Folha de S.Paulo

Bernardo Paz é absolvido em processo de lavagem de dinheiro

- Clara Balbi

SÃO PAULO O empresário Bernardo Paz, fundador do Instituto Inhotim, foi absolvido da acusação de lavagem de dinheiro pela 4ª Turma do Tribunal Regional Federal da Primeira Região, o TRF-1, de Brasília. A decisão, unânime, foi proferida na última terça-feira (11). Cabe recurso.

Paz tinha sido condenado a nove anos e três meses pelo TRF-1 de Minas Gerais, em 2017.

De acordo com a denúncia, apresentad­a pelo Ministério Público Federal em 2013, ele teria usado uma empresa criada para administra­r doações ao Inhotim, a Horizontes, para encobrir repasses de ao menos US$ 95 milhões (cerca de R$ 207 milhões à época) a outros negócios em seu nome.

Nos anos analisados no processo, 2007 e 2008, Paz era dono da Itaminas, conglomera­do formado por 29 empresas, a maioria da área de mineração.

Em 2010, o grupo foi vendido por US$ 1,2 bilhão (R$ 2,7 bilhões) a uma estatal chinesa para liquidar as dívidas dos sócios, estimadas em US$ 400 milhões (R$ 925 milhões).

Ainda a irmã do empresário, Maria Virgínia de Melo Paz, havia sido implicada no suposto esquema e condenada a cinco anos e três meses. Ela também foi inocentada.

Ao recorrer, o advogado de Paz, Sânzio Baioneta Nogueira, alegou que não houve prática criminosa, e que as provas apresentad­as pelo MPF eram insuficien­tes.

“Foi como se tivesse caído uma bomba atômica na minha cabeça”, diz Paz, 69 anos, sobre o momento em que recebeu a notícia da condenação.

“De lá para cá, deitei numa cama e não saí mais”, afirma. “Não fui no médico nos últimos dois anos porque, para mim, tanto fazia viver ou morrer. Nunca imaginei que meu nome fosse rolar num nível tão baixo.”

O Instituto Inhotim, museu a céu aberto que ele abriu ao público em Brumadinho (MG) em 2006, também passou por maus bocados desde então.

Em janeiro passado, o rompimento de uma barragem de dejetos da mineradora Vale, no Córrego do Feijão, não atingiu o parque. Mas fez cair pela metade o número de visitantes de fevereiro em relação à média dos anos anteriores.

Antes disso, em 2018, um surto de febre amarela na região já tinha afastado turistas, fazendo com que o ano fechasse com um público 25% menor do que o do ano anterior.

A situação financeira do museu refletiu o cenário de crise.

Sua receita líquida caiu em um terço entre 2016 e 2018, e resultou em um aviso de “dúvida significat­iva quanto à capacidade de continuida­de operaciona­l do instituto”, repetido nos relatórios contábeis de 2017 e de 2018.

Desde o ano passado, porém, o Inhotim busca se reerguer. De um lado, criou um programa de gratuidade para a população da região, afetada pelo rompimento da barragem —cerca de 80% dos funcionári­os do museu moram ali. Conseguiu fechar o período com uma alta de cerca de 10 mil visitantes, ou 4% em relação ao ano anterior.

De outro, preparou uma série de novidades, entre elas um novo jardim e um templo de pedra do americano Robert Irwin, inaugurado em novembro passado. Este ano, abre um aguardado pavilhão dedicado a Yayoi Kusama, japonesa obcecada por bolinhas.

Em paralelo, Paz e o governo de Minas Gerais negociam um acordo de transferên­cia de 20 obras do acervo de Inhotim para o estado. O objetivo é quitar dívidas de ICMS das empresas de mineração do empresário, que se arrastam por mais de 25 anos.

O Ministério Público se manifestou contra o acordo, que ainda está em tramitação.

Paz diz que, por enquanto, não pretende voltar à presidênci­a do instituto, à qual renunciou semanas depois da condenação. Hoje, o posto é ocupado por Antonio Grassi.

“Sou fundador, criador e consultor do Inhotim”, diz o empresário. “Mas ainda estou muito abalado. Não sei o que quero.”

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