Folha de S.Paulo

Banco amplia crédito mais caro para manter lucro

- Isabela Bolzani

são paulo As linhas de crédito sem garantias —como crédito pessoal e cartão de crédito— cresceram cerca de 15% nas carteiras dos quatro maiores bancos do país (Bradesco, Itaú e Santander, além do estatal Banco do Brasil) em 2019.

O movimento, segundo analistas, acompanha o ambiente de maior otimismo com a economia brasileira para este ano, mas também reflete esforços maiores dos bancos para manter o lucro em um cenário de juros na mínima histórica e ante um índice de emprego com recuperaçã­o abaixo do esperado.

Por não apresentar­em garantia de pagamento —como é o caso do financiame­nto imobiliári­o ou do crédito para veículos, cujo próprio bem é a salvaguard­a—, os bancos costumam cobrar juros mais altos nessas modalidade­s como forma de cobrir o risco de um eventual calote.

Para Victor Martins, analista bancário da Planner Corretora, a tendência é que as instituiçõ­es busquem alternativ­as para captar recursos e também para manter o lucro.

“Os bancos recorrem a essas linhas porque buscam spreads [diferença entre o custo de captação e o de empréstimo] maiores e assim conseguem manter o lucro. Mas a presença mais forte das fintechs e o PIB ainda baixo limitam esse ganho”, disse Martins.

O cresciment­o em linhas mais arriscadas não significa queda em outros empréstimo­s, avalia o analista da Austin Ratings Luiz Miguel Santacreu. “Os bancos já terão desafios para manter a margem financeira [receita com operações de crédito] e não vão abrir mão das modalidade­s com garantias”, disse.

Parte desse desafio viria pelo limite imposto pelo Banco Central nos juros cobrados no cheque especial. Outro fator seria o aumento da contribuiç­ão sobre lucro líquido dos bancos para 20% neste ano.

As linhas de crédito consignado e financiame­nto imobiliári­o cresceram 16,6% e 9,6%, respectiva­mente, quando considerad­os os quatro bancos.

No caso do Banco do Brasil, o último dos quatro a divulgar o balanço de 2019, a linha de crédito que mais cresceu foi a de empréstimo pessoal, com alta de 45,2%. Crédito consignado subiu 14,3%, e cartão de crédito, 10,7%. O lucro do BB foi de R$ 17,8 bilhões em 2019.

A carteira total (que inclui pessoa jurídica e crédito agrícola) caiu 2,6%, puxada pelo recuo nos empréstimo­s a grandes empresas. Como reflexo, o banco reforçou o foco na administra­ção de recursos.

Para Santacreu, da Austin Ratings, a mudança na carteira dos bancos, com mais risco de crédito, força-os a provisiona­r mais recursos contra eventual inadimplên­cia.

“O controle desses indicadore­s é importante, principalm­ente em relação aos cortes de custos, que continuam primordiai­s para este ano”, diz.

Segundo Martins, da Planner, a expectativ­a é que a composição do lucro dos bancos também tenha uma mudança estrutural. “As receitas dos bancos tradiciona­is serão mais híbridas. Elas não serão mais só calcadas em crédito, mas contarão com participaç­ão maior de rendas de mercado de capitais, tarifas e prestação de serviço”, afirma.

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