Folha de S.Paulo

‘Sonic’ leva clássico dos games às telonas

Ofensiva final da ditadura Assad sobre bastião ocupado por rebeldes e turcos leva a êxodo de 800 mil, afirma a ONU

- Igor Gielow

Exemplos de filmes inspirados em games começaram a se multiplica­r a partir dos anos 1990. Franquias como Mortal Kombat, Pokémon e Resident Evil (já nos anos 2000) são algumas das que conquistar­am Hollywood. “Sonic - O Filme”, que acaba de chegar ao circuito, é mais um representa­nte deste fenômeno.

O porco-espinho azul e ultrarrápi­do foi criado pela Sega para o Mega Drive em 1991 e chegou a também a plataforma­s como Nintendo e PlayStatio­n. Teve inclusive uma animação em 1996, com pouca repercussã­o fora do Japão.

Na trama, Sonic chega à Terra fugindo do terrível Dr. Robotnik (Jim Carrey), que pretende utilizar seus poderes para dominar o mundo. Para ajudá-lo a escapar, o alienígena se torna amigo de um policial (James Marsden), com quem vive divertidas aventuras.

são paulo A fase decisiva da guerra civil síria, disputada na província de Idlib, está provocando um dos maiores desastres humanitári­os desde o começo do conflito, em 2011.

A Organizaçã­o das Nações Unidas estimou nesta quinta (13) que 800 mil pessoas fugiram dos combates entre forças do governo sírio apoiadas pela Rússia e rebeldes aliados à Turquia no último bastião que se opõe à ditadura de Bashar al-Assad no país.

Já o Observatór­io Sírio dos Direitos Humanos, principal ONG de monitorame­nto de abusos na região, coloca o deslocamen­to interno de moradores na casa dos 980 mil —a maioria composta por mulheres e crianças.

Os embates começaram em dezembro, mas ganharam proporções mais dramáticas nas duas últimas semanas, quando o conflito civil se tornou uma disputa direta entre dois Estados, Turquia e Síria, com uma arriscada participaç­ão do Kremlin.

Idlib tem cerca de 3 milhões de habitantes. Cerca de 400 mil pessoas já haviam deixado a área em dezembro e janeiro rumo ao norte, junto à fronteira turca, mas o número vem crescendo exponencia­lmente. Segundo o Observatór­io, só de terça (11) a quinta foram 100 mil deslocados.

Não há estrutura suficiente, segundo a ONU, para abrigar todas as famílias, e muitas estão dormindo ao relento. O que leva a outro aspecto cruel: o inverno ora em vigor é rígido, com temperatur­as em torno de zero à noite, neve e chuva.

Nas redes sociais, abundam relatos de crianças pequenas que teriam morrido por hipotermia nos últimos dias, embora isso seja de difícil aferição precisa. Em Azaz, um campo de deslocados foi montado às pressas com tendas feitas com rejeitos e lixo.

O coordenado­r-adjunto da ONU na Síria, Mark Cutts, disse a agências de notícias que este é provavelme­nte o maior deslocamen­to interno da guerra —o país tinha aproximada­mente 23 milhões de habitantes antes do conflito.

Até aqui, havia 6,2 milhões dessas pessoas, além de 6,2 milhões de refugiados na região. A maioria, 3,3 milhões, está em campos montados no sul da Turquia.

Os turcos dizem querer estabelece­r uma região na Síria que possa receber de volta essas pessoas, o que parece inviável com o avanço da retomada de controle do país pelo regime de Assad.

Os deslocados fogem daquilo que pode ser a batalha final da guerra civil, que destroçou a economia do país árabe e matou entre 380 mil e 560 mil pessoas, dependendo da fonte da estimativa.

Pior: poderão ser vítimas desta nova etapa do conflito, que opõe Damasco a Ancara.

Desde dezembro, forças de Assad promovem uma campanha para reconquist­ar Idlib. Estão sendo bem-sucedidas, e na quarta (12) retomaram a vital rodovia M5, que liga norte e sul do país, após anos sob controle de rebeldes.

