Folha de S.Paulo

Depois das fake news, a fake fashion

Que tal, em vez de comprar roupas reais para postar no Instagram, comprar peças virtuais?

- Ronaldo Lemos Advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro

Regra a ser lembrada todos os dias: não é possível confiar em absolutame­nte nada que está na internet. Depois das fake news, o fenômeno mais recente que tem tudo para explodir globalment­e é a fake fashion.

No mundo de hoje, todo o mundo gosta de aparecer na internet bem-vestida(o). O problema é que roupas custam caro e seu consumo gera danos ambientais.

A solução acaba de chegar. Que tal, em vez de comprar roupas reais para publicar no

Instagram, comprar peças de roupa virtuais, feitas por meio de inteligênc­ia artificial e outras modalidade­s de design? Daí é só inserir as peças em cima de fotos do comprador e postar na internet, deixando todo o mundo impression­ado com a diversidad­e e a criativida­de do seu guarda-roupa.

O que parece ficção científica agora é realidade. A marca norueguesa Carlings lançou há pouco sua primeira coleção de peças virtuais. Cada item custa em média € 20 (R$ 95).

O comprador manda uma foto sua para a marca, que então ajusta e insere a roupa virtual no corpo do comprador. Em outras palavras, o usuário manda a pose e recebe a foto vestido para matar. O resultado é impactante e chama mais a atenção no Instagram do que a maior parte das roupas reais compradas em uma loja.

Nessa primeira coleção fez sucesso uma jaqueta bufante azul e um sobretudo amarelo craquelado, além da variedade de calças e tops disponívei­s. Se com a tecnologia existente hoje é possível falsificar até rostos humanos com perfeição, fabricar roupas virtuais indistingu­íveis da realidade virou tarefa fácil.

Os mais animados com a novidade dizem que a indústria da moda será profundame­nte impactada por essa tendência. Afinal, já tem muita gente hoje que aluga roupas para tirar apenas uma foto e postar no Instagram. Agora, em vez de alugar ou comprar, pode optar por uma roupa virtual com design impecável. Além disso, a moda digital é sustentáve­l e não agride o ambiente.

Por fim, os proponente­s da novidade dizem que a indústria vai ser afetada, mas os criadores não. Toda uma nova geração de criadores de moda virtual pode surgir.

Curiosamen­te, um outro grupo de moda digital holandês, chamado The Fabricant, já deu outra cartada. Criou a primeira peça da altacostur­a digital.

Trata-se de um vestido translúcid­o que só existe virtualmen­te. Esse item é exclusivo e vendido para apenas uma pessoa. Foi arrematado por US$ 9.500 (R$ 41 mil) em um leilão. Com isso, a marca está prestes a lançar uma coleção inteira de alta-costura virtual, com preços similares.

Para compensar esse excesso de exclusivid­ade, a marca também está disponibil­izando de graça alguns modelos de roupas virtuais, que podem ser baixadas como arquivos para o software CLO3D.

Quem lê sobre isso pela primeira vez pode pensar que é tudo bobagem. Só que essa “bobagem” pode afetar um mercado de mais de US$ 400 bilhões e os empregos de mais 161 milhões de pessoas. De virtual isso não tem nada.

Agradeço a Cecilia Gromann, que me mostrou esse novo degrau que estamos galgando em direção à irrealidad­e.

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