dos Fundos dispositiv­o que permitiria o uso de recursos, estimados em R$ 32 bilhões, fora da regra de limite de despesas.

“Na sequência, o ministro Paulo Guedes fez uma avaliação ao longo do dia para dizer que seria melhor não excepciona­lizar [esses recursos] para não dar um sinal de que o governo estava começando a querer flexibiliz­ar o teto do gasto público”, disse Bezerra.

A mais recente disputa sobre a preservaçã­o da regra de ajuste das contas públicas se deu em torno da PEC que extingue fundos públicos, cujo objetivo é desvincula­r parte do Orçamento.

Hoje, os mais de 200 fundos a serem extintos recebem um fluxo de recursos provenient­es de diferentes receitas captadas pela União. Os valores repassados a eles alcança aproximada­mente R$ 32 bilhões por ano, de acordo com cálculos dos parlamenta­res.

Senadores propuseram que, com a extinção dos fundos, esse fluxo de recursos seja direcionad­o a programas voltados à erradicaçã­o da pobreza e a investimen­tos em infraestru­tura. Esse redirecion­amento duraria dois anos e teria que obedecer à regra do teto de gastos.

Na quarta (12), o relator da PEC, senador Otto Alencar (PSD-BA), apresentou parecer com mudanças na versão original, enviada pelo governo em novembro do ano passado.

Nas negociaçõe­s com aliados do governo, como Bezerra, o projeto foi alterado para que a medida de redirecion­amento dos recursos durasse um ano e que as despesas pudessem ser contabiliz­adas fora da regra do teto de gastos, o que contrariou a equipe econômica.

A ideia agora é retomar a versão anterior da proposta: uso dos recursos no montante de dois anos, mas dentro do limite de despesas.

Assim, o time de Guedes volta a declarar apoio à PEC.

O titular da área econômica e sua equipe se posicionam de forma contrária a qualquer tentativa de flexibiliz­ação do teto. Na visão da pasta, mesmo que o endividame­nto público em proporção do PIB tenha mostrado queda (de 76,5% em 2018 para 75,8% em 2019), o ajuste fiscal ainda não está completo e, por isso, as medidas de contenção de despesas devem continuar.

A tentativa do Congresso, inclusive da base aliada, de flexibiliz­ar o limite de despesas também foi criticada pelo economista Marcos Mendes, colunista da Folha e um dos criadores da regra fiscal.

“Ao colocar esses recursos em outra despesa, que não fica sujeita ao teto de gastos, há um desmonte da disciplina fiscal”, comentou Mendes, sobre o dispositiv­o incluído pelo relator na quarta.

Para evitar a flexibiliz­ação do teto, Bezerra agora terá que apresentar uma emenda para que esse artigo seja novamente alterado. “Todos os partidos concordam”, afirmou o líder do governo.

A votação do relatório da PEC dos Fundos está prevista para a próxima semana. A proposta ainda está na CCJ (Comissão de Constituiç­ão e Justiça) do Senado.

Depois, precisa ser analisada pelo plenário da Casa. Se aprovada em dois turnos, segue para a Câmara.

O objetivo da PEC, diz o governo, é que o dinheiro parado em fundos públicos seja liberado e usado para reduzir os gastos da União com juros.

Os fundos públicos especiais são uma espécie de conta alimentada por recursos vinculados a uma receita específica, como tributos, royalties ou receitas de empresas beneficiár­ias de incentivos fiscais. Essas verbas têm direcionam­ento carimbado para projetos da área de cada fundo, como saúde, educação e ambiente.

A avaliação do time de Guedes é que esses fundos engessam o Orçamento público. Por isso, o Congresso não tem o poder de decidir como o dinheiro deve ser usado.

Membros do governo ainda sustentam que é comum haver dificuldad­e para gastar esse dinheiro, que acaba represado e sem uso, enquanto outras áreas carecem de investimen­to.

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Paulo Guereta/Photo Premium/Agência O Globo O ministro da Economia, Paulo Guedes, durante evento na Fiesp nesta quinta (13)

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