A ação ocorre com apoio da Força Aérea da Rússia, instalada numa base do país desde 2015, na intervençã­o do presidente Vladimir Putin que salvou o governo de seu aliado Assad —em solo, os combates são reforçados por Irã e pelo grupo xiita libanês Hizbullah.

O problema é que Idlib é considerad­a uma zona de “de escalada militar”, segundo acordo entre turcos e russos em 2018. No fim do ano passado, contudo, a Turquia invadiu o norte da Síria quando os americanos anunciaram que deixariam a região.

O objetivo do presidente Recep Tayyip Erdogan era o de isolar os curdos da região daqueles que moram na Turquia, que lutam uma disputa separatist­a violenta há décadas. Em um acordo com Putin, foi criado um bolsão em 160 km, mas os turcos também entraram em Idlib.

Lá, apoiam grupos rebeldes como a Frente Nusra, uma aliada jihadista da rede terrorista Al Qaeda, que é proscrita na Rússia. O conflito de interesses ficou claro e a guerra ameaça colocar Moscou e Ancara, que é membro da Otan (aliança militar do Ocidente), em confronto.

O avanço sírio levou a combates com forças turcas, que mataram até aqui 14 soldados de Erdogan. Houve retaliação com ataques aéreos, deixando centenas de mortos, e o presidente turco escalou a presença na região com mais mil militares e equipament­o pesado nesta semana.

O país tem 12 postos de observação na área, 4 deles em regiões que a Síria retomou.

Erdogan chegou ao paroxismo na quarta, quando acusou a Rússia de atacar alvos civis.

A relação entre os países é pendular, mas estava próxima devido ao afastament­o entre Ancara e Washington.

Erdogan não perdoa Donald Trump por não extraditar o acusado de armar um golpe de Estado contra si em 2016 e até comprou sistemas de armas russos, sendo retaliado pelo americano.

Mas a retórica do turco encontrou um limite. Nesta quinta (13), o Kremlin classifico­u de inaceitáve­is as acusações de Erdogan, com quem Putin havia conversado pessoalmen­te na véspera.

Ato contínuo, o ministro da Defesa da Turquia, Hulusi Akar, baixou o tom e disse que a presença militar de seu país só visa manter um cessarfogo combinado com Moscou e que “a força será usada contra quem violar a trégua, incluindo radicais” —ou seja, seus aliados árabes rebeldes.

A extensão do recuo turco ainda precisa ser provada. Na semana passada, Erdogan havia sugerido que poderia bombardear até a capital do vizinho, caso suas forças fossem alvo de mais ataques.

Assim, causou apreensão na noite de quinta um relato da TV estatal síria de que as defesas aéreas de Damasco haviam abatido mísseis disparados em sua direção.

Eles eram, contudo, oriundos de seu inimigo a oeste, Israel, que vem atacando sistematic­amente alvos do Irã e do Hizbullah no país árabe.

A Síria ainda está tecnicamen­te em guerra com Israel, e tanto Teerã quanto a milícia xiita são seus inimigos declarados. Assim, Tel Aviv busca evitar o estabeleci­mento de novas frentes potenciais perto de suas fronteiras.

Ao mesmo tempo, o Estado judeu tem um acordo para evitar escaramuça­s com forças russas na região.

Este é um exemplo do intrincado tecido político sobre os escombros da guerra.

Outro foi um incidente ocorrido num posto de controle em Hasakah (norte), no qual sírios atacaram um comboio remanescen­te de forças dos EUA nesta quarta.

Os americanos então mataram um garoto de 14 anos. Forças russas na região tiveram de intervir, segundo o Ministério da Defesa em Moscou, evitando a escalada da situação.

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Divulgação James Marsden ao lado de Sonic
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Fotos Khalil Ashawi/Reuters Crianças e suas famílias que tiveram de fugir de casa devido à ofensiva do governo da Síria em Idlib enfrentam a neve no campo improvisad­o de Azaz, cidade ao norte de Alepo, junto à fronteira com a Turquia
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