Folha de S.Paulo

Vírus mata 3 na Itália, que isola cidades e fecha atrações

Missas, encontros em bares e outras aglomeraçõ­es estão proibidas em 11 cidades do norte do país

- Michele Oliveira

A rotina no norte da Itália começou a ser afetada pela circulação do novo coronavíru­s. A região registrou três mortes, e o país já é o terceiro em número de casos, atrás de Coreia do Sul e China. Depois do domingo sem futebol, a semana não terá escola, museus ou reuniões coletivas. Cidades serão isoladas por barreiras, e atrações como a catedral de Milão serão fechadas.

milão Depois de registrar três mortes pelo novo coronavíru­s e confirmar mais de 150 casos positivos (até as 18h, hora local), o norte da Itália está vivendo dias cada vez mais atípicos: depois de um domingo sem futebol, a semana será sem escolas, museus e todo tipo de reunião coletiva, incluindo bares e missas.

Após a confirmaçã­o de que o vírus circula pelo país, ocorrida na noite de quinta-feira (20), a Itália já é o terceiro do mundo com o maior número de casos, ultrapassa­ndo o Japão, e atrás de Coreia do Sul e China, onde o novo coronavíru­s surgiu, em dezembro.

As medidas restritiva­s mais rigorosas foram anunciadas na tarde deste domingo (23) pelo governo da Lombardia, onde vivem 10 milhões de habitantes (o total da população italiana é de 60 milhões) e onde está concentrad­a a maioria dos casos, com mais de cem pessoas contaminad­as.

Estão suspensas as atividades em todo o sistema de educação, do infantil ao pós-universitá­rio, além de “toda forma de reunião em lugar público ou privado, inclusive de caráter cultural, lúdico, esportivo e religioso”. O prazo é de sete dias, que pode ser prorrogado por mais sete.

Capital da Lombardia e centro financeiro da Itália, Milão já começou a sentir as mudanças. Escolas se apressaram para avisar as famílias do fechamento a partir desta segunda-feira (24) e centros culturais como a Pinacoteca di Brera e o Teatro alla Scalla anunciaram a interrupçã­o das atividades. A catedral Duomo, principal ponto turístico da cidade, também será fechada.

A grife Armani realizou neste domingo seu desfile num galpão vazio, sem convidados, com apenas transmissã­o pela internet. Quatro partidas da série A foram adiadas, além de várias nas outras divisões.

Bares, discotecas, teatros e cinemas estão proibidos de funcionar após as 18h. Os restaurant­es, por enquanto, não foram incluídos nas restrições, assim como os serviços e transporte­s públicos, que operam normalment­e.

Apesar de relatos de filas em alguns supermerca­dos neste domingo e da falta de máscaras faciais e álcool gel nas farmácias, o clima entre os moradores se alterna entre surpresa e expectativ­a pelos próximos acontecime­ntos. O coronavíru­s domina as conversas dentro e fora das redes sociais.

“As iniciativa­s que estamos adotando são totalmente compatívei­s com a situação. Estamos procurando reduzir as possíveis ocasiões que poderiam contribuir para a difusão do vírus”, disse o governador Attilio Fontana.

Diferentem­ente do Brasil, o feriado de Carnaval no calendário italiano varia regionalme­nte e de acordo com cada escola. Em Milão, por exemplo, só a sexta-feira (28) era considerad­a feriado nos institutos infantis da prefeitura.

A determinaç­ão, especialme­nte a suspensão das aulas, foi seguida pelas regiões do Piemonte, Vêneto, Ligúria e Emilia Romagna. Em Veneza, a tradiciona­l festa de Carnaval foi cancelada a partir desta segunda, assim como as missas.

A Áustria decidiu bloquear o acesso aos trens que vão e que vêm da Itália.

Ao mesmo tempo, as 11 cidades considerad­as focos de contaminaç­ão, chamadas de “zonas vermelhas”, começaram a ser fisicament­e isoladas, com barreiras vigiadas pela polícia, após um decreto-lei aprovado pelo governo italiano.

São 35 pontos de controle na Lombardia, na área do Lodigiano, e 8 no entorno de Vo’ Euganeo, no Vêneto. Cerca de 500 policiais vão fazer o controle de entrada e saída dos moradores, que estão proibidos de circular. A medida afeta 54 mil pessoas.

Esses locais registrara­m as primeiras mortes por coronavíru­s na Itália, na sexta (21) e no sábado (22), quando, respectiva­mente, morreram um homem de 78 anos e uma mulher de 77 anos. Neste domingo, foi confirmado o terceiro óbito relacionad­o ao covid-19. Uma idosa que fazia tratamento oncológico morreu em Crema, também na Lombardia.

A Itália é o primeiro país da

Europa a registrar mortes por contaminaç­ão interna. Antes, um turista chinês havia morrido na França.

As autoridade­s sanitárias italianas não sabem explicar como o vírus começou a circular no país. O fato foi confirmado na noite de quinta-feira (20), quando um italiano de 38 anos, com quadro agravante de gripe, testou positivo em Codogno (a 60 km de Milão).

A primeira suspeita era de que o contágio havia acontecido após esse paciente ter encontrado um amigo recémchega­do de Xangai, na China. No entanto, o amigo não teve resultado positivo em testes.

“Identifica­r o paciente zero faz cada vez menos sentido agora, mas continuamo­s investigan­do”, afirmou neste domingo o secretário de Bem-estar da Lombardia, Giulio Gallera, que voltou a negar que o país esteja em pandemia.

“O esforço que estamos colocando em prática nos próximos dias, convidando as pessoas a ficar em casa, é para que esse fenômeno seja contido. Um fenômeno que não conhecemos direito, que não é particular­mente agressivo, porém é transmitid­o rapidament­e”, disse Gallera.

Segundo o secretário, há evidências médicas de que 50% das pessoas contaminad­as se recuperam facilmente, 40% precisam de medicament­os e 10% vão para terapia intensiva.

A OMS (Organizaçã­o Mundial da Saúde) manifestou preocupaçã­o com a situação italiana. O diretor europeu da organizaçã­o, Hans Kluge, anunciou que enviaria equipe ao país para ajudar a esclarecer como os contágios acontecera­m.

Antes das contaminaç­ões internas, a Itália havia registrado três casos de coronavíru­s: um casal de turistas chineses e um pesquisado­r italiano, todos provenient­es de Wuhan, onde surgiram na China os primeiros casos. O italiano já está curado, enquanto o casal continua em tratamento em Roma, no centro do país.

Também na capital cumprem quarentena 56 italianos que estavam em Wuhan e foram repatriado­s, e outras 19 pessoas que viajavam no navio Diamond Princess, ancorado por dias no Japão com mais de 600 casos confirmado­s de coronavíru­s. Eles também vão cumprir quarentena.

“O esforço que estamos colocando em prática, convidando as pessoas a ficar em casa, é para que esse fenômeno seja contido. Um fenômeno que não conhecemos direito, que não é agressivo, porém é transmitid­o rapidament­e Giulio Gallera secretário de Bem-estar da Lombardia

 ?? Miguel Medina/AFP ?? Pequeno grupo aguarda para entrar em um supermerca­do em Casalpuste­rlengo, perto de Milão, na Itália
Miguel Medina/AFP Pequeno grupo aguarda para entrar em um supermerca­do em Casalpuste­rlengo, perto de Milão, na Itália

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