Uefa tenta mostrar que fair play financeiro não é só faz de conta
Desde a elaboração das regras do fair play financeiro, em 2009, a Uefa vive com o estigma de que a sua legislação de controle é um faz de conta, válida para os clubes pobres e ignorada pelos ricos.
Se mantidos, o banimento do Manchester City da Champions League por duas temporadas e a multa de R$ 140 milhões serão a punição mais pesada imposta pela entidade a um grande clube europeu desde que times ingleses foram suspensos por cinco anos após a tragédia de Heysel, em 1985 —quando, antes da final da Copa da Europa (hoje Champions League) contra a Juventus, na Bélgica, torcedores do Liverpool provocaram a morte de 39 pessoas.
Parte da percepção de impunidade existe por causa de clubes como Manchester City e Paris Saint-Germain, que antes eram de porte médio (no caso do City, nem isso), mas foram comprados e transformados em forças continentais da noite para o dia graças a contratações milionárias.
Na última década, nenhum time da Europa gastou tanto em novos jogadores quanto o City. Foram R$ 8,5 bilhões. A equipe foi comprada em 2008 pelo xeque Mansour bin Zayed Al Nahyan, integrante da família real dos Emirados Árabes.
A percepção de não ser uma legislação para valer ficou mais forte em 2018, quando vazaram emails de Gianni Infantino, secretário-geral da Uefa na época das mensagens e hoje presidente da Fifa, para Khaldoo Al Mubarak, mandatário do City, o tranquilizando sobre uma investigação da entidade e explicando como poderia escapar do fair play.
A punição ao City, que teria mascarado dinheiro pago pela família real dos Emirados Árabes como patrocínio da companhia aérea Etihad, é o último movimento de punições a clubes por não respeitarem o fair play financeiro. Algo que atingiu o Milan (sete vezes campeão da Champions League) no ano passado.
Por irregularidade nas contas, o clube fez acordo com a Uefa para não disputar a Liga Europa nesta temporada.
Em 2018, o Panathinaikos (GRE) foi banido por três anos por não pagar seus débitos. O Sion (SUI) recebeu dois anos de pena por calote de R$ 4,5 milhões no Sochaux (FRA).
A maior punição dos últimos anos foi dada ao Skenderbeu, principal clube da Albânia, banido por dez anos por participar de um esquema de acerto de resultados.
A não ser por Manchester City e Milan, os outros suspensos não podem ser considerados grandes no continente, mas a Uefa quer endurecer também pelo fator político.
Os cartolas sentem que cada vez mais clubes beneficiados pelo dinheiro do petróleo árabe, como o atual campeão inglês e o PSG, tentam cooptar outros grandes para criar uma Superliga europeia, deixando de lado a Champions League. Um dos articuladores dessa proposta é Ferran Soriano, diretor-executivo do City.