Folha de S.Paulo

Sem retirar balas do corpo, Cid deixa hospital

- Marcel Rizzo

fortaleza O senador licenciado Cid Gomes (PDT-CE) recebeu alta na manhã deste domingo (23). Ele estava internado desde quarta (19) após receber dois tiros quando tentou entrar em um batalhão com PMs amotinados em Sobral (a 270 km de Fortaleza), seu berço político, dirigindo uma retroescav­adeira.

Ele ficará nos próximos dias em Fortaleza e continuará o processo de reabilitaç­ão, com fisioterap­ia respiratór­ia e antibiótic­os para restabelec­imento da função pulmonar.

No sábado (22), Cid Gomes passou por um exame de raio-x que constatou a presença de dois projéteis alojados em seu corpo, um próximo à costela e outro no pulmão esquerdo, além de fragmento de um projétil. Por orientação médica ele não vai retirar esses projéteis.

O senador foi internado inicialmen­te no Hospital do Coração, em Sobral, onde passou pelos primeiros procedimen­tos, como drenagem de líquido do pulmão atingido —na quinta (20) ele foi transferid­o para um hospital particular de Fortaleza.

Inicialmen­te a informação era de que um dos projéteis havia saído do corpo de Cid após atingir o senador, mas o raio-x realizado no sábado constatou a presença desse segundo projétil. O exame foi pedido pela família para encerrar boatos divulgados em redes sociais de que ele poderia ter sido atingido por balas de borracha.

Cid Gomes está licenciado do Senado desde dezembro de 2019 para articular no Ceará alianças e candidatos do PDT para a eleição municipal —ele assumiu a presidênci­a estadual do partido.

Desde a noite de terça (18), o Ceará tem batalhões tomados por PMs e familiares que protestam contra o reajuste salarial oferecido pelo estado.

Ao menos nove quartéis estão sob o comando dos manifestan­tes, que cortaram ou esvaziaram pneus de viaturas e motos. O governo decidiu suspender 167 policiais que estão sendo investigad­os por participaç­ão no motim —eles sairão da folha salarial pelo período.

O governo federal autorizou o envio de agentes da Força Nacional e do Exército para ajudar no patrulhame­nto das ruas de Fortaleza e da região metropolit­ana. Policiais civis e a guarda municipal também estão fazendo esse policiamen­to ostensivo, além de PMs que não aderiram aos protestos.

A Justiça indeferiu pedido do Ministério Público do Ceará para multar em R$ 1 milhão e bloquear as contas de cinco associaçõe­s ligadas a policiais militares no estado. Os promotores entendem que há participaç­ão desses grupos nas manifestaç­ões, o que todas negam.

A juíza Cleiriane Lima Frota escreveu que não há provas da participaç­ão das associaçõe­s nas paralisaçõ­es e que bloquear as contas poderia decretar o fim das mesmas.

Ela manteve, entretanto, a proibição de que elas se reúnam para promover protestos ou greves, como já havia decidido na segunda (17). A multa diária caso haja o descumprim­ento é de R$ 500 mil. Também está mantida decisão do governador Camilo Santana (PT) de retirar o desconto do pagamento em folha a essas associaçõe­s.

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Fotos Klaus Richmond/Folhapress

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