Candidatos linha dura vencem no Irã em eleições parlamentares esvaziadas
Aiatolá culpa ‘propaganda inimiga’ sobre coronavírus por menor comparecimento desde 1979
dubai | reuters Os resultados finais das eleições parlamentares iranianas, anunciados neste domingo (23) pelo Ministério do Interior, mostraram vitória dos candidatos linha dura próximos ao líder supremo Ali Khamenei, responsável pela última palavra em todas as questões estatais do país.
O comparecimento às urnas foi de 42%, o menor desde a Revolução Islâmica de 1979. O aiatolá, que na sexta (21) disse que vota rera“um dever religioso ”, culpou abaixa part ici paçãoà“propag anda negativas obre o novo coronavírus espalhada por inimigos do Irã ”, sem especificar quem seriam eles.
O Irã confirmou seu primeiro caso de coronavírus dois dias antes daseleições— atéagora, há 43 pessoas infectadas pelo vírus e oito mortes. O país tem o maior número de óbitos fora da China, epicentro do surto.
Em Teerã, candidatos linha dura ganharam 30 assentos, com o ex-comandante da Guarda Revolucionária do Irã Mohammad Bagher Qalibaf encabeçando alista.
As credenciais de Qalibaf, veterano de guerra e chefe de polícia nacional, fez com que ele caísse nas graças do líder supremo, o que aumenta suas chances de se tornar o próximo presidente do Parlamento.
Durante a campanha, o Conselho dos Guardiões, que aprova quem pode concorrer, barrou milhares de candidatos moderados e conservadores em favor de nomes mais extremistas. Foram 6.850 removidos, de um total de 14 mil.
A participação na votação é vista como um referendo sobre a popularidade do governo do país persa, que enfrenta isolamento crescente e ameaças de conflito com os EUA, além de grande descontentamento interno devido à queda acidental de um avião comercial durante a reação à morte do general Qassem Suleimani.
A participação de 42,57% contrasta com os índices anteriores. Em 2016, a participação foi de 62%, enquanto 66% dos eleitores votaram em 2012.
O Legislativo não tem grande influência nos assuntos externos ou na política nuclear do Irã, que são determinados por Khamenei. Mas a vitória de nomes linha dura pode fortalecer os radicais nas eleições para presidente de 2021.
A retirada dos EUA do acordo nuclear do Irã em 2018 e a reimposição de sanções afetaram fortemente a economia do país, muito dependente de exportações de petróleo.
No final de 2019, uma série de protestos em resposta ao aumento do preço dos combustíveis, à piora do padrão de vida e ao aumento da corrupção e da desigualdade social deixou mais de cem mortos, segundo levantamento do Anistia Internacional.
Em janeiro, os EUA mataram o general iraniano Qassem Suleimani, considerado a segunda pessoa mais poderosa do país, atrás apenas do aiatolá, em um ataque com drone em Bagdá, o que levou o Irã a retaliar, com o disparo de mísseis contra bases militares com militares americanos no Iraque.
Na mesma noite do contraataque, o Irã derrubou, por engano, um avião da Ukranian Airlines, matando as 176 pessoas a bordo. Inicialmente, Teerã afirmou que a aeronave havia caído por falha técnica, mas depois de três dias e de pressão da comunidade internacional o governo confessou ter confundido a aeronave com um ataque americano.
O erro gerou uma nova onda de protestos, colocando parte da população contra o aiatolá.