Folha de S.Paulo

A vez do augusto-helenismo

- Vinicius Mota

são paulo Na Antiguidad­e, os romanos, que legariam os seus augustos, foram coveiros impiedosos do império macedônico, difusor da cultura grega, ou helênica, do norte da África até a Índia. No Brasil de hoje, Augusto Heleno, general da reserva, tornou-se um dos assessores mais influentes do presidente da República.

O augusto-helenismo que avança no Planalto Central está para o olavismo como as legiões do passado estiveram para os déspotas orientais que quiseram retomar os feitos de Alexandre. Vai varrendo do mapa os representa­ntes da chamada ala ideológica, que costumávam­os chamar de aloprada até conhecermo­s melhor o apito que toca o general.

O correr da luta sugere que na verdade o que está em disputa é o monopólio do fornecimen­to de teorias conspirató­rias e conselhos estapafúrd­ios ao Palácio do Planalto. Pelejam de um lado o noviciado místico da Virgínia e, do outro, a velha escola verde-oliva. Com o predomínio da segunda, não deixa de haver um ciclo de substituiç­ão de importaçõe­s.

A efígie do ministro encarregad­o, veja só, da segurança institucio­nal aparece em convocação de protestos que, nos Idos de Março, pretendem enxovalhar duas instituiçõ­es nodais do regime, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal. Ao fundo está o Parlamento; no destaque, o palavrão que o premiado oficial destinou a seus ocupantes, após chamá-los de chantagist­as.

Sob o augusto-helenismo, a Marinha descobriu um jeito de dar inveja a Arno Augustin, o mago de Dilma Rousseff, de torrar dinheiro do contribuin­te sem que isso conte para o teto das despesas federais. O loteamento de postos estatais muito bem remunerado­s a militares desestimul­a seu pendor pelas privatizaç­ões, que nunca foi lá essas coisas.

Só que agora o expansioni­smo da nova força palaciana vai encontrand­o os seus limites. Arrisca deitar por terra o fiapo de controle sobre o Orçamento que o Executivo ainda tem. Provoca tumultos nas ruas e incertezas de governança, o que deprime as expectativ­as sobre a economia.

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