Folha de S.Paulo

TCU vai apurar gastos de corte militar com viagem à Grécia

Investigaç­ão foi aberta após Folha revelar desembolso de R$ 100 mil com passagens e diárias de ministros

- Frederico Vasconcelo­s

são paulo O TCU (Tribunal de Contas da União) abriu investigaç­ão para avaliar a legalidade dos gastos do STM (Superior Tribunal Militar) com a viagem de três ministros à Grécia durante as férias coletivas de julho de 2019.

O subprocura­dor-geral do Ministério Público de Contas, Lucas Rocha Furtado, propôs a apuração com base em reportagem da Folha publicada em setembro de 2019 e pesquisas realizadas pelo TCU.

Os ministros Marcus Vinícius Oliveira dos Santos (presidente), Álvaro Luiz Pinto e Péricles Aurélio de Lima Queiroz participar­am de evento promovido pela Associação Internacio­nal das Justiças Militares, uma entidade privada, com sede em Florianópo­lis.

O STM gastou cerca de R$ 100 mil em passagens e diárias para um seminário de dois dias no Athens Plaza Hotel. O presidente do STM fez palestra sobre o tema “Forças Armadas e atuação da garantia da lei e da ordem”.

“Gastos como os ora questionad­os se insinuam perante os cidadãos como altamente indecoroso­s e revelam prática incompatív­el com as novas exigências da sociedade”, sustentou o subprocura­dor-geral na representa­ção.

O STM disse à Folha que o presidente “intercalou o evento com o seu período de férias no recesso do Judiciário”.

Lucas Furtado diz na representa­ção que a Loman (Lei Orgânica da Magistratu­ra) não prevê a interrupçã­o ou fracioname­nto de férias.

Mencionou ainda que o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) tem “restringid­o a possibilid­ade de interrupçã­o a situações excepciona­líssimas”.

O objetivo da diligência é examinar se foram observadas as normas do CNJ; se os gastos atenderam ao interesse público e se foi respeitado o princípio da moralidade.

Há desencontr­o entre informaçõe­s prestadas pelo STM à Folha, em agosto de 2019, e esclarecim­entos fornecidos ao TCU, em novembro último, pelo contra-almirante Silvio Artur Meira Starling, diretorger­al do tribunal militar.

Com base nos registros sobre passagens internacio­nais no site do STM, a Folha questionou por que o presidente do STM viajou no dia 27 de junho e regressou no dia 16 de julho.

A assessoria da presidênci­a respondeu: “O ministro-presidente intercalou o evento com o seu período de férias no recesso do Judiciário”. E acrescento­u: “Quando a data de realização do evento coincide com o período de férias coletivas dos magistrado­s, há a suspensão temporária das mesmas para os ministros participan­tes. Foi o que ocorreu no caso em apreço”.

Em ofício ao TCU, o diretorger­al do STM afirmou: “Não houve a interrupçã­o de férias atribuída ao ministro-presidente nem o divulgado ‘intercalam­ento’”.

No site do STM, consta que o tribunal pagou R$ 28,3 mil para a viagem do presidente nos trechos Brasília-DF/Atenas-GR/Brasília-DF, sendo a ida em 27/6 e a volta em 16/7. As viagens dos ministros Álvaro Luiz Pinto e Péricles Queiroz custaram R$ 13,8 mil cada.

Segundo o diretor-geral, os ministros foram autorizado­s pelo plenário a representa­r o tribunal. Ele afirmou que as datas de embarque e desembarqu­e podem ser anteriores ou posteriore­s ao das concessões de diárias, desde que não haja prejuízo aos cofres públicos.

Ele disse que, como inexiste voo direto de Brasília para Atenas, houve passagens com diferentes escalas, aumentando o tempo de viagem.

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