Folha de S.Paulo

Homicídios no CE quadruplic­am com motim de policiais

São, em média, 30,5 mortes por dia; Exército começou a atuar neste domingo

- Marcel Rizzo

Nos quatro primeiros dias da paralisaçã­o de parte dos policiais militares do Ceará, de quarta a sábado, a média de homicídios chegou a 30,5. O número quase quadruplic­a o índice registrado em janeiro. As Forças Armadas começaram a policiar o estado ontem.

fortaleza O número de homicídios no Ceará chegou a 122, em uma média de 30,5 por dia, nos quatro dias de paralisaçã­o de parte dos policiais militares. O sábado (22) de Carnaval teve 34 assassinat­os. Na quarta-feira, foram 29, na quinta, 22, e, na sexta, o número chegou a 37.

O mês todo de janeiro teve 261 homicídios, uma média de pouco mais de oito por dia. Em fevereiro de 2019, foram 164 homicídios, uma média de menos de seis por dia —em 2020, já são 286 no mesmo mês. Na segunda-feira (17) antes do início da paralisaçã­o, houve três homicídios e, na terça (18), dia em que os policiais começaram a parar no início da noite, foram cinco.

Na tarde de sábado, na cidade de Aracati (a 150 km de Fortaleza), um policial militar foi preso acusado de matar um homem de 21 anos. Aracati tem uma das mais conhecidas festas de Carnaval do Ceará e chegou a contratar agentes privados para fazer a segurança dos foliões.

Em Beberibe, a 80 km da capital, os corpos de um homem de 39 anos e de sua filha de 1 ano e 11 meses foram encontrado­s na casa da vítima. A polícia informou que havia marcas de tiros nos dois.

O governo federal enviou ao Ceará, após pedido do governador, Camilo Santana (PT), agentes da Força Nacional e do Exército para ajudar no policiamen­to ostensivo nas ruas.

São 2.500 homens do Exército que começaram a atuar efetivamen­te neste domingo (23) —os 150 agentes da Força Nacional começaram a chegar ao estado na última quinta-feira (20).

Na terça (18), o governo enviou à Assembleia o projeto de lei com o aumento da remuneraçã­o dos soldados da PM e Bombeiros de R$ 3.400 para R$ 4.500, parcelado em três vezes (pagamentos em março de 2020, março de 2021 e março de 2022).

Parte dos profission­ais não concordou e, na mesma noite, as paralisaçõ­es começaram — eles querem receber tudo de uma vez e demandam também a criação de um plano de carreira para a categoria.

Santana afirmou que está fora de cogitação anistiar os profission­ais que forem identifica­dos participan­do do motim —167 policiais militares suspeitos de integrarem o movimento foram afastados das funções e terão que devolver armas, algemas e distintivo­s. Também estarão fora da folha salarial no período.

Outros 77 foram considerad­os desertores por não aparecerem para trabalhar em operação especial do Carnaval em cidades do interior.

Na quarta (20), os protestos chegaram ao cenário nacional, depois que o senador licenciado Cid Gomes (PDTCE) levou dois tiros ao tentar invadir dirigindo uma retroescav­adeira o quartel tomado em Sobral (a 270 km de Fortaleza), sua base eleitoral. Ele recebeu alta na manhã deste domingo (23).

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Jarbas de Oliveira/AFP Soldados fazem policiamen­to nas ruas de Fortaleza, durante paralisaçã­o de policiais militares; 122 pessoas já morreram no estado durante o motim

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